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Pesquisa revela que há crescentes restrições a benefícios como pagamento de aluguel e escola para os filhos
Altos executivos sofrem os efeitos da "juniorização"
DA REPORTAGEM LOCAL
A elite do mundo corporativo já
sofre achatamento de salário. Sai
o executivo com rendimento
maior e mais experiência e entra o
profissional mais jovem, com menor salário e menos benefícios. É a
chamada "juniorização" no alto
escalão das empresas.
A tendência foi constatada em
pesquisa realizada pela Lens &
Minarelli, empresa de recolocação de executivos, com 400 profissionais que ganhavam acima de
R$ 10 mil mensais. São gerentes,
diretores e presidentes demitidos
de companhias de vários setores
no segundo semestre de 2002
-período pré-eleitoral- e durante o ano de 2003 -primeiro
do governo Lula.
Para Mariá Giuliese, diretora-executiva da consultoria e coordenadora da pesquisa, o achatamento salarial reflete o encolhimento do mercado de trabalho, a
globalização, a redução de investimentos e o aumento de fusões e
de aquisições de empresas.
"Em vez de um executivo para
cada país da América Latina, agora um só diretor cuida da região
de forma global", diz Giuliese.
Além do corte nos salários, benefícios como pagamento de escola para os filhos, de aluguel e de
viagens estão mais restritos. "As
empresas oferecem benefícios
que, na verdade, são instrumentos de trabalho, como carro, laptop e assinatura de jornais. O benefício deixa de ser um atrativo e
passa a ser uma necessidade."
"O que constatamos é que há
uma forte pressão para diminuir
salários e cortar benefícios. A empresa demite um profissional sênior e coloca em seu lugar um júnior para comandar a companhia", afirma.
Para muitos, um "alívio"
Essas mudanças no mercado de
trabalho do alto escalão tiveram
forte impacto nos profissionais. A
demissão, antes motivo de preocupação e estresse, virou "alívio".
No levantamento, 34,1% dos
profissionais informaram que se
sentiam aliviados com a demissão. No estudo anterior, realizado
em 2001 e no primeiro semestre
de 2002, eram 24,4%. Ao mesmo
tempo, caiu de 56,6% para 46,8%
o índice de executivos que se sentiram revoltados com a demissão.
"As pressões e o aumento das
exigências no trabalho provocaram essa inversão de valores", diz
a coordenadora da pesquisa. Segundo ela, a substituição de executivos de salários mais altos por
mais baixos é uma tendência que
se intensificou desde 2001.
Para Iêda Novais, sócia da consultoria Mariaca & Associates, o
corte nos salários é uma tendência mundial "sem volta".
"As empresas estão mais espartanas. Só uma nova guerra de talentos, como a que ocorreu em
2000/1 com as empresas de telecomunicações, poderia mudar essa
realidade. Para ganhar muito, um
executivo tem de dar muito resultado para a companhia em que
trabalha", afirma Novais.
De acordo com levantamento
feito pelo Dieese a partir de dados
do Caged (cadastro do Ministério
do Trabalho) do primeiro semestre deste ano, o achatamento salarial é maior entre os trabalhadores com escolaridade mais alta.
A redução de salários entre os
profissionais com curso superior
completo admitidos e demitidos
foi de 24,6%. Exemplo: uma vaga
ocupada por um executivo que
ganhava R$ 10 mil foi trocada por
outro com salário de R$ 7.540.
Na média, o achatamento salarial é de 14%. Essa redução foi menor (de 5%) entre os empregados
sem escolaridade.
(CR e FF)
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