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Fernando Chacel, considerado o maior paisagista brasileiro, assina projeto
de revitalização
Reforma resgata parque Dom Pedro
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O parque Dom Pedro 2º sempre
foi uma espécie de casa-da-mãe-joana da região central de São
Paulo, onde cada um fazia o que
lhe desse na telha. Prefeitura e governo do Estado fatiaram os jardins com avenidas, construíram
viadutos sobre o parque e ocuparam o que era área de lazer com
terminal de ônibus. Agora, a prefeitura que reverter o horror com
uma espécie de choque urbanístico em quatro movimentos:
* O parque será recriado a partir
de um projeto de Fernando Chacel, considerado o principal paisagista brasileiro e sucessor de Roberto Burle Marx (1909-1994);
* O prédio do Mercado Municipal, inaugurado em 1933, será restaurado e ganhará um mezanino
a ser ocupado por seis restaurantes de renome;
* O Palácio das Cidades, ocupado pela sede da
prefeitura, dará
lugar ao Museu
da Cidade em janeiro do próximo ano, quando
a prefeita Marta
Suplicy deve
mudar-se para
um prédio conhecido como
Banespinha, no
viaduto do Chá,
também no centro;
* A Casa das
Retortas, construída em 1889 como uma usina
de gás e convertida hoje em repartição pública, será transformada
em uma filial do Anhembi para
abrigar feiras e convenções de
menor porte.
As quatro intervenções estão
orçadas em R$ 37,5 milhões, financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
como parte do programa de reabilitação do centro. "É o maior investimento da prefeitura em
obras numa única área no centro", diz Marcos Barreto, 34, diretor de desenvolvimento da
Emurb (Empresa Municipal de
Urbanização).
A concentração de obras numa
única área degradada tem um
sentido estratégico, segundo Nadia Somekh, 49, presidente da
Emurb: o de inverter uma tendência histórica que levou a elite paulistana a dar as costas para a zona
leste da cidade.
Desde o início do século 20,
quando os mais ricos começaram
a migrar da praça do Patriarca para o outro lado do viaduto do Chá,
e depois para Campos Elíseos, Higienópolis, avenida Paulista e Jardim Europa, a zona leste sempre
foi "a cidade dos trabalhadores",
na qual sempre houve menos investimentos públicos, na visão de
Somekh. O parque Dom Pedro 2º
era o divisor dos dois mundos e
sua degradação era proporcional
ao afastamento da elite do centro.
"Vamos tentar corrigir um movimento histórico: queremos
construir a possibilidade de expandir os benefícios da cidade para a zona leste", afirma.
Pelo menos uma empresa privada deve endossar a aposta da
prefeitura. A Comgás planeja voltar para a rua do Gasômetro, ao
lado do parque, e se instalar num
prédio que começou a ser construído em 1890.
Parque original
O parque Dom Pedro foi encomendado em 1910 a Joseph-Antoine Bouvard, chefe dos serviços
de paisagismo e de vias públicas
de Paris. Aberto oficialmente em
1922, no centenário da Independência, seu traçado envolvia as
duas margens do rio Tamanduateí. Com a abertura da avenida do
Estado, a margem esquerda do
parque foi abandonada.
Chacel, 72, quer retomar duas
características do projeto original:
o parque que se estende pelas
duas margens do rio e a integração com o Palácio das Indústrias.
Numa primeira fase, prevista para
ser concluída em maio de 2004, a
área do parque aumentará de
76.300 m2 para 135.350 m2. No
projeto final, sem previsão de
conclusão, o parque deve ficar
com 234.045 m2 -um aumento
de área de 206%.
Como novidades, Chacel criará
um espelho d'água de 200 metros,
sobre o qual haverá um palco, e
fará área de shows para 3.000 pessoas. "A recuperação do parque
será o fio condutor da revitalização da região", diz o paisagista
que reconstruiu 13 quilômetros lineares de mata em torno de lagoas na Barra, no Rio, obra que
lhe deu reputação internacional.
No parque, Chacel não vê sentido em reconstruir a mata original.
Ele pretende trabalhar com as floradas paulistas.
Dois dos maiores problemas da
região, os camelôs e o edifício São
Vito, cujo grau de degradação é
notório, são políticos e não comportam soluções urbanísticas, segundo Chacel.
Para os camelôs, não há solução
à vista. Já para o São Vito, há ao
menos um sonho da prefeita: implodir o prédio de 27 andares, no
qual moram 3.084 pessoas. O problema é o custo: a desapropriação
consumiria cerca de R$ 3,5 milhões, mas a conta pode chegar a
R$ 30 milhões com a realocação
dos moradores.
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