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GOVERNO LULA CEM DIAS
Juros altos elevam ganhos das instituições financeiras e prejudicam indústria e consumidor, que perde emprego e vê renda cair
Bancos saem na frente, e trabalhador perde
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos cem primeiros dias do governo Luiz Inácio Lula da Silva,
perderam o trabalhador, o consumidor, o comércio e setores industriais que dependem do mercado interno. Ganharam os exportadores, o setor agrícola, bancos e financeiras.
É o que mostram os principais
indicadores econômicos do país
no primeiro trimestre -um período marcado pelo aprofundamento do aperto nos juros e do
corte de gastos públicos, pela alta
da inflação e pelo reequilíbrio das
contas externas por meio de um
aumento nas exportações.
Nos últimos três meses, a taxa
básica de juros da economia (a Selic) aumentou de 25% para 26,5%
ao ano. O superávit primário
-esforço que o governo faz para
pagar os juros de sua dívida- subiu de 3,75% para 4,25%. A inflação se manteve elevada. O IPCA,
do IBGE, está estimado em 4,79%
(considerando uma taxa de 0,90%
para março). Em igual período do
ano passado, foi de 1,49%.
As medidas econômicas adotadas pelo governo favoreceram o
Brasil no mercado externo. O risco-país, índice que mede a credibilidade dos papéis brasileiros,
caiu de 1.446 para 940 pontos entre 31 de dezembro e sexta-feira.
Dentro do país, porém, as medidas do novo governo ainda não
resultaram em estímulo para a
economia. O rendimento médio
do trabalhador em seis regiões
metropolitanas do país caiu de R$
894,83 em dezembro de 2002 para
R$ 849,50 em fevereiro deste ano,
segundo o IBGE. A estimativa é
que esse valor tenha continuado a
cair em março deste ano.
O comércio foi negativamente
afetado não só pela queda da renda dos trabalhadores mas também pelos juros. Nos três primeiros meses deste ano, as consultas
ao SPC (Serviço de Proteção ao
Crédito), indicador das vendas a
prazo, caíram 1,4% em São Paulo
em relação a igual período de
2002, segundo a Associação Comercial de São Paulo.
"Os primeiros cem dias de Lula
foram ruins, sim, para o consumidor e para o comércio. Mas a responsabilidade disso não é só do
governo petista. É também do governo passado", afirma Emílio Alfieri, economista da ACSP.
Na indústria, que representa
cerca de 35% do PIB brasileiro,
quem mais perdeu no primeiro
trimestre foram os setores eletroeletrônico e de construção civil, além de outros segmentos que
dependem das vendas no mercado interno. O INA (Indicador do
Nível de Atividade da Indústria de
Transformação), medido pela
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), caiu
0,26% em fevereiro na comparação com o mês anterior.
Apesar de a economia estar retraída, economistas e empresários dizem que Lula acertou ao
aprofundar a estratégia do ex-presidente FHC para recuperar a
confiança dos investidores.
"Os primeiros cem dias do governo servem para preparar as
mudanças. Não dá para desviar a
direção de um Boeing de uma hora para outra sem que ninguém se
machuque. É preciso de um certo
prazo para fazer alteração na rota", afirma Alberto Borges Matias,
presidente da ABM Consulting.
Ainda assim, alguns setores não
têm do que reclamar. Beneficiadas pela prioridade do governo de
corrigir suas contas externas, as
exportações cresceram 26,5% no
primeiro trimestre (US$ 15,04 bilhões). O superávit de US$ 3,76 bilhões na balança comercial, registrado no primeiro trimestre deste
ano, é quase o mesmo alcançado
em todo o primeiro semestre do
ano passado (US$ 3,79 bilhões).
"São Pedro deve ser petista. Se
não fossem as chuvas, a safra da
soja não seria tão farta. Além disso, se não fosse a guerra entre os
EUA e o Iraque, não teria aumentado a demanda mundial de grãos
e as cotações internacionais não
estariam num patamar mais elevado", afirma José Augusto de
Castro, diretor da AEB, associação dos exportadores.
Vedete
O setor agrícola já vem sendo a
vedete da pauta de exportações
brasileiras há pelo menos dois
anos. Os preços no mercado internacional são favoráveis porque
houve redução nos estoques
mundiais de grãos, principalmente no caso da soja. A previsão da
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) é que vá
haver um acréscimo de US$ 1,8
bilhão nas exportações de grãos,
farelo e óleo de soja neste ano, que
somaram US$ 6 bilhões em 2002.
Outro setor que se beneficiou
neste primeiro trimestre foi o
bancário. O aperto monetário
adicional engordou o caixa das
instituições financeiras. Se a taxa
básica da economia (a Selic) sobe,
os bancos também cobram mais
pelos empréstimos às empresas e
aos consumidores - e ganham
mais em suas operações.
Os juros cobrados no cheque especial no mês passado, segundo o
Procon, foram os maiores desde
março de 2000. A taxa média
mensal, que era de 8,85% em dezembro de 2002, passou para
9,44% em março. Nos empréstimos pessoais, a alta foi de 5,93%
para 6,10% no período.
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