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"Lua-de-mel" depende de solução para os setores de trigo e carros
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Trigo e automóveis são as
duas principais sombras sobre
a lua-de-mel Brasil/Argentina,
a julgar pelas análises que empresários brasileiros fizeram
ontem para o presidente Lula.
O caso dos automóveis é o
mais complicado, na medida
em que o setor de um lado e de
outro da fronteira teme uma
invasão letal de produtos indianos e chineses, para não mencionar os coreanos que já estão
chegando. "É preciso aumentar
a competitividade do Mercosul
no setor", cobra Rogelio Goldfarb, diretor de Assuntos Corporativos para a América do Sul
da Ford do Brasil. Ele reclama
dos dois governos acordos bilaterais para enfrentar a concorrência externa, lembrando que
o México já os tem com todos
os grandes países ou blocos do
mundo rico e se torna um competidor importante.
Goldfarb olha não só para a
União Européia, que todos
mencionam como o acordo
mais urgente que o Mercosul
deve negociar, mas para países
geralmente fora do radar, como
Canadá, África do Sul e os do
Golfo. Mas, antes, o Mercosul
deve fazer a lição de casa, diz.
Ele lembra que Brasil e Argentina têm normas técnicas diferentes em alguns casos, o que
torna seus carros menos homologáveis internacionalmente.
No caso do trigo, o problema
é que a Argentina "não tem
mais" para vender, diz o embaixador Sergio Amaral, hoje presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo. O Brasil precisa importar metade de
seu consumo de 10,5 milhões
de toneladas/ano, mas a Argentina, o maior fornecedor, não
pode atender a demanda.
Uma terceira sombra no namoro é a queixa do empresariado brasileiro de que "os investimentos do Brasil não são sempre bem-vistos na Argentina",
como o presidente da Fiesp,
Paulo Skaf, relatou ao presidente Lula, no café da manhã
de ontem. O exemplo mais citado pelos brasileiros é o da Alpargatas, tradicional empresa
argentina que foi adquirida pela Camargo Corrêa do Brasil,
compra ainda não autorizada
pelas autoridades de defesa da
concorrência argentinas.
Lula tomou nota da observação e aproveitou seu discurso
no seminário empresarial, ao
qual compareceram também
executivos argentinos, para cobrar: "Empresário argentino
não pode olhar o Brasil como
um país competidor, mas como
um mercado potencial de 180
milhões de pessoas". Cobrou
também investimentos argentinos no Brasil, outra das reclamações dos brasileiros. "Cadê
os investimentos?", perguntara
Skaf pouco antes.
(CR)
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