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EDUCAÇÃO
Para reitora eleita, expansão deve ser equilibrada e pode ser alternativa para superar dívida de R$ 30 milhões
Apesar de crise, PUC-SP pode ampliar campi
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
ALESSANDRA BALLES
DA REDAÇÃO
Apesar da crise financeira que a
PUC-SP enfrenta, a reitora eleita
Maura Véras, 62, estuda a possibilidade de expandir os campi da
universidade. Segundo ela, a ampliação ainda está em estudo, mas
uma das áreas que parecem atrativas para a nova empreitada é o
Bairro Novo (zona oeste). A criação de novos cursos é apontada
por Véras como uma das alternativas para superar a crise.
A dívida bancária da instituição
ultrapassa os R$ 30 milhões e os
índices de inadimplência oscilam
entre 12% e 15%. A principal
aposta de Véras para a recuperação financeira da universidade é
um aumento progressivo de prestação de serviços, de modo a diminuir a importância das mensalidades na receita.
Outra proposta é a criação de
um fundo para contribuições dos
1.800 ex-alunos cadastrados, que
podem ajudar a entidade a oferecer bolsas e equipar laboratórios.
A reitora, que toma posse em
novembro, irá administrar uma
das universidades mais tradicionais do país, com 22,4 mil alunos e
1.950 professores. Leia a seguir
trechos da entrevista com Véras.
Folha - A senhora irá assumir uma
universidade que tem uma dívida
superior a R$ 30 milhões. Qual será
seu primeiro conjunto de ações para melhorar a situação?
Maura Véras - A primeira ação já
começou: estudar a situação concreta da PUC. Nós tentamos [fazer esse estudo] baseados no balanço de 2003 e estamos aprofundando essa análise. De imediato,
vamos tentar alongar o prazo do
pagamento da dívida. O diálogo
com o banco tem de ser muito
bem cuidado. Mas nós temos de
fazer isso porque a nossa idéia
-inverter o modelo de financiamento da PUC- talvez não dê recursos a curtíssimo prazo. Mas isso não está pronto. Temos várias
equipes para produzir um diagnóstico concreto da situação.
Folha - Qual o diagnóstico inicial?
Véras - A PUC tem uma dívida
bancária de pouco mais de R$ 30
milhões, com parcelas a curto e a
médio prazo. Para este ano, acho
que há uma dívida de R$ 20 milhões. Há uma outra parcela no
próximo ano e mais uma, com
um prazo maior. Isso nós teremos
de equacionar. A PUC tem outras
dívidas, mas o professor Ronca
[Antônio Carlos Ronca, atual reitor] fez um trabalho interessante
em relação ao FGTS [Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço] e
ao Refis [Programa de Recuperação Fiscal] e isso já foi equacionado com pagamento a longo prazo.
O que mais nos preocupa, de imediato, é a dívida bancária.
Folha - Os salários dos professores estão sendo pagos em parcelas.
Isso continuará no ano que vem?
Véras - Só com base nesse estudo
teremos idéia do que será possível
fazer. Mas um acordo legítimo terá de ser feito. A gente já faz um
pacto, aceita que a universidade
está em dificuldades. O que a gente gostaria é que esse pacto fosse
mais claro e dissesse em que o sacrifício está rendendo. Precisamos aperfeiçoar esse sistema de
informações administrativas.
Folha - A senhora foi a mais votada entre professores e alunos. Como pretende atrair o apoio dos funcionários?
Véras - Estamos propondo um
centro de atualização e capacitação desse corpo técnico e queremos dar uma reestruturada administrativa para aumentar a agilidade. Também sinto que nem todas as funções do corpo administrativo foram previstas, pois a
PUC cresceu. Tem desde um teatro até um hospital. Por isso precisamos criar perspectivas de progressão na carreira, cargos novos.
Isso tem de ser estimulado.
Folha - Nos convênios que a senhora prevê com os setores público
e privado, que serviços a PUC pode
oferecer já a partir de 2005?
Véras - Convênios já existem,
por exemplo, com o PEC [Programa de Educação Continuada, do
governo do Estado]; e nós temos
várias áreas com vocação para
prestação de serviços, como administração e contabilidade. Há
inúmeras possibilidades.
Folha - A senhora já se colocou a
favor, por exemplo, da assistência
jurídica gratuita. Qual o critério para definir se o serviço deve ser gratuito ou se deve reforçar a receita?
Véras - Depende da vocação do
setor. A assistência jurídica, a clínica psicológica, os serviços atendidos pelo SUS (Sistema Único de
Saúde) no hospital são parte da
essência da universidade, que é
prestação de serviços gratuitos.
Isso deve continuar e ser ampliado. Há uma série de áreas que
também podem oferecer serviços
gratuitos, como cursos de alfabetização e cursinhos pré-vestibular. Mas alguns setores têm vocação para prestação e venda de serviços, podem fazer uma qualificação dos quadros de uma empresa,
por exemplo. Aí não seria gratuito. Estamos estudando que setores têm mais possibilidades de fazer convênios e parcerias.
Folha - Uma proposta do professor Dirceu de Mello, que também
concorreu à reitoria, era a ampliação de cursos que têm superávit,
como direito, para superar a crise.
A senhora adotará essa medida?
Véras - Essa é uma alternativa.
Mas quando a gente fala em expansão com equilíbrio, ela não se
refere a um ou outro curso. Há
uma análise das potencialidades
de cada unidade da universidade.
