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ENTREVISTA
Grupos cobram a ratificação da convenção mundial contra o tabaco
DA REPORTAGEM LOCAL
O tom de cobrança deve marcar
as comemorações nacionais do
"Dia Mundial sem Tabaco", celebrado amanhã -o país é sede do
evento internacional.
O que mais querem hoje os grupos brasileiros combatentes do
fumo e o Ministério da Saúde é a
aprovação, no Senado, da chamada Convenção-Quadro para o
Controle do Tabaco que, após
quatro anos de discussões, ganhou um texto consensual na Assembléia Mundial da Saúde do
ano passado.
Segundo a presidente da Sociedade Paulista de Oncologia Clínica, Nise Yamaguchi, 45, a ratificação do texto pelos senadores significará um compromisso com a
redução do consumo de cigarros,
relacionado a dois terços das
doenças crônicas, como o câncer.
A sociedade e outros grupos fizeram "um lobby muito do bem",
como diz Yamaguchi, e o texto já
passou na Câmara.
Para marcar o dia mundial, foi
escolhido neste ano o tema tabaco
e pobreza. Os países em desenvolvimento são ainda os principais
alvos da indústria do fumo, estrangulada pelas medidas mais
restritivas dos países desenvolvidos. "Há famílias pobres que gastam mais em cigarros do que em
comida", diz Yamaguchi.
(FABIANE LEITE)
Folha - O que aconteceu após a
aprovação do texto da convenção?
Nise Yamaguchi - Esse trabalho
tem de ser ratificado por 40 países
para vigorar. Minha última informação é de que 12 já o fizeram
-o Brasil não, e veja, ele foi o carro-chefe da convenção, mostrou
seus programas. Teria a obrigação moral de ratificar. A promessa no Senado é de que esteja relatado ainda nesta semana.
Folha - Quais são os principais
pontos da convenção?
Yamaguchi - É um conjunto de
medidas para coibir o uso e o comércio. Por exemplo, fala da aplicação de políticas tributárias [para aumentar o preço], com a coibição do contrabando, avaliações
sobre as substâncias presentes
nos produtos, com transparência
ao público, além de amplo acesso
ao tratamento -o tabagismo é
uma doença e ainda não temos isso. Há pesquisas que mostram
que 78% dos que fumam gostariam de parar e não conseguem.
Além disso, dois terços das doenças crônicas são causadas por fumo, 50% das cardiovasculares,
40% dos cânceres, 80% dos cânceres de pulmão.
Folha - Onde é preciso avançar
aqui?
Yamaguchi - A legislação é boa,
mas houve, por exemplo, a flexibilização para permitir a propaganda durante a Fórmula 1. Além
disso, há a propaganda indireta
em novelas, a questão da venda a
menores, proibida, mas sem fiscalização. No Brasil, a convenção
é um compromisso que vai buscar o cumprimento das leis.
Folha - O país é um dos principais
produtores de fumo.
Yamaguchi - A convenção fala
em ações conjuntas de várias
áreas do governo para transformar o negócio do fumo em outros
negócios agrícolas.
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