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COMPORTAMENTO
Procura por cursos de defesa pessoal cresce, mas polícia recomenda não reagir a assaltos, pois o risco é elevado
Mulheres saem da defensiva contra homens "abusados"
ALESSANDRA KORMANN
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
Unhas e salto alto são "armas"
do passado. A mulher usa técnicas de artes marciais e boxe ou
simplesmente solta a raiva para se
livrar de homens inconvenientes,
detonar um namorado traíra e até
botar um assaltante para correr.
Na semana retrasada, a massoterapeuta Ana Cláudia Rufino, 32,
ganhou fama ao surrar um assaltante, que acabou preso. "Estava
indo para casa fazer uma sopinha
gostosa e aí vem um indivíduo
desses e estraga o meu dia. Pensei
até em mordê-lo", afirma Ana
Cláudia, faixa verde no judô
(quinta faixa, a preta é a oitava).
Era com mordidas que Ana,
criança, resolvia suas brigas na escola. Aos 11, fez judô escondida.
Adulta, treinou por quatro anos,
pois "mulher tem que aprender a
se defender sozinha".
A idéia leva cada vez mais mulheres a cursos de defesa pessoal.
Em academias como Runner, Bio
Ritmo e Fórmula, a procura subiu
20% em dois anos. A judô e caratê
somam-se boxe, capoeira, jiu-jítsu, kung fu, muay thai (boxe tailandês) e mais dez modalidades.
Mudaram os tempos ou as mulheres? Ambos. "As mulheres estão mais fortes, decididas. Os homens devem começar a se preocupar com isso", acha a corretora
de Uberlândia (MG) Cristina
Martins Maria, 20, capoeirista
desde os nove anos. Cristina, que
chegou a São Paulo no fim de
2002 para fazer exames de piloto
da Força Aérea Brasileira, reagiu a
dois assaltos. Em um deles, ganhou um ferimento na cabeça. Os
dois ladrões foram presos.
A maior parte das interessadas
em lutas não quer enfrentar o ladrão armado -ainda bem. A cada dez pessoas que reagem a assaltos, diz a Polícia Militar, nove
morrem ou ficam com sequelas
gravíssimas. "Elas querem se defender do assédio de caras folgados e estupradores", diz o personal trainer Marcelo Calegari, 36,
da academia Fórmula.
"Não vou reagir a um assalto e
até tolero papo-furado, mas não
venha me tocando sem me conhecer", avisa a advogada Simone
Jardim, 30, 1,65 m e 56 kg.
Há um ano, treina boxe e jiu-jítsu contra "folgados e atrevidos".
Em 2002, em Florianópolis, deu
uma surra num inconveniente.
"No começo, tive paciência com o
"papagaiol". Até ele me segurar
com força", conta. "Dei uma cotovelada no rosto que o deixou
bambo. Engatei mais de dez socos
que fizeram o nariz dele sangrar.
Parei porque me seguraram."
Quem trabalha à noite vive mais
batalhas físicas. A empresária Flávia Ceccato, 31, dona do Lov.e, já
pôs para fora da casa noturna, a
tapa, mais de dez clientes atrevidos. "Aviso a segurança para não
se meter, só em último caso."
Nara Túlia, 37, dona de uma importadora de gravatas, viveu uma
relação agitada. Em oito anos, namorou, foi traída, terminou e se
mudou para Londres, onde se casou com um belga. Um ano depois, ele foi atrás dela, e voltaram
ao Brasil -foi novamente traída.
"Destruí a casa dele, rasguei documentos e passagens aéreas, risquei todo o carro, cortei os pneus.
Só não botei fogo porque era sobrado geminado", lembra.
Amor demais
O ciúme é o gatilho em 57% das
agressões entre casais, segundo
pesquisa com universitários de 40
países, coordenada no Brasil pela
professora Tânia Aldrighi, da Faculdade de Psicologia do Mackenzie. No Brasil, o estudo indicou
que 20% dos homens agrediam física e psicologicamente as namoradas, contra 10% das mulheres
-número baixo, afirma Tânia.
"É difícil o homem reconhecer
que é agredido. Significa não saber conduzir sua masculinidade."
Em outro estudo, do Programa
de Investigação Epidemiológica
da Violência Familiar da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj), com mulheres que deram
à luz no Rio em hospitais públicos, 30,6% afirmaram ter agredido o parceiro na gestação e 18,2%
disseram ter sido agredidas.
Para o sociólogo Murray Straus,
diretor do Laboratório de Pesquisa da Família da Universidade de
New Hampshire (EUA), desde 75
estudioso do tema, a violência
masculina cai com campanhas feministas, mas o inverso não ocorre. Segundo seus estudos, 12% das
norte-americanas atacam o companheiro no primeiro ano do casamento e 30% nos anos seguintes. "Precisamos de igual esforço
para que o homem denuncie e
processe a violência da mulher."
A tese de que mulher é sexo frágil não deve mais ser levada a sério a julgar pela história da "master piercer" (que coloca piercing)
Cláudia Zuba, 33, que há cinco
meses parou a rua Teodoro Sampaio, em São Paulo. Por causa de
um carro importado que passou
no vermelho. "Levei um susto.
Buzinei, xinguei: "Você está cego.
Está fechado para você, louco!'"
Acabou sendo seguida, fechada
e agredida com um tapa na cara.
"Me deu uma tremedeira, uma
raiva. Saí voando do carro, segurei o fulano pelo colarinho e o soquei até cair", lembra Cláudia,
que lutou caratê dos 15 aos 19.
O avanço das "mulheres duronas" pode ser notado com a segurança feminina. Só na Pires Serviços de Segurança, uma das maiores do país, a procura pelas agentes cresceu 30% em dois anos.
Mas não se pode glorificar a violência feminina. "A glorificação é
efeito colateral desastroso da tendência de maior igualdade entre
homens e mulheres", diz Straus.
Wânia Pasinatom, da USP, faz
coro. "A mulher é muito inteligente para precisar da força."
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