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O VAIVÉM DO DÓLAR
Investimento em real fica mais atraente, enquanto respaldo do FMI ajuda a absorver contágio argentino
Especulação mais cara tira força do dólar
RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL
Ficou caro -e menos atraente- especular com dólar. Nos últimos dias, os investidores tinham
bons motivos para encher os cofres com a moeda norte-americana, como faziam a cada sinal de
problemas no Brasil ou no exterior, mas não foi o que ocorreu.
Na semana, a cotação recuou 2%.
A Argentina deu mais um passo
para o colapso econômico, a guerra no Afeganistão seguiu indefinida, a economia americana apresentou o pior resultado em dez
anos e a privatização da Copel micou. Ainda assim, o dólar caiu.
Esse movimento surpreendente
tem duas explicações. A primeira
é que o dólar está caro demais, e
os investimentos em reais ficaram
mais atraentes. O dólar teria que
chegar a R$ 3,20 no final do ano
que vem para oferecer o mesmo
rendimento dos juros de uma
aplicação em reais.
Outro motivo é que, mesmo
com tantos problemas no mundo,
os investidores estão se sentindo
mais seguros. Uma combinação
de melhores resultados na economia brasileira e sinais emitidos
nos EUA animam os investidores.
"É tudo uma questão de percepção", diz Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC Investment
Bank. "O mercado se convenceu
de que o país está mais seguro."
A maior razão dessa segurança
vem de Washington. Nos últimos
dias, os investidores leram cada
vírgula dos pronunciamentos das
autoridades americanas e do FMI
(Fundo Monetário Internacional). Concluíram que os EUA não
vão fazer força para resgatar a Argentina do abismo econômico.
Mas, mesmo com o abandono do
vizinho, o Brasil terá ajuda.
"O secretário de Tesouro dos
EUA, Paul O'Neill, deu sinais de
que as torneiras fecharam para a
Argentina, mas estão abertas para
o Brasil", diz Márcio Verri, estrategista-chefe do BankBoston.
Os investidores acreditam que,
se a crise argentina sair do controle, o Brasil não será tão afetado,
porque o FMI soltará um novo
empréstimo (estimado em US$ 10
bilhões) para estabilizar o real.
"As pessoas acreditavam que
uma moratória na Argentina levaria o dólar para R$ 3 e os juros
para 30% ao ano. Com o respaldo
do FMI, isso fica mais difícil de
ocorrer", afirma Maurício Zanella, diretor do Lloyds TSB.
Some-se a isso uma melhora
nas contas externas brasileiras.
Dólar alto e queda no consumo
inibiram as importações. No início do ano, especialistas projetavam déficit comercial de US$ 2,5
bilhões, e agora falam em superávit de US$ 1,2 bilhão. "A melhora
nas contas externas diminui a
pressão sobre o dólar, porque reduz a necessidade de financiamento do país", diz Gontijo.
Outro motivo para a queda do
dólar é o prejuízo sofrido pelos investidores. Deixar o dinheiro aplicado em dólar começou a ser visto
como mau negócio. Basta ver as
projeções dos investidores na Bolsa de Mercadorias & Futuros. O
dólar só terá o mesmo rendimento de uma aplicação em reais se a
cotação bater em R$ 3,20.
Poucos acreditam que o dólar
suba tanto. "O dólar já chegou a
um patamar alto. Pode ser desconfortável comprar mais moeda
americana, porque ficou caro demais", diz Zanella, do Lloyds TSB.
O Banco Central também contribuiu para diminuir o apetite
pelo dólar. Além de ter estreitado
o limite das aplicações dos bancos, abasteceu o mercado com títulos que rendem tanto quanto a
moeda dos EUA. "Desde o início
do ano, o governo vendeu cerca
de US$ 20 bilhões em títulos. O
mercado está estufado", diz Verri.
Quanto tempo vai durar a boa
maré? É difícil saber. Os investidores dizem que o novo pacote
argentino deve trazer mais nervosismo. A dúvida é saber se o respaldo do FMI será suficiente para
conter esse novo choque.
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