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MARIA BARANOWSKA (1917-2008)
Quatro gerações de cariocas sob Mucha
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Maria Baranowska não esquecia o dia em que chegou
ao Brasil. Foi no navio que
aportou na Ilha das Flores,
no Rio, em 1947. Viveu então
dedicada à família -sua não,
que não casou ou teve filhos.
Mas foi a governanta dos Arthou por mais de 60 anos.
Como a polonesa de Varsóvia que falava cinco línguas
acabou em um navio de imigrantes era história contada
a contragosto. Sua família
era rica (dois automóveis e
casa de campo), dizia, no fim
dos anos 30, quando o nazismo crescia. Sabia só que os
pais foram buscar o irmão no
colégio. E nunca mais os viu.
Mas viu-se sozinha: empregadas fugindo, nazistas
chegando e vizinhos delatando que era judia. Não era
-mas logo virou anti-semita.
Presa pelos alemães, ficou
quatro anos a plantar batata
no campo de trabalho forçado. Até que os americanos
chegaram. Ela, dizia, ajudou
na triagem dos expatriados.
Só não queria dizer por
que não voltou à Polônia e
acabou no Rio; onde um dia,
na Praça 15, encontrou uma
senhora "metida" que queria
uma governanta alemã". Foi.
E na casa do Botafogo viveu
com quatro gerações dos Arthou. Criou duas. "Nunca teve namorado, Mucha?", cutucavam as crianças. E lá vinha impropério polonês, que
sem sucesso tentavam imitar. É que "saiu parafuso da
cabeça", Mucha dizia.
Se chegavam cartas, chorava; se alguém perguntava,
gritava, em francês e polonês: não ia voltar. Até que em
1986 foi de férias à Europa e
reencontrou o irmão: "achou
"chatérrimo'". Doente havia
sete anos, os patrões é que
cuidavam dela. Até que morreu "quietinha", de pneumonia, dia 16. Tinha 90 anos.
obituario@folhasp.com.br
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