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Gestantes enfrentam dificuldades até para conseguir diagnóstico de anomalia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gestantes de fetos anencéfalos ainda enfrentam dificuldades para fechar o diagnóstico
da anomalia e também para encontrar médicos dispostos a fazer a interrupção da gestação,
mesmo após conseguirem liminares na Justiça. Em São Paulo,
que possui uma das redes mais
bem estruturadas para atender
essa gestante, a demora pode
chegar a dois meses.
Em 2007, uma pesquisa da
Febrasgo (Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia) e da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) mostrou que mais
de 90% dos ginecologistas acreditam que a mulher tem o direito de interromper a gestação de
um anencéfalo, mas só 49% deles aceitariam fazê-lo -contra
51% dos que não fariam.
Segundo a enfermeira Anaelise Abrahão, que coordena o
setor de aconselhamento genético do Hospital São Paulo, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as mulheres ainda perambulam pelos
serviços médicos em busca de
orientação. "Nenhum serviço
quer essa paciente. É como se
estivessem com uma batata
quente nas mãos."
Abrahão conta que mesmo os
serviços especializados de medicina fetal não têm interesse
de acompanhar as gestantes
quando os bebês são inviáveis.
"São poucos os que dão assistência à gestante e dão a opção
da interrupção ou que fazem o
acompanhamento."
A unidade da Unifesp é referência na capital paulista no
atendimento a essas gestantes
e realiza por mês uma média de
cinco interrupções de gravidez.
O ginecologistas Cristião Rosas, presidente da comissão nacional de interrupção da gravidez da Febrasgo, diz que a federação tem trabalhado na capacitação de médicos para que
possam oferecer atendimento
de qualidade a essas mulheres,
baseados nos dispositivos legais, jurídicos e éticos.
Rosa também observa o pouco envolvimento dos gestores
de saúde. "Por mais que você
tenha pessoas sensíveis ao problema, se você não tem uma organização da política pública de
saúde, a coisa não acontece. É
preciso primeiro um compromisso dos gestores."
Quando encontram um serviço disposto a realizar a interrupção, as mulheres de baixa
renda enfrentam mais dificuldades, relata Anaelise Abrahão.
"Cada reconhecimento de firma são R$ 9,00. Ela precisa reconhecer firma de, pelo menos,
quatro assinaturas. Depois tem
que ir várias vezes ao fórum. Isso onera bastante."
Apesar dos contratempos, a
enfermeira explica que algumas mulheres têm diagnosticado mais precocemente a anencefalia, por volta da 12ª semana
da gestação. "É mais fácil [fazer
a interrupção] porque ela não
tem a percepção de movimento
fetal. Ela sabe que está grávida,
mas não tem barriga grande,
não sente o nenê mexer."
Abrahão diz que a Justiça
tem demorado de uma a duas
semanas para conceder a autorização para a interrupção. "Já
tivemos casos em que a decisão
saiu em três dias. Dificilmente
temos uma negativa."
Entre as mulheres, 50% decidem pela manutenção da gravidez até o fim.
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