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Trem toma lugar de caminhão em Santos
Volume de carga descarregada no porto via ferrovia passa de 17,6% para 23,6% do total no primeiro semestre deste ano
Tendência pode aliviar
trânsito em São Paulo,
por onde passam todos os
caminhões que rumam
para o porto de Santos
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas locomotivas a plenos
pulmões arrastam os 73 vagões
carregados de grãos até o corredor de exportação, na Ponta da
Praia, no porto de Santos (SP).
O apito estridente da máquina vai abrindo caminho por entre carretas e gente. O vaivém
dos trens tem se tornado mais
freqüente, e a predominância
da frota de até 13 mil caminhões diários na área portuária
parece ameaçada.
A Portofer, uma minicompanhia ferroviária responsável
por distribuir os vagões pelo
porto de Santos, bate recordes
de movimentação e, depois de
viver dias de completa inoperância, dá mostras de que pode
resolver um dos maiores gargalos do maior complexo portuário do país: a dependência do
caminhão. A volta das ferrovias
é importante, principalmente
ante a perspectiva do governo
federal de ampliar a capacidade
de movimentação de carga em
Santos para além de 200 milhões de toneladas.
Números inéditos divulgados pela ALL (América Latina
Logística) -responsável pelas
operações da Portofer- e pela
MRS Logística indicam crescimento de 30% no volume de
carga entregue no porto sobre
os ombros dos trens.
De janeiro a junho de 2007, a
operadora movimentou 6,8 milhões de toneladas dentro de
Santos. No primeiro semestre
deste ano, o volume de carga
manobrada pela Portofer deve
ter ultrapassado os 8,8 milhões
de toneladas. O número ainda é
aproximado devido ao balanço
semestral da ALL, que será divulgado nos próximos dias.
A MRS elevou a movimentação em Santos de 1,6 milhão para 1,8 milhão de toneladas do
primeiro semestre de 2007 para o mesmo período em 2008.
Já a ALL registrou aumento no
transporte de carga de 5,2 milhões de toneladas para cerca
de 7 milhões.
Trânsito
O novo cenário ferroviário
em Santos indica tendência de
redução ainda mais forte da
participação dos caminhões na
divisão das cargas que cruzam o
porto. A nova perspectiva pode
aliviar a atual situação caótica
do trânsito em São Paulo, por
onde passam todos os caminhões que rumam para o porto
de Santos. Cada vagão de trem
carrega o equivalente a três caminhões com capacidade de 30
toneladas ou dois bitrens, veículos de até nove eixos que entopem o corredor da avenida
dos Bandeirantes.
Dados da Codesp (Companhia Docas de São Paulo), a administradora do porto de Santos, também confirmam a tendência de mudança da matriz
de transportes que serve o porto. No primeiro semestre de
2007, passaram pela área portuária 38,8 milhões de toneladas em carga; entre os itens, soja, milho, celulose, fertilizante,
adubo, contêineres.
No ano passado, a participação da ferrovia no transporte
desse volume alcançou 17,6%
do volume total. Considerada a
primeira metade de 2008, segundo dados obtidos com exclusividade pela Folha, o transporte ferroviário já alcançou a
marca de 23,6%, seis pontos
percentuais a mais do que o
mesmo período de 2007.
Migração
Pelo levantamento da Codesp, houve uma migração do
transporte rodoviário para o
ferroviário. Isso porque o volume de carga movimentada em
Santos no primeiro semestre
caiu 4,1% sobre os dados de
2007, de 38,8 milhões para 37,3
milhões de toneladas.
O espaço tomado na matriz
de transporte que serve o porto
começou a ser quebrado depois
de retomados os investimentos. Entre 2006 e 2008, um
aporte relativamente modesto
para os benefícios deu um novo
impulso para a Portofer. Foram
R$ 32 milhões aplicados basicamente na recuperação da
malha ferroviária. Desses, R$ 9
milhões serão usados ainda
neste ano, 90% na recuperação
de trilhos e dormentes.
"Em 2008, começamos a fazer os investimentos na malha
portuária. Demorou porque
primeiro tínhamos que fazer as
composições chegarem ao porto", diz Felipe Figueiredo Gonçalves, gerente da Portofer. O
novo ciclo de investimento ferroviário, agora orientado para o
porto, pode sustentar a migração da carga para a ferrovia.
O principal projeto em andamento, patrocinado pelos recursos do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento, do
governo federal), é a reforma
dos oito quilômetros da via Perimetral da margem direita. A
nova via expressa do porto vai
finalmente segregar a linha do
trem das avenidas.
O investimento é de R$ 58
milhões. Para a Portofer, que
disputa espaço na área portuária com os caminhões, a nova
estrutura oferecerá ganhos ainda nem mensurados. O principal será a possibilidade de permitir que trens carregados com
soja ou com açúcar sigam para
os terminais ao mesmo tempo,
por linhas diferentes. Hoje, isso
ainda não é possível.
"Quando estamos operando
no terminal açucareiro, os
trens carregados com soja ou
milho não podem alcançar os
armazéns no fim do porto",
afirma Gonçalves.
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