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ENTREVISTA
"Ordem" da categoria teria mais força, diz conselheiro eleito
Cremesp quer órgão médico único
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Oito chapas participaram das
eleições do Conselho Regional de
Medicina de São Paulo (Cremesp)
realizadas nos dias 21 e 22. Nunca
houve tantos concorrentes. Os
grupos perdedores afirmam que a
dispersão revela uma divisão e
um descontentamento da classe,
especialmente quanto aos baixos
salários, condições de trabalho e a
submissão aos planos de saúde.
A chapa vencedora -a 4, ou
"unidade médica"- viu nos
muitos concorrentes um desejo
maior de participação do médico.
Dos 83 mil médicos aptos a votar
no Estado, votaram 54 mil. A chapa 4 ficou com 31,33% dos votos,
seguida da 2, com 18,71%.
"Nossa intenção é aproximar o
conjunto das entidades médicas,
formando uma instituição única", diz o obstetra e especialista
em saúde coletiva Eurípedes Carvalho, 50, que já presidiu o Sindicato dos Médicos do Estado de
São Paulo e a Federação Nacional
dos Médicos.
Carvalho faz parte da atual
equipe eleita, composta por 40
conselheiros. Entre eles, 17 participam do atual conselho, o que
significa uma espécie de continuísmo. O grupo, que presidirá o
Cremesp até o final de setembro,
já está no poder há duas gestões,
num total de dez anos.
Cabe à equipe eleita, escolher
agora a composição da diretoria
que poderá se revezar ao longo
dos próximos cinco anos.
Abaixo, trechos da entrevista
com Eurípedes Carvalho.
Folha - Se vocês representam a situação, o que pode mudar na gestão que vai começar?
Eurípedes Carvalho - Nós consideramos que a chapa atual vinha
fazendo um bom trabalho, mas
que precisa ser aperfeiçoado. A
chapa vencedora tem a experiência da que sai e uma renovação de
60%. Ela surgiu da união dos diretores de entidades como o próprio Cremesp, a Associação Paulista de Medicina, a Academia de
Medicina de São Paulo, a Associação Médica Brasileira e o Sindicato dos Médicos. Essa parceria já
existia nas gestões passadas.
Folha - O senhor falou da criação
de uma entidade única dos médicos. Como seria?
Carvalho - A idéia é reunir o conselho, o sindicato, a Associação
Paulista de Medicina, enfim, todas as entidades médicas numa só
instituição, a exemplo do que
acontece com a Ordem dos Advogados do Brasil. As entidades continuariam mantendo suas especificidades e suas funções previstas
em lei. Por exemplo, o conselho
não abrirá mão da sua missão de
fiscalizar o exercício profissional.
O sindicato cuidará das questões
trabalhistas. Mas, unificado, esse
"conselho médico" ou "ordem
dos médicos" teria muito mais
força e facilidade de atuação.
Folha - Os conselhos são estabelecidos por lei, por isso essa suposta junção necessitará de um aval
nacional?
Carvalho - O sistema é federal,
por isso qualquer mudança terá
que ser discutida por médicos de
todo o país.
Folha - Os baixos salários e as precárias condições de trabalho apareciam nas propostas e queixas de
todas as chapas concorrentes. Como vocês irão tratar essa questão?
Carvalho - Seria, em princípio,
um problema sindical, mas nossa
intenção é trabalhar em conjunto.
Já fizemos levantamentos mostrando a situação de trabalho nos
hospitais. No momento, há uma
greve no Estado e uma crise no
hospital Emílio Ribas. Na quinta-feira, houve um encontro de todas as entidades médicas cuja
pauta eram salários, relacionamento com os prestadores de serviço e planos de saúde.
Folha - Quais são as outras prioridades dessa chapa?
Carvalho - Vamos nos opor à
abertura de qualquer nova escola
de medicina. No momento, há
quatro planejando abertura. O
Estado de São Paulo tem 1 médico
para 400 habitantes, a capital tem
1 para 270, um exagero. Não precisamos de mais médicos, precisamos de melhores médicos.
Por isso mesmo, queremos um
controle sobre a qualidade do ensino médico de forma que o profissional e a profissão possam recuperar sua imagem e credibilidade diante da sociedade. Também vamos criar um instituto de
previdência para o médico, não só
para a aposentadoria, mas para a
eventualidade de cair doente.
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