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Desigualdade de renda é freio para o crescimento
DA REPORTAGEM LOCAL
A desigualdade de renda e de
padrão de consumo é, segundo os
economistas, o principal freio para o crescimento econômico. Em
contrapartida, uma rápida recuperação da renda desses segmentos poderia significar uma ameaça de aumento da inflação. "A demanda reprimida do brasileiro é
imensa e qualquer renda adicional é consumo na veia", diz a economista Lídia Goldenstein.
Em 2003, segundo ela, além da
corrosão da renda real houve encolhimento da renda disponível
para o consumo. A capacidade de
consumo das famílias mais pobres foi corroída pelo aumento
dos preços administrados (luz,
água, telefone e gás), que consumiam 15% da renda desses segmentos na última POF (Pesquisa
de Orçamento Familiar), de 1996,
e agora consomem de 30% a 35%.
A capacidade de consumo chegou a um nível tão baixo que os
economistas não vêm risco de que
a recuperação da renda -seja via
aumentos salariais que repõem a
inflação ou pelo aumento do crédito- pressione a inflação neste
ano. "Não acredito que ocorra
pressão inflacionária pelo lado da
demanda no curto prazo", diz
Goldenstein.
Segundo a economista, com o
crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) projetado para 2004, "os setores que hoje estão
fora do mercado consumidor não
vão nem se coçar". Ela diz que,
com tal nível de crescimento econômico, o emprego deve reagir
pouco e, portanto, não há risco de
haver explosão de demanda.
O nível de recuperação econômica esperado também não deverá esbarrar nos limites da capacidade de produção da indústria.
Segundo Aloisio Campelo, economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), "há ociosidade alta
em quase todos os setores".
O setor de bens de consumo
apresentava 22,7% de ociosidade
em outubro, data da última Sondagem Conjuntural da Indústria
de Transformação, da FGV. "É
um índice alto", diz Campelo.
No entanto alguns segmentos
de bens de consumo, como o de
alimentos industrializados, preocupam os analistas. Esse setor registrava em outubro apenas 12%
de capacidade ociosa. "A demanda de alimentos responde rapidamente à recomposição de renda, e
o setor não vem fazendo investimentos em expansão", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida,
economista do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial).
Segundo ele, se houver crescimento mais forte no consumo, o
setor de alimentos levará seis meses para bater no teto da capacidade produtiva.
O que o governo teme é que,
com o aumento da demanda, os
setores de bens de consumo partam para recomposição de margens de lucro. Segundo Almeida,
há várias empresas no país que estão com margem negativa ou próxima de zero.
(SB)
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