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Gesto da mãozinha não pegou após um ano de campanha Acenos para que carros parem (e cumpram a legislação) é pouco usado e pouco respeitado nas ruas paulistanas Pesquisa mais recente mostra que 74% dos motoristas ignoram faixas de segurança para quem anda a pé ANDRÉ MONTEIROCRISTINA MORENO DE CASTRO DE SÃO PAULO Um ano após o lançamento da campanha de proteção ao pedestre na cidade de São Paulo, o motorista ainda não respeita o aceno de quem quer atravessar a rua a pé. O pedestre tampouco recorre ao gesto de estender a mão para que os veículos parem. A campanha foi lançada primeiro na região central e teve propaganda na TV, contratação de monitores de travessia e até mímicos. As multas começaram em agosto. A Folha percorreu bairros da zona sul, oeste e do centro e notou que a maioria dos carros não respeita quem tenta atravessar na faixa. E não viu ninguém erguendo a mão. "A mãozinha não adianta nada", disse um pedestre que atravessava a rua Bela Vista, onde há uma faixa sem semáforo. Bem ali há duas faixas da campanha e um totem pedindo o uso da mãozinha. "A gente para pro pedestre e os outros buzinam atrás, falta fiscalização. E tem uns que usam a mãozinha em lugar errado, quando o semáforo está verde ou atravessando no meio da rua, fora da faixa. Ficou perigoso, as pessoas acham que a mãozinha vai resolver", afirma o taxista Gilberto Carlos dos Santos. A Folha também testou o gesto em alguns cruzamentos e teve pouco sucesso. Um ônibus chegou a ignorar a mãozinha, a faixa, e partiu pra cima em alta velocidade. Para José Eduardo Daros, da Associação Brasileira de Pedestres, o gesto deveria ser voluntário. "Senão você cria um precedente perigoso: quem não levantar a mão vai ser atropelado. Lá fora todos respeitam o simples ato de colocar o pé na rua", afirma. O desrespeito é confirmado por pesquisas feitas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em três esquinas do centro, onde a campanha começou. Uma contagem em abril mostrou que em 74% dos casos o motorista não respeita a faixa, índice que era de 90% no começo do programa. E, ao mesmo tempo em que 95% dos motoristas afirmaram que têm respeitado mais os pedestres, só 57% destes disseram ter percebido isso. CULTURAL "Como toda mudança cultural, é um processo de adesão progressiva", afirma Luiz Carlos Néspoli, um dos responsáveis pela implantação da campanha. Segundo balanço de março, já foram aplicadas 171 mil multas. Para Daros, "a campanha é positiva, mas se ateve muito à questão da faixa. O controle da velocidade ficou de fora, e é o fator principal". Ele defende também que seja dada atenção às ruas de bairro, que considera hoje mais perigosas que os corredores. A meta da campanha é reduzir as mortes de pedestres em 50% até o fim do ano. O último dado divulgado, de janeiro, apontou queda de 37% no centro e 8% na cidade. Em Santos, no litoral sul de São Paulo, uma campanha semelhante no mesmo período resultou em queda de 60% nas mortes -de 20 para 8. Por lá o uso da mãozinha pegou. Já em sete cidades do ABC Paulista, onde a campanha começou no fim do ano passado, os atropelamentos já caíram 14%. Não há dados sobre pedestres mortos. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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