|
Próximo Texto | Índice
ADMINISTRAÇÃO
Plano de arborizar São Paulo com 8.000 espécies tem preço alto e paisagismo ruim, dizem especialistas
Marta compra planta até 5 vezes mais cara
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os projetos de paisagismo da
Prefeitura de São Paulo usam
plantas, como a palmeira imperial, que têm preços de mercado
que chegam a custar um quinto
dos fixados nos editais de licitação. Na diferença maior, o município pagará R$ 2.600 por uma
imperial que custa R$ 450 (incluído o transporte) no viveiro Mudas Meurer, de Dourados (MS).
O valor das plantas varia de um
edital para outro, o que não deveria ocorrer porque foram feitos na
mesma época. Paisagistas e engenheiros agrônomos questionam a
qualidade do projeto, que já aparece em publicidade da prefeitura
na TV, e destacam o risco de mortalidade em massa de plantas.
A preferência pela palmeira é o
alvo das críticas. Para paisagistas,
a escolha denuncia a falta de projeto. Em comparação a um grupo
de árvores como a quaresmeira e
o ipê, que tem copa maior, o palmeiral não é eficiente no controle
da temperatura e na retenção de
partículas de poluição.
"É de uma falta de cultura tremenda. Nosso país tem um acervo de arquitetos que já foi vanguarda internacional", diz Rosa
Grena Kliass, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos
Paisagistas e autora de projetos
como o do vale Anhangabaú.
Os engenheiros agrônomos, por
sua vez, apontam a fragilidade da
espécie, que tem raiz curta e é
mais suscetível às intempéries. "A
imperial é indicada para locais espaçosos, não para um canteiro
central, como na Faria Lima. No
primeiro temporal forte, muitas
vão cair", diz Carlos Adolfo Bantel, presidente da Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais.
Os especialistas observaram erros de execução na avenida, como
canteiros sem substrato (solo
adubado) e palmeiras plantadas
com torrão (solo endurecido em
volta da raiz) para fora da terra.
Além disso, as plantas permitem distorções contábeis por causa da variação de preço e tamanho. Uma guariroba de dez metros, prevista no edital, pode custar R$ 500. A mesma palmeira
com seis metros de altura, padrão
do mercado, sai por R$ 90 no viveiro Flora Tropical, de Limeira,
no interior do Estado.
O presidente da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb),
Maurício Faria, responsável pelos
projetos de paisagismo, se diz surpreso com a cotação feita pela Folha.
A reportagem teve acesso a sete
licitações da Emurb, quatro com a
planilha de serviços e custos. Para
fazer a cotação, a Folha enviou
pedido de orçamento a três empresas que comercializam plantas
em larga escala. O pedido incluiu
as três espécies mais caras de palmeira (guariroba, real e imperial),
na quantidade e tamanho indicados em um dos editais.
Na Floricultura Campineira, o
preço da imperial variou de R$
800 (31% do valor fixado no edital
da prefeitura) a R$ 1.500 (58%
deste mesmo valor), dependendo
do diâmetro do caule. A maioria
das palmeiras usadas pela prefeitura tem caule fino (mais barata).
A licuri foi a única palmeira de
preço alto (R$ 800 a unidade) não
cotada pelos viveiros. A razão é
que essa espécie é típica do Nordeste. Por isso, segundo especialistas, a opção pela licuri adulta é a
mais arriscada.
Os quatro editais analisados
prevêem o plantio de cerca de
8.000 árvores de variadas espécies. A rapidez da licitação não
deu tempo à Secretaria Municipal
do Meio Ambiente para aprová-lo. A SMMA cuida de três viveiros, que fornecem gratuitamente
mudas de parte dessas plantas.
Próximo Texto: Clima de São Paulo é ameaça a espécies Índice
|