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Médico é preso acusado de desviar órgãos
Ex-chefe da central de transplantes do Rio é acusado de burlar lista e fazer cirurgias particulares ao custo de até R$ 250 mil cada
PF afirma ter comprovado
ocorrência de 2 transplantes
realizados com fraude;
pacientes que pagaram pelas
cirurgias não foram indiciados
Severino Silva/Agência O Dia
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O médico Joaquim Ribeiro Filho (à esq.), preso acusado de manipular lista de transplante e desviar órgãos
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO
O médico Joaquim Ribeiro
Filho, professor da UFRJ e ex-chefe da Rio Transplantes (hoje Central Estadual de Transplantes), foi preso ontem pela
Polícia Federal sob a acusação
de manipular a lista de transplantes de fígado no Rio e desviar órgãos para fazer cirurgias
em clínicas particulares, ao
custo de até R$ 250 mil cada.
O Ministério Público Federal
encaminhou à Justiça denúncia por peculato (crime de desvio de recursos ou bens por
funcionário público).
Ele e quatro médicos de sua
equipe foram denunciados
após a PF dizer ter "comprovado" a ocorrência de ao menos
dois transplantes com fraude,
além de uma tentativa impedida antes da cirurgia. Os cinco
foram afastados pela Justiça e
estão proibidos de fazer transplantes. A PF não indiciou os
pacientes que pagaram para furar a fila por julgar que estavam
em "estado de necessidade".
Ribeiro Filho chefiou a central de 2003 a janeiro de 2007,
durante a gestão Rosinha Matheus (2003-2006), e um mês
na gestão Sérgio Cabral.
Um dos casos de fraude
apontados foi o de Carlos Augusto Arraes de Alencar, filho
do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005). Outro, de Frederico Sattelmayer Júnior, foi impedido
pela central de transplantes,
quando Ribeiro Filho já tinha
deixado a direção do órgão.
Para burlar a fila, Ribeiro Filho agia de duas formas, disse o
procurador Marcello Miller,
autor da denúncia. Uma das táticas era dar falso atestado de
que um órgão era inadequado
("marginal", na linguagem técnica) para o transplante.
Dessa forma, a equipe dele liberava o órgão para um paciente que "assumisse o risco" de
usá-lo, pagando pela cirurgia
em uma clínica particular.
"Quando ele foi coordenador
da central de transplantes, adotou entendimento de que o órgão "marginal" podia ser destinado pela sua própria equipe
[para outro paciente], e isso
não existe", disse o procurador.
Outra forma de fraude, segundo Miller, era monitorar os
fígados que chegavam ao Rio e
dizer aos funcionários da central de transplantes que levaria
o órgão para o primeiro da fila.
"Ele induzia a central a acreditar que estava pedindo o órgão
na qualidade de chefe do hospital da UFRJ para um paciente
que era o primeiro da lista",
afirmou o procurador.
A equipe de Ribeiro Filho na
UFRJ é a mais experiente em
transplantes de fígado no Estado -que só conta com mais
dois times, no hospital de Bonsucesso, federal, e no hospital
São José do Avaí, em Itaperuna, norte do Estado.
Em nota, o Ministério da
Saúde disse ontem ter determinado que todos os transplantes
de fígado no Rio passem ao hospital de Bonsucesso.
De acordo com a Central Estadual de Transplantes do Rio,
cinco pessoas morrem por mês,
em média, na fila de espera por
um fígado, que é formada hoje
por 1.077 pessoas no Estado.
Desde 2006, as listas de espera por transplante de fígado
(estadual, regional e nacional)
priorizam os pacientes com
maior risco de morte. Porém,
devido às rápidas evoluções no
quadro clínico dos pacientes, as
filas estão em constante alteração (leia texto nesta página).
Ribeiro Filho já havia sido alvo de duas sindicâncias da central de transplantes. Uma delas,
relativa a Arraes, resultou, no
ano passado, na suspensão da
equipe por 60 dias -depois revogada pela Justiça estadual.
Segundo a PF, Arraes recebeu um órgão de Minas Gerais
quando ocupava a 65ª posição
na fila do Rio -se um órgão não
serve no Rio, passa-se à lista regional, que inclui Minas, e, em
última tentativa, à nacional.
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