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Novata, moradora quer trazer parentes
Ela afirma ter fugido da violência em Itabuna (BA)
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Erlândia da Silva, 29, que saiu de Itabuna (BA) com os quatro filhos para morar na favela Vila Saí, em São Sebastião |
Elas moram lado a lado, em uma casa dividida ao meio, com duas portas, e de frente para a serra do Mar.
Enquanto uma acaba de chegar à favela Vila Saí, na Barra do Sahy, com a esperança de conseguir uma vida melhor, a outra, na região há cinco anos, pensa em voltar.
"Aqui a gente não tem tempo para cuidar da família", diz Maria Lúcia Nunes, 31. "Lá é mais tranquilo", conta, enquanto lembra do terreno, herança da mãe, que deixou em Coaraci, na Bahia.
É para lá, onde tinha um barraco, que pretende voltar e fazer uma nova casa.
Sua vizinha, Erlândia Maciel da Silva, 29, não tem os mesmos planos. Ela chegou de Itabuna (BA) com os quatro filhos em novembro.
O marido veio dias antes, chamado por uma tia, que soube de uma oferta na construção civil. "Ele trabalhou, mandou dinheiro e eu vim."
Agora, Erlândia pretende trazer também a irmã e o cunhado, que migraram para São Paulo. "Já está tudo certo. O marido dela vai trabalhar junto com o meu."
A chegada na Vila Saí, porém, não foi tarefa fácil.
Na casa de três cômodos, alugada por R$ 400 mensais, quase não havia móveis.
A família veio só com algumas roupas. "Tivemos que buscar doações para ajudar", conta a vizinha Ivanildes Andrade, 46, na vila há 28 anos.
Erlândia confirma. "Aqui é tudo bonito, mas é caro. Cada um tem que apertar a barriga e fazer sua casinha, senão não dá", diz.
Segundo ela, além da busca por oportunidades, há outros bons motivos para não querer voltar a Itabuna.
"Deixei meu barraco e tudo. Lá a violência era demais. Quero um futuro para meus filhos", diz, enquanto segura Vandinho, de apenas dois anos de idade.
Maria Lúcia já não tem a mesma esperança. Para dar conta do aluguel, reveza entre os trabalhos de doméstica e costureira, enquanto o marido trabalha como caseiro para os condomínios.
"Aqueles que vieram há mais tempo conseguiram fazer a vida. Para quem vem agora é mais difícil", diz.