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Menor cidade do país, Borá "cresceu" 30 moradores
"Crescimento" é atribuído a reativação de usina de cana, cujos funcionários, em época de safra, somam mais do dobro da população local
População teme o progresso e diz que o município, de 834 habitantes, "ainda" é tranqüilo
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
As ruas que contornam a praça da paróquia Santo Antônio já
não são mais tranqüilas como
de costume, dizem os moradores. Um reflexo da cidade que
cresce, apesar de ser o município com a menor população do
Brasil. Borá, a 481 km a oeste de
São Paulo, possui 834 habitantes, segundo a nova estimativa
do IBGE.
Apesar de pequena, proporcionalmente, Borá deu um
grande salto. Em 2000, eram
795 habitantes. De lá para a estimativa do ano passado, só
"ganhou" nove moradores. Já
de 2007 para este ano, foram 30
pessoas a mais.
Moradores atribuem à reativação de uma usina de cana, há
quatro anos, uma das razões
para o município já não ser assim tão tranqüilo.
"Vemos mais pessoas e carros nas ruas, carros de fora da
cidade. Muita gente mudou para cá por causa da usina, até
vindos do Nordeste. Não se
acha mais casa para alugar",
conta a professora da única escola estadual da cidade, Valdirene Marconato, 37.
Safra
Em época de safra, entre
maio e novembro, a usina Iberia chega a ser maior que a própria cidade, com 2.000 funcionários, inclusive bóias-frias. E a
influência deve ser ainda
maior: com terreno cedido pela
empresa, a prefeitura e o Estado estão construindo aproximadamente cem casas populares, em esquema de mutirão.
O terminal rodoviário, que a
cidade ganhou em março, deve
ajudar a receber os novos moradores. Ao lado de seu único
posto de saúde, o município
também ganhará um minipronto-socorro.
Apesar das mudanças, Borá
continua marcada pela tranqüilidade. O último homicídio
foi registrado em 2002.
Boletins de ocorrência, aliás,
são poucos: foram 21 desde o
início do ano -o mesmo registrado em uma manhã em uma
delegacia de São Paulo.
Pequenos latifundiários
O comércio é, no mínimo,
modesto, contam os moradores: resume-se a uma padaria,
um açougue, uma farmácia, um
posto de combustível e dois bares. "Até tentaram abrir loja de
roupas, mas não deu certo", diz
Valdemar Bregolato, 74.
Filho de José Bregolato, um
dos pioneiros, ele teme que o
sossego se vá com o progresso.
"Pode ficar mais perigosa, ter
mais roubos. Em Paraguaçu
[Paulista, cidade vizinha], ninguém pode deixar nada no varal. Aqui, é tranqüilo. Ainda."
A pequena população torna a
cidade terra de pequenos "latifundiários". Se a área de Borá,
de 119 km2, fosse dividida por
seus habitantes, cada pessoa
teria o equivalente a 17 campos
de futebol como o Maracanã
(de 8.250 m2). Para comparar,
na capital paulista, onde vivem
10,9 milhões, seria 0,01% de
Maracanã por paulistano.
Nem sempre foi assim.
Quando jovem, Bregolato conta que a cidade era mais populosa. As famílias, entretanto,
venderam suas fazendas, atingidas pelas geadas de café, e migraram para Paraná e São Paulo. Pelo IBGE, chegou a ter
1.270 pessoas nos anos 1970.
Hoje, Borá carrega uma contradição: tem mais eleitores
que população. São 924 aptos a
votar, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
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