Se uma delas sabe que os seus cursos têm potencial para crescer, ela
mesma deve sugerir isso. Ao mesmo tempo, se tiver um curso com
problemas de demanda ou de alta
inadimplência, essa mesma unidade poderia sugerir uma forma
de suprir isso, sem cortar o curso.
Essa expansão não precisa ser feita apenas nos campi existentes,
mas ir a locais estratégicos da cidade. Nós temos, na cidade de São
Paulo, a Derdic, que é uma divisão
de reabilitação dos distúrbios da
comunicação, o campus Monte
Alegre e o Marquês de Paranaguá.
Esses dois últimos estão quase saturados, com excesso de alunos.
Temos de ver que há locais da cidade que são pontos de entroncamento de transporte coletivo e
podem perfeitamente receber novos cursos da PUC. Essa estratégia
e que cursos iriam para esses locais também estão em estudo.
Folha - Seriam novos campi mesmo?
Véras - Seriam novos campi.
Folha - A USP está criando um
campus na zona leste. Para a senhora, essa região tem potencial?
Véras - Sim, mas eu gostaria de
dizer enfaticamente que nada seria imposto. Nós vamos discutir
unidade por unidade e verificar
que cursos poderiam ir. Temos
aqui uma caracterização dos bairros da cidade, com suas potencialidades, o nível socioeconômico.
Folha - Que bairro a senhora gostaria de sugerir nesse debate?
Véras - Temos muitas idéias,
mas eu gostaria de ser mais cautelosa. Vou dar um exemplo emblemático, esse Bairro Novo, na Barra Funda, não é tão distante da
PUC e parece ter vocação para
atrair uma nova unidade. Mas são
idéias preliminares.
Folha - Com o aumento da competitividade entre as universidades privadas, como a PUC pretende
se diferenciar?
Véras - O que a PUC tem e não
pode perder é o mérito acadêmico
-excelentes cursos, professores
que são também pesquisadores.
Nós temos outros méritos, como
os conselhos, que são eleitos democraticamente. Mas não podemos esquecer que a essência da
universidade é a produção de conhecimento. A PUC tem esse mérito e esse ambiente democrático.
Se não fugir de sua essência, a universidade terá crédito, terá estudantes. Não podemos deixar a crise financeira comprometer isso.
Folha - E quanto à implementação do orçamento participativo?
Véras - A gente acredita que, se é
possível, numa cidade como São
Paulo, elaborar uma metodologia
para educar as pessoas a serem
co-gestoras, por que não na universidade? Vamos dizer as demandas, as necessidades, as prioridades e ver o que é possível.
Acho que podemos fazer isso de
uma forma orquestrada.
Folha - O MEC divulgou que 33
instituições já aderiram ao programa Universidade para Todos [Prouni], que reserva vagas em universidades privadas para alunos carentes da rede pública, apesar de ele
ainda não ter sido aprovado. A senhora apoiaria a adesão da PUC?
Véras - Nós ainda não fizemos
essa discussão e ela deve ser feita.
Sou muito favorável à democratização do acesso, mas acho que a
PUC tem de entender melhor a
sua adesão. Têm algumas coisas
interessantes [no Prouni], mas
nós imaginávamos que haveria
um maior fortalecimento da escola pública. E, de repente, o que a
reforma [universitária] acena é
um aproveitamento do enorme
número de universidades privadas, e nem todas têm mérito acadêmico. Essa forma me parece
um pouco paliativa para absorver
a demanda por ensino superior.
Acho que o projeto ainda não está
totalmente delineado, estou tentando acompanhar o que está
acontecendo, mas a PUC, como
instituição, não se posicionou.
Folha - Aproveitando a realização
do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a senhora o considera
uma alternativa ao vestibular?
Véras - Sim, desde que isso não
signifique uma resposta fechada e
acabada. É preciso trazer a questão do vestibular. Por que ele foi
feito? Ele existe como um reconhecimento de que o ensino médio tem problemas. Eu espero que
se consiga ter um projeto para a
educação como um todo, não
apenas a reforma universitária.
Folha - A partir da sua experiência como cientista social ligada às
questões urbanas, como a senhora
analisa os ataques a moradores de
rua em São Paulo?
Véras - Recentemente orientei
uma tese de doutorado sobre a
sensibilidade da sociedade em relação ao morador de rua, um estudo comparativo entre São Paulo
e Paris. Esse trabalho revelou, em
São Paulo, uma forte atitude de
"higienismo", que é uma política
de limpeza. Ninguém os quer perto da sua casa, eles incomodam.
Infelizmente, é possível que a hipótese de um grupo de extermínio [como autor das mortes] seja
verdadeira. Na verdade, isso é um
revelador dessa intolerância. Em
Paris, também existe "higienismo", mas lá o Estado tem todos os
moradores de rua catalogados e
muito mais instituições que aqui.
Folha - Como a sociedade poderia
ultrapassar esse sentimento de higienização em relação aos moradores de rua?
Véras - Acho que a universidade
tem de produzir, essa é uma de
suas tarefas, um conhecimento
denunciando o que é o preconceito. Eu acredito na força da educação, por isso optei por ser professora.
Folha - A educação tem força pra
evitar que massacres como esse,
dos moradores de rua, se tornem
mais raros?
Véras - Eu acredito nisso.
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