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Empresas continuam sufocadas com governo Lula
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para as empresas brasileiras
com dívidas em dólar, são limitados os efeitos positivos da valorização do real durante os cem dias
de governo Lula.
O tropeço do dólar ante o real
torna os débitos em moeda estrangeira menores. No entanto,
na prática, essa valorização não
trará tantos ganhos porque uma
parcela das companhias obtém
empréstimos com taxas de juros
pré-fixadas, sem o impacto dessa
variação cambial.
Além disso, há companhias que
conseguem financiamentos com
base na cotação média da moeda
no período do contrato (de seis
meses a um ano, se for a curto
prazo, por exemplo).
Logo, o impacto da atual queda,
que ocorre só há três semanas,
tem um efeito tímido nesse conta.
Apenas companhias com empréstimos a vencer nas últimas semanas (em que o valor segue a taxa média diária do dólar) podem
ter tido algum ganho.
Pelos dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), porém, não existiram dívidas de empresas para
vencimento no período em que
ocorreu a valorização do real.
Apenas débitos de bancos.
De 10 de março até a última sexta-feira -o período de valorização da moeda brasileira- só
bancos como BNL e Banco do
Brasil tiveram de honrar com os
seus débitos.
Há ainda uma outra ressalva a
ser feita. Se por um lado a empresa pode até dever menos ao seu
credor (porque pagou as dívidas
com base na atual cotação), por
outro ela pode não alcançar a receita esperada para pagar essa
conta.
Explicando: o dólar "barato"
torna os produtos brasileiros
mais caros no exterior. E o faturamento obtido com exportação
tende a cair. Logo, a receita total
da empresa tende a encolher.
No entanto, caso seja uma forte
exportadora, como companhias
da área de máquinas e equipamentos ou metalurgia, então a receita está garantida. Mesmo que
as despesas sejam altas, a geração
de caixa em moeda estrangeira está garantida.
Exemplo: a Cosipa, empresa da
área siderúrgica, tem dívidas em
seu balanço só com variação cambial de R$ 1,3 bilhão. Mas o grupo
envia 65% de sua produção para
fora do país. Ou seja, ela recebe
em dólares.
"É claro que a questão não se resume só ao fato de ter despesas financeiras menores. Para um resultado positivo, as empresas vão
ter de reduzir custos e vender
mais", diz Alan Marinovic, economista da ABM Consulting.
Ainda está caro
Essas questões estão sendo alvo
de debates dentro das próprias
empresas, na tentativa de ver se
há ganhos com o tombo do dólar.
"Por enquanto eu não ganhei
nada com a valorização do real",
diz Sérgio Magalhães, presidente
da Enaplic, fabricante de máquinas e vice-presidente da Abimaq,
entidade do setor.
"Meus insumos importados
não reduziram de preço e acho
que nem vão reduzir. Os fornecedores já disseram que os custos
estão aumentando e que não dá
para cobrar menos pela matéria-prima", afirma ele.
Com o real valorizado, importar
insumos fica mais barato. Com isso, as matérias-primas, como aço
e componentes eletrônicos, sofrem queda nos preços.
Entretanto, essa redução não
ocorre num período curto. Os
contratos para fornecimentos de
insumos importados podem ter
preço pré-determinado -que independe da variação do câmbio. E
mesmo que o dólar caia, ainda se
paga caro pela matéria-prima por
um período.
"Há contratos no setor eletroeletrônico em que o valor pago pelo produto importado segue a cotação do dólar no dia. Agora, o
ideal é trabalhar dessa forma", diz
Paulo Saab, presidente da Eletros,
entidade que representa a área
eletroeletrônica
A dívida em moeda estrangeira
de empresas com capital aberto
(sem levar em conta os bancos)
chegou a US$ 40,5 bilhões em dezembro de 2002. Se essa dívida
fosse vencer na sexta-feira passada, elas teriam que desembolsar
R$ 130,4 bilhões. Um ano atrás, a
conta seria de R$ 92,2 bilhões.
O valor cai por causa da valorização do real, que torna o peso
das despesas das empresas menores.
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