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ANÁLISE
Mundo rico vive sob risco de estagnação
DO "FINANCIAL TIMES"
Os mercados e as economias jamais se movem
exatamente em sincronia. Mas
neste ano vem sendo mais difícil
do que o normal vincular as Bolsas às perspectivas econômicas.
Até a metade do terceiro trimestre, o otimismo sobre a recuperação da economia mundial era elevado. Os mercados, no entanto,
estavam claramente pouco impressionados, estagnados até a
metade de maio e caindo rapidamente em junho e julho.
As preocupações crescentes se
refletem no tema da reunião de
dirigentes de bancos centrais e
acadêmicos realizada em Jackson
Hole, nas Montanhas Rochosas
(EUA). As discussões deste final
de semana estão centradas em
"repensar as políticas de estabilização", um tema muito distante
das preocupações do ano passado, sobre "política econômica para a era da informação".
O quadro econômico mais sombrio é em parte simples reflexo
dos recentes problemas nos mercados de ações e títulos corporativos. Mas o mais importante são os
dados econômicos decepcionantes que surgiram depois do segundo trimestre, o medo de uma nova guerra no golfo Pérsico e um
nervosismo quanto à possibilidade de que os excessos cometidos
nos mercados financeiros no final
dos anos 90 deixem cicatrizes duradouras.
As economias de grande porte
simplesmente não estão crescendo tão rápido quanto se esperava,
a despeito das taxas de juros extremamente baixas em todos os
países desenvolvidos. O crescimento nos EUA desacelerou severamente. No segundo trimestre, o
país cresceu em ritmo anualizado
de apenas 1,1%, e mesmo esse resultado se deveu à reconstituição
de estoques pelas empresas. Com
a queda contínua nos investimentos, a perspectiva de crescimento
rápido da produtividade se deteriorou, debilitando ainda mais a
tese de uma mudança no ritmo de
crescimento relacionada à "nova
economia".
Desemprego em alta
Na Europa, a demanda doméstica se recusa a decolar como esperado. Os consumidores e as
empresas não mostram sinais de
que aumentarão seus gastos. Em
lugar disso, o desemprego crescente domina o debate público.
Ainda que tenha havido uma recuperação no crescimento do Sudeste Asiática, a estagnação do Japão continua. Os números do
crescimento econômico japonês
não oferecem esperança de recuperação. Em lugar de crescimento
de 5,8% no primeiro trimestre,
como inicialmente registrado, o
governo acredita agora que não
tenha havido crescimento.
Os números decepcionantes do
trimestre até agora foram agravados pela alta nos preços do petróleo, que deriva do medo de uma
guerra no Iraque. Assim, a consequência imprevista e indesejada
da pressão dos EUA sobre o regime iraquiano foi um aumento nos
custos das empresas.
Talvez a maior causa de preocupação seja o fato de que, em muitas economias avançadas, o consumo não pode mais ser visto como força propulsora. Se, como
parece cada vez mais provável, os
excessos da década de 90 estimularam um aumento do consumo
superior ao sustentável, a subsequente volta à realidade persuadirá muitos consumidores a aumentarem sua poupança. Esse
ajuste poderia ter efeitos extremamente desestabilizadores. O
exemplo do Japão mostra como é
difícil administrar um declínio
nos preços dos ativos.
Balanço de riscos
Assim, nenhum dos dirigentes
de bancos centrais presente em
Jackson Hole deve estar tendo ilusões quanto ao balanço dos riscos
na economia mundial. Os riscos
de inflação são mínimos. De fato,
um pouco mais de inflação poderia ajudar a aliviar a carga de dívida dos domicílios e empresas.
Mas o risco de estagnação no longo prazo pode crescer.
Se a política monetária era apropriada, no segundo trimestre,
agora ela se provou apertada demais. Seria melhor arriscar baixar
as taxas de juros para zero, a fim
de evitar a estagnação.
Os governos também deveriam
permitir que seus déficits orçamentários cresçam, enquanto a
arrecadação tributária cai abaixo
do esperado e o gasto com o seguro social aumenta. Isso significar
um embaraço para o pacto europeu de estabilidade, que tenta limitar o déficit público a 3% do
PIB (Produto Interno bruto), mas
não há como evitá-lo.
Mas novas medidas fiscais deveriam ser evitadas, porque seus
efeitos são ambíguos e muitas vezes mal sincronizados, e os orçamentos dos governos não são tão
saudáveis quanto se supunha. A
conversa do governo norte-americano sobre reduzir ainda mais o
imposto sobre os ganhos de capital, por exemplo, não beneficiaria
em nada as perspectivas econômicas imediatas. Prejudicaria a
credibilidade da administração
orçamentária de longo prazo.
Crescimento econômico sustentável e firme é a ambição de todos os governos. E oferece também as melhores condições para
retornos saudáveis sobre os investimentos. Mas, no clima econômico atual, com as forças da estagnação demonstrando vigor,
obter taxas decentes de crescimento será difícil. A estabilidade
em si talvez seja a melhor esperança, até que a ressaca dos anos
90 seja coisa do passado.
Tradução de Paulo Migliacci
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