São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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Para delegado, efetivo da polícia faz "milagre"

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, André Di Rissio, "a polícia faz milagres". Em entrevista à Folha, ele conta que o número médio de policiais nas delegacias vem diminuindo nos últimos 11 anos. Isso, segundo ele, faz com que a população receba um mau atendimento e o volume de investigação se acumule. Ele diz ainda que falta investimento em segurança pública e o déficit de delegados chega a 300 em todo o Estado.

 

FOLHA - O número de policiais por habitante vem diminuindo ao longo dos anos. O senhor sente essa defasagem na prática?
ANDRÉ DI RISSIO -
Há uma defasagem evidente na Polícia Civil. Antes, em 1995, havia 20 investigadores numa delegacia de polícia. Hoje, esse mesmo distrito, com o crime aumentando violentamente, não chega a ter oito. Você tem de tocar 900 inquéritos. O crime aumentou, e a estrutura do Estado diminuiu. Ou seja, não houve investimento de segurança pública.

FOLHA - Como é trabalhar assim?
DI RISSIO -
Eu diria que a polícia faz milagres. A polícia, dentro desse contexto, faz o que pode.

FOLHA - Qual o déficit de pessoal que o senhor vê?
DI RISSIO -
Só de delegado de polícia, nós temos 300 vagas para preencher. Está cheio de delegacia sem delegado.

FOLHA - Na prática, como a falta de pessoal atrapalha no serviço?
DI RISSIO -
Como você pode fazer um boletim de ocorrência, se o cara trabalha 40 horas por semana, 50. Você acha que ele não lhe recebe estressado? Você acha que vai lhe dar um bom atendimento? Não há como vencer o volume de investigação, porque não tem recursos.

FOLHA - Como está a situação de trabalho dos delegados?
DI RISSIO -
Nós estamos nos desdobrando. No interior, tem delegado respondendo por duas, três delegacias. No plantão, na capital de São Paulo, um distrito tem de ter oito delegados -um titular, um assistente, um adjunto e cinco plantonistas. Hoje em dia tem DP funcionando com três. O cara trabalha que nem um camelo e ganha um dos piores salários do país.

FOLHA - O senhor acha que esse quadro influencia a ocorrência de ataques como os do PCC?
DI RISSIO -
Acho que isso somado faz com que exista corrupção, desmotivação, auto-estima muito baixa. E isso ajuda que o crime se organize às custas da desorganização do Estado.

FOLHA - Quais são os investimentos que a polícia precisa hoje?
DI RISSIO -
O Estado é lento para se aparelhar. Precisamos de investimento no serviço de inteligência policial. Existem dois tipos de investimento que a polícia pode fazer: um é material e o outro é humano. Digo que não adianta comprar viatura sem que você se preocupe com quem vai apertar o gatilho.


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