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Para delegado, efetivo da polícia faz "milagre"
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do
Estado de São Paulo, André Di
Rissio, "a polícia faz milagres".
Em entrevista à Folha, ele conta que o número médio de policiais nas delegacias vem diminuindo nos últimos 11 anos. Isso, segundo ele, faz com que a
população receba um mau
atendimento e o volume de investigação se acumule.
Ele diz ainda que falta investimento em segurança pública
e o déficit de delegados chega a
300 em todo o Estado.
FOLHA - O número de policiais por
habitante vem diminuindo ao longo
dos anos. O senhor sente essa defasagem na prática?
ANDRÉ DI RISSIO - Há uma defasagem evidente na Polícia Civil.
Antes, em 1995, havia 20 investigadores numa delegacia de
polícia. Hoje, esse mesmo distrito, com o crime aumentando
violentamente, não chega a ter
oito. Você tem de tocar 900 inquéritos. O crime aumentou, e
a estrutura do Estado diminuiu. Ou seja, não houve investimento de segurança pública.
FOLHA - Como é trabalhar assim?
DI RISSIO - Eu diria que a polícia
faz milagres. A polícia, dentro
desse contexto, faz o que pode.
FOLHA - Qual o déficit de pessoal
que o senhor vê?
DI RISSIO - Só de delegado de polícia, nós temos 300 vagas para
preencher. Está cheio de delegacia sem delegado.
FOLHA - Na prática, como a falta de
pessoal atrapalha no serviço?
DI RISSIO - Como você pode fazer um boletim de ocorrência,
se o cara trabalha 40 horas por
semana, 50. Você acha que ele
não lhe recebe estressado? Você acha que vai lhe dar um bom
atendimento? Não há como
vencer o volume de investigação, porque não tem recursos.
FOLHA - Como está a situação de
trabalho dos delegados?
DI RISSIO - Nós estamos nos desdobrando. No interior, tem delegado respondendo por duas,
três delegacias. No plantão, na
capital de São Paulo, um distrito tem de ter oito delegados
-um titular, um assistente, um
adjunto e cinco plantonistas.
Hoje em dia tem DP funcionando com três. O cara trabalha
que nem um camelo e ganha
um dos piores salários do país.
FOLHA - O senhor acha que esse
quadro influencia a ocorrência de
ataques como os do PCC?
DI RISSIO - Acho que isso somado faz com que exista corrupção, desmotivação, auto-estima
muito baixa. E isso ajuda que o
crime se organize às custas da
desorganização do Estado.
FOLHA - Quais são os investimentos que a polícia precisa hoje?
DI RISSIO - O Estado é lento para
se aparelhar. Precisamos de investimento no serviço de inteligência policial. Existem dois tipos de investimento que a polícia pode fazer: um é material e o
outro é humano. Digo que não
adianta comprar viatura sem
que você se preocupe com
quem vai apertar o gatilho.
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