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Cidade boate Lâmpadas azuis se multiplicam em locais turísticos e até túneis de São Paulo;prefeitura diz querer criar 'referências urbanas'
DE SÃO PAULO Por volta das 22h da terça-feira passada, Marcelo, aparência de 40 anos, chapéu e bolsa enormes, dançava sozinho no que parecia ser um palco iluminado. Impossível ouvir a música que o embalava -ele estava com fones de ouvido. A cena aconteceu no túnel que passa por baixo da praça Roosevelt, centro de São Paulo, onde a prefeitura inaugurou, na semana passada, um novo projeto de iluminação. "Isso aqui é minha brisa agora", disse Marcelo, referindo-se a um canto no túnel decorado com grafites, iluminado por lâmpadas de LED na cor azul-arroxeada (impossível não pensar em luz negra) -um "palco bacana", na acepção do Fred Astaire paulistano. O homem prometeu voltar com amigos para montar uma rave no local. Cada um com seu fone de ouvido e sua própria trilha musical, "porque senão não se ouve nada". A menos de 100 metros dali, cerca de 40 outras luzinhas piscavam. Eram isqueiros dos usuários de crack que fazem de outros cantos no túnel seus esconderijos. A mudança integra uma nova frente de intervenção da prefeitura na paisagem urbana. Agora, na forma de luz. O túnel com o palquinho, assim como outros 16 da cidade, teve todas as suas luzes trocadas por luminárias brancas de LED. Nas extremidades, assim como já acontece nos túneis Ayrton Senna e Tribunal de Justiça (zona sul da cidade), foram colocadas lâmpadas azuis de LED. "Para decorar", informa o Ilume, Departamento de Iluminação Pública. No túnel da Roosevelt, a luz decorativa foi colocada no teto, como os refletores de um teatro, com o foco direcionado para as paredes, de forma a não ofuscar a visão dos motoristas -vem daí o efeito palco, que entusiasmou Marcelo. "Isso aqui vai virar uma boate dos nóias", protestou a bancária aposentada Dolores Vieira Santana, 67, que mora na rua Amaral Gurgel, vizinha do palco. 'REFERÊNCIAS URBANAS' A mesma tonalidade de azul já aparece nos postes centrais de iluminação da avenida Paulista, na fachada da Assembleia Legislativa e também no Obelisco dos Heróis de 32, no Ibirapuera. Segundo Regina Monteiro, presidente da Comissão de Proteção da Paisagem Urbana, órgão da prefeitura, o objetivo da nova iluminação é criar "referências urbanas". "De noite, a cidade de São Paulo ficava toda laranja, indiferenciada, por causa da iluminação com vapor de sódio. O objetivo agora é mudar isso. Referências geram uma sensação de aconchego e familiaridade com a paisagem", diz. A prefeitura também está trocando a iluminação antiga por lâmpadas brancas de vapor metálico e de LED nos cartões-postais da cidade, como o Anhangabaú, a praça Villaboim e o centro histórico, além do Ibirapuera. "É propaganda subliminar", acusa o deputado petista Adriano Diogo, a respeito da cor azul, identificada com o PSDB de José Serra, apoiado pelo prefeito Kassab. "É obra eleitoreira", diz a vereadora Juliana Cardoso (PT), para quem a prefeitura deveria primeiro se preocupar em colocar lâmpadas na periferia -"a escuridão é o maior problema de segurança pública nos bairros pobres"-, antes de "maquiar" os bairros centrais. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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