|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Sintomas semelhantes aos da azia e má digestão dificultam diagnóstico; uso de antiácidos pode ser prejudicial
Queimação alerta para doença do refluxo
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é facilmente confundida
com gastrite, azia ou má digestão.
Por desconhecê-la, as pessoas se
automedicam com antiácidos, o
que, inicialmente, alivia os sintomas, mas, com o tempo, só piora a
doença, segundo os médicos.
Trata-se da DRGE (Doença do
Refluxo Gastroesofágico), que
afeta 12% da população na idade
adulta, segundo pesquisa Datafolha realizada em nove regiões do
país, a pedido do laboratório AstraZeneca.
A doença do refluxo é caracterizada pelo retorno do conteúdo
ácido do estômago para o esôfago, em razão do mau funcionamento da esfíncter, válvula que
separa os dois órgãos. Assim, o
conteúdo gástrico, inclusive o ácido que ajuda na digestão, retorna
ao esôfago, que não tem uma mucosa apropriada para recebê-lo.
Quando não tratado, o refluxo
gástrico pode causar inflamação
do esôfago, levando, em situações
mais extremas, ao estreitamento
do órgão (estenose) e ao aparecimento de úlcera. Há estudos que
relacionam essas inflamações
mais graves ao câncer do esôfago.
"A doença do refluxo é uma das
queixas mais comuns no consultório. As pessoas dizem que parece ter um dragão no estômago",
afirma o médico Laércio Gomes
Lourenço, professor de gastrocirurgia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), referindo-se à sensação de queimação, que
sobe do estômago em direção à
garganta, e a regurgitação
-quando o conteúdo ácido do
estômago chega à boca.
Segundo ele, eventualmente, é
normal as pessoas apresentarem
refluxo quando bebem em excesso ou ingerem comidas gordurosas ou muito condimentadas.
"Sobe aquele líquido amargo, que
parece "queimar" a garganta", descreve o médico.
Para o gastroenterologista Fernando Miranda Cordeiro, 65, presidente da Federação Brasileira de
Gastroenterologia, a situação deixa de ser normal se houver azia e
regurgitação duas ou mais vezes
por semana. Nesses casos, um especialista deve ser procurado para
avaliar o problema e indicar o tratamento correto.
Segundo Cordeiro, a pesquisa
mostrou também que a automedicação é um comportamento
muito frequente entre os que
apresentam os sintomas da doença do refluxo: 57% disseram que
utilizam medicamentos, principalmente os antiácidos, sem
orientação médica.
É o caso do ajudante-geral Jean
Carlos de Carvalho, 26, que perdeu as contas das vezes que sofreu
queimação no estômago. "Acho
que sempre tive isso, desde criança. Sempre tomei antiácidos, mas
nunca resolveu o problema."
No início deste ano, ele atendeu
aos apelos da sogra e procurou
um médico. A doença do refluxo
foi diagnosticada e ele passou a
tomar os remédios indicados pelo
gastroenterologista. "Melhorou
bastante, mas é só abusar de comida gordurosa ou beber além da
conta que a queimação volta", diz.
E não é para menos. Os alimentos gordurosos e as bebidas relaxam a pressão do esfíncter, permitindo que haja o refluxo.
Os remédios inibem a secreção
ácida das células e diminuem a inflamação do esôfago -o que alivia os sintomas de queimação-,
mas não curam a doença.
Segundo o médico Luiz Chehter, professor de gastroenterologia da Unifesp, a DRGE é uma
doença crônica, e a mudança de
hábitos é fundamental para que a
pessoa tenha qualidade de vida. A
cirurgia, afirma o médico, é indicada para 5% a 10% dos casos.
Na cirurgia, essa válvula é refeita, e o esôfago recolocado na cavidade abdominal. "Mas a cirurgia
não é 100% segura. Há casos em
que a válvula volta a relaxar, com
reaparecimento dos sintomas",
alerta o gastroenterologista Jaime
Natan Eisig, 53, do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Além dos casos mais graves de
lesão no esôfago, a intervenção cirúrgica pode resolver o problema
de pacientes que não querem levar uma vida de restrições, principalmente os mais jovens, de acordo com Eisig. "A moçada prefere
operar a ter que ficar tomando remédio continuamente ou mudar
seus hábitos", diz.
De acordo com Lourenço, em
torno de 30% dos portadores da
doença do refluxo podem apresentar também sintomas extra-esofágicos, como asma ou tosse
(quando o líquido gástrico reflui
para o pulmão), dor aguda no peito e rouquidão (quando o ácido
irrita as cordas vocais).
Texto Anterior: Evento: Folha promove debate sobre cotidiano em SP Próximo Texto: Federação faz campanha até sexta Índice
|