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Produção industrial reage e cresce 2,7% em junho
Expansão no semestre foi de 6,3%, a mais alta do período desde o 1º semestre de 04
Fabricação de máquinas puxa o setor; para analistas, aumento da taxa de juros começará a afetar a indústria neste trimestre
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Ainda imune à mais recente
alta da taxa básica de juros, a
produção da indústria reagiu
em junho e cresceu 2,7% na
comparação com maio, quando
havia caído 0,6%. Em relação a
junho do ano passado, a alta foi
ainda maior, de 6,6%. Foi a
maior taxa mensal desde os
3,5% de outubro de 2007. Os
dados são do IBGE.
Com o resultado, a indústria
fechou o primeiro semestre de
2008 com crescimento de 6,3%
-a mais alta taxa desde o mesmo período de 2004 (8,3%).
O crescimento tem outro aspecto positivo: foi puxado pelo
setor de máquinas e equipamentos, o que mostra tendência de elevação da produção.
Para Sílvio Sales, do IBGE, os
dados de junho foram "amplamente positivos", com expansão "generalizada". O setor, diz,
atingiu novo pico no patamar
de produção em junho e deixou
para trás o cenário de acomodação de meses anteriores.
Segundo ele, o aperto monetário ainda não repercutiu no
setor fabril. "Os números sugerem que, pelo menos até agora,
não houve nenhum impacto na
atividade industrial da mudança na taxa de juros."
Sales ressalva que ainda é cedo para dizer se o resultado de
junho representa uma nova fase de aceleração do crescimento da produção industrial. Um
dos pontos de incógnita, diz, é o
aumento dos estoques, apontado pela sondagem da CNI
(Confederação da Nacional da
Indústria) com empresários.
O indicador de estoques
avançou de 49,9 pontos no primeiro trimestre para 50,6 no
segundo trimestre, numa escala de 0 a 100. "A sondagem mostrou que os estoques estão acima do planejado. Se isso se confirmar, pode desacelerar a produção da indústria neste segundo semestre", disse Sales.
No primeiro semestre, diz,
prevaleceram ainda as influências positivas do aumento do
emprego, da massa salarial e do
crédito. Em junho, o efeito calendário também jogou a favor
-teve um dia a mais em relação
a 2007 e à média histórica.
Especialistas ouvidos pela
Folha dizem que o efeito da alta dos juros será sentido só a
partir do terceiro trimestre do
ano e, com mais intensidade,
em 2009 e terá repercussão na
indústria e no PIB.
Para Sérgio Vale, da MB Associados, a indústria sofrerá
com a alta dos juros no final do
terceiro trimestre, quando o
PIB deve se desacelerar de um
crescimento previsto de 5,4%
nos seis primeiros meses do
ano para 4,2%. Segundo ele, o
país corre ainda o risco de repetir novo ciclo de expansão menor da economia, como ocorreu de 2004 a 2006, quando o
ciclo de alta dos juros reduziu o
crescimento no período.
"A tentativa do Banco Central de trazer a inflação rapidamente para a meta, em apenas
um ano, tem um custo alto.
Trazer a inflação da casa de 7%
para 4,5% obrigará a um ajuste
no PIB que pode perdurar até
2010", disse. Vale ressalta que
não será, porém, uma queda
drástica da atividade. Em 2008,
o PIB deve crescer 4,8%. Em
2009, estima 3,5%.
Claudia Oshiro, da Tendências, projeta uma desaceleração
da indústria e do PIB no segundo semestre na esteira dos juros altos. No primeiro semestre, diz, não houve influência, e
o "crescimento ainda foi bastante forte". Segundo Leonardo Mello, do Ipea, o crescimento no primeiro semestre ficou
mais "volátil" (oscilando altas e
baixas mais intensas) por causa
do efeito calendário e do baixo
nível de capacidade ociosa das
indústrias, mas a mudança da
Selic só deve afetar a indústria
ao final do terceiro trimestre.
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