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Produção industrial tem queda em maio
Indústria já começa a sentir efeito da inflação e dos juros; calendário também influiu no desempenho
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob influência de inflação e
juros mais altos, do câmbio e do
calendário desfavoráveis, a
produção industrial dá os primeiros sinais de arrefecimento:
em maio, caiu 0,5% na comparação livre de efeitos sazonais
com abril, quando havia crescido 0,2%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Já em relação a
maio de 2007, houve expansão
de 2,4%, abaixo da registrada
em abril (10%)
Iniciado em abril, o aumento
da taxa básica Selic não teve
ainda um efeito direto sobre a
produção, mas as perspectivas
de elevação já tinham aumentado os juros futuros de mercado desde dezembro passado. O
fenômeno mexeu agora com as
expectativas de empresários,
segundo o economista Tomás
Gourlart, do banco Modal.
O economista Sérgio Vale, da
MB Associados, compartilha da
mesma opinião: "Os juros futuros mais altos já afetam as expectativas e podem ter mexido
com decisões de investimento".
Um primeiro sinal de alerta,
diz, é a freada na produção de
bens de capital (máquinas e
equipamentos), importante
componente do investimento.
Em relação a abril, a categoria
registrou queda de 4,9% -o
pior resultado desde junho de
2005 (6,1%).
"Foi uma desaceleração muito forte. Espero que não seja
uma tendência, mas a produção
de bens de capital deve desacelerar daqui para a frente, embora não com a mesma intensidade de maio", diz Vale.
Para Goulart, a queda dos
bens de capital foi a principal
"notícia negativa" revelada pela
pesquisa do IBGE de maio. No
entanto, o setor que teve o
maior impacto negativo no desempenho da indústria foi o de
veículos automotores (-5,5%).
Para Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, porém, o setor vive um quadro de
"estabilização da produção
neste ano", embora num patamar elevado.
O coordenador do IBGE ressaltou ainda que o recuo de
abril para maio foi provocado
especialmente pelo "efeito calendário". Diferentemente do
padrão histórico, diz, maio teve
um dia útil a menos -em geral,
registra 1,3 dia a mais.
Bens de capital
De acordo com dados divulgados ontem pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria
de Máquinas e Equipamentos),
o setor obteve faturamento de
R$ 29,7 bilhões entre janeiro e
maio deste ano, alta de 26% em
relação ao mesmo período de
2007. Na comparação mês a
mês, porém, a taxa de crescimento decresceu de 46,7% em
janeiro para 13,4% em maio.
Na avaliação do presidente
da Abimaq, Luiz Aubert Neto, o
setor já caminha para um ritmo
de desaceleração que pode resultar em crescimento zero em
2009, como conseqüência dos
efeitos dos juros e do câmbio.
Para este ano, a Abimaq projeta
crescimento de 10% a 12% no
faturamento. Essa evolução deve-se ao fato de que uma parcela das encomendas para este
ano já foi realizada, diz Aubert.
A Abimaq prepara um estudo
sobre as tarifas de importação
praticadas no setor. Segundo o
presidente da entidade, o imposto de importação para bens
de capital fica em torno de 9%,
enquanto o setor automotivo
tem uma tarifa de 35%, e o setor
naval, 48%. "Isso é mais uma
fragilidade que enfrentamos."
Com PAULO ARAUJO , colaboração para a Folha
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