São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Fundos acumulam saldo negativo no ano

Até 26 de agosto, fundos de investimento acumulam resgates líquidos de R$ 8 bi; em 2007, captação superou R$ 50 bi

Concorrência dos CDBs, que têm pago taxas maiores, prejudica os fundos; Bolsa em fase ruim pode dificultar recuperação do mercado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A expansão do mercado de fundos de investimento, que se mantinha de forma contínua desde 2003, sofreu uma reversão neste ano. Saques mais fortes fizeram com que, pela primeira vez desde 2002, a captação dos fundos de investimento passasse a ser negativa.
Neste ano, até o último dia 26, a indústria de fundos amargava captação líquida (a diferença entre as aplicações e os resgates) negativa que batia em R$ 8 bilhões, segundo dados levantados pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). A elevação da rentabilidade dos CDBs, aliada a um cenário bastante ruim para a Bolsa de Valores, tem feito o brasileiro rever suas opções de investimento.
No ano passado, as aplicações nos fundos superaram os saques em R$ 50,4 bilhões. Em 2006, outros R$ 68,4 bilhões líquidos haviam aportado no mercado de fundos.
A categoria que mais sofreu resgates líquidos neste ano é a de multimercados, que computava captação anual negativa de R$ 28,6 bilhões até o dia 26. Os multimercados são fundos com a característica de poderem aplicar seus recursos em diferentes segmentos, como ações, papéis públicos e privados que pagam juros, câmbio e outros.
A concorrência dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) se tornou um problema crescente para a indústria de fundos nos últimos meses. Como os bancos têm encontrado maiores dificuldades para conseguir captar recursos, em um cenário de crescimento do crédito, uma opção encontrada por eles foi a de aumentar o retorno que oferecem nos CDBs.
Títulos emitidos pela maioria dos bancos e vendidos a seus clientes, os CDBs pagam uma taxa de juros a quem opta por aplicar neles. Além do retorno mais elevado nos últimos meses, os CDBs levam vantagem sobre os fundos por não cobrarem taxa de administração, que representam um custo ao investidor que costuma variar de 1% a 4%. Ou seja, seu ganho líquido tende a ser maior.
E o investidor parece ter notado essas vantagens. Tanto que uma categoria com forte resgate no ano é a de renda fixa que, em tese, deveria estar se tornando mais atrativa com o aumento da taxa básica de juros. Os fundos de renda fixa, que ainda são a maior categoria do mercado, representando 30% do total aplicado, estão com resgates líquidos de R$ 17,3 bilhões neste ano.
Já o estoque dos CDBs superou em agosto pela primeira vez os R$ 520 bilhões, com uma expansão de mais de 50% neste ano. Isso indica que não só houve gente que saiu dos fundos, mas muito investidor preferiu direcionar suas novas economias para os CDBs.

Bolsa desfavorável
Apesar de a Bolsa de Valores de São Paulo ter enfrentado seu terceiro mês consecutivo de queda, os investidores ainda não correram para sacar seus recursos dos fundos de ações. Até a semana passada, os fundos de ações registravam aplicações líquidas de R$ 155,5 milhões no mês. Em agosto, a Bolsa acumulou desvalorização de 6,4%, sendo mais uma vez a pior opção de investimento.
"O que os últimos meses mostraram para o investidor, principalmente aquele que não estava acostumado com a Bolsa, é que não há sempre ganhos fáceis com as ações. Com o susto que muita gente tem levado desde junho, entendo que uma entrada mais forte de recursos no mercado de ações vai demorar para voltar a ocorrer", afirma Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA Consultores.


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