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DE MALAS PRONTAS
Para americano, empresas estão no limite
Abandonar o país já é uma possibilidade
DE WASHINGTON
O vice-presidente da Câmara
de Comércio dos EUA, Mark
Smith, esteve no Brasil na semana passada para tratar dos
interesses de 75 empresas americanas com negócios no pais
-entre elas, as 11 pesquisadas
pela Folha cujos balanços traçam avaliações pessimistas em
relação ao país.
"Vim procurar todo tipo de
gente, nos ministérios, no governo e no Congresso para ver
o que podemos fazer. Infelizmente, estamos vendo um momento muito negativo, principalmente na área de infra-estrutura", afirma.
"Muitas companhias da área
estão no limite de abandonar
suas atividades no Brasil."
Smith esteve no Brasil com 15
empresários e nove congressistas norte-americanos. Leia a
entrevista que concedeu, de
Brasília, à Folha:
(FERNANDO CANZIAN)
Folha - A safra de balanços do
primeiro trimestre das empresas americanas com investimentos no Brasil revela um quadro
bem negativo. O que vai mal?
Mark Smith - O Brasil está indo muito devagar. Há uma série de fatores e incertezas. A taxa de crescimento está muito
baixa, os juros, muito altos, e a
flutuação no câmbio prejudica
muito. Nossos resultados são
muito pequenos quando o valor das operações em reais são
convertidos para dólares
Ainda há um interesse em relação ao Brasil, mas a tendência
de aumento de investimentos
caiu muito nos dois últimos
anos. Agora, infelizmente, o
que estamos vendo é um momento muito negativo, principalmente na área de infra-estrutura. Bilhões de dólares estão deixando de vir para o Brasil e isso não é bom.
Folha - Muita gente diz, no entanto, que há uma mudança positiva na percepção em relação
ao Brasil. Não melhorou?
Smith - Apesar de o Brasil estar caminhando em um trajetória positiva em termos macroeconômicos, ainda há muito trabalho a ser feito. O Brasil
perdeu muito terreno no ano
passado. Estamos olhando para o país agora no mesmo ponto em que estávamos antes das
eleições.
Quando você tem uma moeda perdendo 40% de seu valor
em um ano e o risco-país explodindo de 800 para 2.300
pontos, não podemos chamar
isso de ambiente estável ou
mesmo sustentável.
O Brasil precisa acabar com
esses ciclos de altos e baixos.
Eles não ajudam em nada a
criar um ambiente onde o investidor saiba o que vai acontecer para poder colocar o dinheiro no país.
Folha - No caso das empresas,
quais os problemas específicos?
Smith - Existem enormes incertezas em relação aos negócios de várias companhias em
muitos setores. A Monsanto,
por exemplo, não tem segurança de como a questão dos produtos geneticamente modificados será tratada no Brasil. A
AT&T está fechando suas operações por uma série de razões.
A Bellsouth teve inúmeros problemas regulatórios não-resolvidos e dificuldades com seus
parceiros no Brasil. Outros perderam muito dinheiro no Brasil. Seus negócios aqui estão seriamente ameaçados.
Se você olhar para o setor
energético, ainda não houve
uma recuperação das perdas
impostas pelo racionamento
de energia em 2001. Em toda a
área de infra-estrutura, as companhias americanas estão perdendo uma quantidade monumental de dinheiro.
No setor de consumo em geral, tivemos períodos muito difíceis e estamos só estamos começando, ainda muito lentamente, a ver as coisas melhorarem um pouco. O que você viu
nos balanços das empresas reflete simplesmente essas dificuldades que mencionei.
Folha - Muitas empresas migraram para a exportação. Não
está funcionando?
Smith - Nos últimos meses, os
grandes investidores que temos aqui de fato transferiram
parte de suas operações para a
exportação. Mas, ironicamente, o crescimento relacionado
às vendas externas agora está se
tornando um novo desafio por
causa da apreciação do real. Estamos vendo as coisas ficarem
mais difíceis de novo.
A volatilidade no câmbio hoje é imensa e qualquer planejamento fica totalmente prejudicado. Tenho ouvido de uma série de empresas que exportam
de telefones celulares e carros a
aparelhos de ar-condicionado
e microondas que suas operações estão agora em perigo por
causa da apreciação do real.
Folha - O Brasil precisa de novos investimentos para crescer
sem inflação e para continuar
exportando. Vamos ter?
Smith - Depende muito de cada setor. Nas áreas mais orientadas ao consumo é possível
que haja um aumento. Mas isso
só vai ocorrer a partir do momento em que a economia realmente se estabilizar e começar
a crescer.
No setor de infra-estrutura,
principalmente nos segmentos
de energia elétrica e telefonia,
enquanto não tivermos regras
claras e novos modelos regulatórios, não haverá nenhum novo investimento.
Pior. Muitas dessas companhias estão na verdade no limite de abandonarem as suas atividades no país dependendo
das decisões que venham a ser
tomadas pelo governo.
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