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ANÁLISE
O otimismo do consumidor norte-americano está em teste
ALAN BEATTIE
DO "FINANCIAL TIMES"
Para um grupo cuja reputação é
de inatividade, a equipe econômica de Bush ganhou vida, subitamente, nesta semana. A notícia de
que a produção dos EUA se reduzira mal chegara às Bolsas quando
Paul O'Neill, o secretário do Tesouro, Lawrence Lindsey, assessor econômico da Casa Branca, e
Ari Fleischer, o porta-voz de
Bush, surgiram para garantir que
a recuperação seguia nos trilhos.
Por trás desse surto de energia
está o medo de que pelo quase
congelamento dos mercados de
capitais e por um devastador ataque terrorista nos últimos cinco
anos, os consumidores norte-americanos caiam agora vítimas
da correção nos preços das ações.
A preocupação é que os consumidores decidam olhar de maneira crítica suas dívidas e optem por
apertar os cintos.
A regra de cálculo usada pela
administração é que cada dólar de
declínio no patrimônio acionário
reduz em três a cinco centavos de
dólares o consumo. A queda no
patrimônio acionário americano
em junho e julho foi de cerca de
US$ 1,6 trilhão, o que implica queda de 0,5% a 0,8% no crescimento
do PIB dos EUA em alguns anos.
Além do mais, os efeitos talvez
sejam menores do que supõem os
cálculos. O crescimento do consumo nos anos 90 não acompanhou o ritmo das Bolsas, o que
implica que os domicílios não
acreditaram que seus ganhos patrimoniais fossem permanentes.
Reequilíbrio
Um risco maior seria o de que a
queda das ações cause um reequilíbrio mais acentuado dos orçamentos, com as famílias cortando
gastos para pagar suas dívidas.
Mesmo admitindo um ou dois
efeitos que deprimiram a produção, os dados divulgados na semana passada demonstram que o
risco cresceu. O consumo caiu
muito no segundo trimestre de
2002 e não há sinal de recuperação que supra essa lacuna. As pesquisas sobre a confiança dos consumidores mostraram quedas pesadas e inesperadas.
A esperança das autoridades é
que qualquer queda no consumo
seja registrada ao longo de cinco
anos, prazo suficiente para que as
empresas voltem a investir. Mas o
mais recente Livro Bege, uma série de indicadores circunstanciais
compilados pelo Fed, sugere que,
por enquanto, não há sinais sérios
de que o investimento empresarial cubra a lacuna.
Até agora, a despeito dos números sobre o PIB divulgados na semana passada não existe evidência de que os domicílios estejam
se comportando de maneira diferente na presente situação.
Compressão de crédito
Jonh Lonski, economista-chefe
da Moody's, descarta a possibilidade de uma compressão de crédito no setor empresarial. O
maior problema, diz, está na procura, e não na oferta.
Assim que os consumidores decidirem, como as empresas, não
gastar mais não há o que as autoridades possam fazer a respeito.
E vem daí o claro esforço dos
animadores de torcida do governo, que querem convencer os
consumidores a gastar. Em público, o governo segue expressando
confiança em que os domicílios
não reagirão à turbulência.
Peter Fisher, subsecretário do
Tesouro norte-americano, diz
que "os EUA são uma coleção de
280 milhões das mais otimistas
pessoas do mundo".
Mais meses de más notícias poderiam abalar esse otimismo.
Tradução de Paulo Migliacci
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