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Ministério da Saúde vai criar projeto para tratar vício no SUS
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O Ministério da Saúde planeja criar um projeto nacional de
prevenção e combate ao consumo de crack, que vem crescendo, segundo o Comitê Assessor
para a Política de Álcool e Outras Drogas do órgão, que decidiu em março iniciar um estudo para tratar o vício no SUS.
Segundo o ministério, entre
as drogas ilícitas, o crack e a cocaína são consideradas prioritárias, devido a sua relação com
a criminalidade e às fortes reações durante as síndromes de
abstinência dos usuários.
Um projeto-piloto já começou a ser elaborado pela Secretaria da Saúde do Rio Grande
do Sul, que vai incluir a ampliação de leitos psiquiátricos em
hospitais gerais, implantação
de CAPSad (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras
Drogas), políticas de redutores
de danos e outras atividades.
Embora não haja pesquisas
somente para crack, nos hospitais psiquiátricos, segundo o
ministério, 18% das internações têm relação com o consumo de álcool e de outras drogas.
Outra iniciativa é a implantação de equipes do programa
Saúde da Família habilitadas a
lidar com o vício de drogas.
No Rio Grande do Sul, o consumo de crack se estabeleceu
nos últimos três anos como
pior problema de saúde pública
do Estado. Autoridades estimam que o número de gaúchos
dependentes da droga chegue a
50 mil -o dobro do existente
em 2005 e o equivalente a
0,47% da população do Estado.
"Temos uma epidemia, já
que hoje há cerca de cinco
usuários para cada grupo de mil
habitantes, e isso está se alastrando rapidamente", afirmou
o secretário estadual da Saúde,
Osmar Terra. O cálculo do governo é baseado em números
fornecidos pelas prefeituras.
O aumento da procura de
usuários de crack por serviços
de saúde -sobretudo clínicas
de desintoxicação- coincide
com o crescimento das apreensões da droga. A Polícia Civil recolheu 20 kg em 2005, 119 kg
em 2007 e 97 kg no primeiro
semestre deste ano.
Hospitais e clínicas que recebem os dependentes também
sentem os reflexos do avanço
do crack. No setor de urgências
psiquiátricas do hospital estadual São Pedro, segundo Terra,
o alcoolismo respondia por
80% das internações em 2003.
Hoje, usuários de crack ocupam 80% dos 30 leitos.
Droga barata
Como a oferta acompanha o
crescimento da demanda, o
crack é barato. Facilmente
achado nas ruas, uma pedra de
crack custa R$ 5. "Um grama de
cocaína pode custar até R$ 30,
o crack custa R$ 5. Se não houver redução do consumo, não
há como combater", diz o delegado Álvaro Steigleder, 46, diretor do Departamento Estadual de Investigação de Narcóticos do Rio Grande do Sul.
O psiquiatra Wilson Rodrigues, chefe do setor no Hospital
Regional de Assis, concorda.
"Os números são alarmantes.
Jovens pobres começam com
11, 12 anos. Na classe média, aos
15 ou 16, mas os ricos não aparecem em estatísticas, se tratam em clínicas particulares."
A assessora da área técnica
de Saúde Mental da Secretaria
Municipal da Saúde de São
Paulo, Darlene Dias da Silva, lê
com outros olhos o incremento
da classe média entre usuários.
"É que mais pessoas estão deixando o limite da pobreza, por
causa do crescimento do país",
diz. "Quem tem mais recursos
busca clínicas particulares."
Na cidade, que criou o termo
"cracolândia" para um bairro
tomado por viciados, cerca de
3,4% da população acima de 12
anos usa maconha. No caso do
crack, o índice é de 0,9%.
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