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POR BAIXO
Número de trabalhadores formais que ganham até dois mínimos cresceu de 68% para 72% entre 2002 e 2004
Crescem os empregos com salários baixos
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cresce o número de empregos
formais no país, mas é cada vez
mais precária a qualidade das vagas criadas. Sete em cada dez trabalhadores que entraram no mercado de trabalho com carteira assinada ou voltaram para ele entre
janeiro e junho deste ano receberam entre meio (R$ 130) e dois salários mínimos (R$ 520).
Esse é o perfil do 1,034 milhão
de empregos criados (saldo entre
os 5,69 milhões de admissões e os
4,66 milhões de demissões) no
Brasil no primeiro semestre deste
ano, segundo estudo inédito feito
pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômicos), com base no
Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.
A qualidade do emprego tem
piorado ano a ano. No primeiro
semestre de 2002, último ano do
governo FHC, 68% dos trabalhadores ganhavam até dois mínimos. No mesmo período de 2003,
primeiro ano do governo Lula, esse percentual subiu para 71,93%.
Neste ano, chegou a 72,13%.
O trabalhador demitido foi
substituído por outro que ganha
até 40% menos no primeiro semestre deste ano, dependendo do
setor em que trabalhava. O achatamento salarial é um fenômeno
que se verifica desde 1995, quando
o Caged passou a divulgar dados
para o período de janeiro a junho.
Na média de todos os setores, a
redução salarial foi de 14% no primeiro semestre deste ano, considerados os valores nominais. Trata-se de um fenômeno exemplificado pela troca de um salário de
R$ 100 por outro de R$ 85,96.
No ano passado e em 2002, o
achatamento foi da mesma ordem -variou entre 14% e 15%.
Mas em 2001, ano em que a economia sofreu com os efeitos do
"apagão", o rebaixamento de salários foi menor: de 10,3%.
Precariedade
"O país está gerando mais emprego com carteira assinada, mas
a qualidade desse emprego é precária. Isso tem impacto tanto na
recuperação do poder aquisitivo
do trabalhador como no crescimento da economia", diz José Silvestre, supervisor do Dieese.
Pelo levantamento, a maior parte dos postos de trabalho (2,2 milhões) abertos no primeiro semestre oferece remuneração na
faixa de 1,01 a 1,5 salário mínimo
-o que representa 38,76% do total de vagas abertas (5,7 milhões).
Outro 1,3 milhão de trabalhadores foi contratado por 1,51 a 2 mínimos -ou 22,52%. Mais 996,7
mil estão na faixa de 2,01 a 3 salários, o que equivale a 17,49%.
As contratações são significativamente menores nas faixas superiores a três salários mínimos
(R$ 780). Os salários pagos na faixa de 7,01 a 10 mínimos (R$
1.822,60 a R$ 2.600) representam
apenas 0,94% das admissões.
O emprego neste ano está mais
precário do que no ano passado.
No primeiro semestre de 2003,
dos 5,03 milhões de vagas abertas,
36,97% estavam na faixa de 1,01 a
1,5 mínimo. No mesmo período
de 2002, essa faixa salarial equivalia a 36,97% do total de contratados (5,04 milhões).
O achatamento de salários por
meio da troca de salários maiores
por menores é constatado em todos os setores da economia.
Indústria lidera
Na indústria, a rotatividade da
mão-de-obra resultou em uma
redução salarial de 16%. De janeiro a junho, a renda mensal média
dos demitidos era de R$ 601, e a
dos contratados, de R$ 505.
A diminuição salarial no comércio foi, em média, de 14,5%.
No setor de serviços, de 13,5%. Na
construção civil, de 9%. Já na agricultura, o achatamento nos salários chegou a 8,3%.
"São sinais ruins. São indícios
de que a tendência é de deterioração do padrão de remuneração do
setor formal da economia", afirma Claudio Dedecca, professor
da Unicamp. Para ele, apesar de
haver recuperação do emprego, é
preocupante a troca de empregados com achatamento de salários.
"O crescimento econômico depende de aumento de gastos públicos, de investimentos do setor
privado e de recuperação da renda para o consumo. Isso não está
ocorrendo", afirma Dedecca.
O Caged mostra rebaixamento
na renda do trabalhador, enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) e a Fundação Seade/Dieese identificam ligeira recuperação no rendimento
dos ocupados. É que o Caged considera apenas o mercado de trabalho formal no setor privado.
IBGE e Seade/Dieese medem o
emprego formal e informal em
seis regiões metropolitanas, nos
setores público e privado. A recuperação da renda, quando ocorre,
de acordo com as pesquisas dessas instituições, é de forma pontual (não-contínua) e mais concentrada no mercado informal,
dizem os especialistas.
"A renda no mercado informal
reage mais rapidamente do que
no formal porque esse setor lida
com valores mais baixos", diz Silvestre. Na pesquisa divulgada pelo Seade/Dieese na semana passada, o rendimento de quem não
tem carteira assinada cresceu
3,6% em maio na comparação
com abril. O dos com carteira,
1,8% no mesmo período.
O Caged mostra um cenário diferente. "A massa salarial [soma
de todos os salários] dos admitidos não cresce na mesma proporção do emprego", diz Álvaro Comin, diretor-científico do Cebrap
(Centro Brasileiro de análise e
Planejamento). Enquanto a massa salarial cresceu 13,18% de janeiro a junho de 2004 em comparação a igual período de 2003, o emprego (saldo de admitidos e desligados) subiu 84,4%.
De janeiro a junho de 2004, o
trabalhador admitido colocou no
bolso R$ 490 por mês, em média.
Enquanto a renda média dos demitidos no mesmo período foi de
R$ 570 mensais.
O metalúrgico José Carlos de
Alencar Dias, 26, conta que viveu
"na pele" o rebaixamento de salários. "Há três anos recebia salário
de R$ 800. Fiquei desempregado e
consegui emprego com carteira
assinada em uma autopeça da
Mooca em março deste ano por
R$ 450", diz. "As empresas exigem cada vez mais qualificação,
escolaridade, mas não estão pagando muito mais por isso."
Constituído com base em informações enviadas mensalmente
pelas empresas, o cadastro tem
servido de vitrine oficial dos avanços na expansão do emprego formal anunciados pelo governo.
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