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Governo retoma a política de estoque de alimentos
Demanda mundial crescente e preços em alta estimulam medida, diz Mantega
Iniciativa também visa reduzir especulações em negociações de contratos futuros, pois investidores usam baixos estoques para puxar cotações
VALDO CRUZ
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar dos conselhos para
aumentar o superávit primário
e restringir ainda mais o crédito, o presidente Lula avalia que,
por enquanto, não é necessário
aprofundar medidas nessa
área. Mesmo assim, determinou a sua equipe que elabore
outras propostas para conter a
inflação -entre elas, uma política de estoque de alimentos.
O governo espera gastar de
R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões para
elevar os estoques de arroz, feijão, milho e trigo para 6 milhões de toneladas. O valor varia porque o governo ainda não
sabe por quanto tempo comprará os produtos. Hoje, os estoques desses alimentos estão
em 1,59 milhão de toneladas.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) disse à Folha que o
governo decidiu refazer sua política de estoques reguladores
diante da nova conjuntura
mundial, de demanda crescente e preços em alta.
"O mundo inteiro deixou de
ter estoques. Estamos com os
mais baixos estoques mundiais
de trigo e milho", afirmou,
acrescentando que hoje o governo só tem um estoque recente regulador de arroz.
Segundo Mantega, o ideal é
que tanto o governo como o setor privado busquem formar
estoques de alimentos para evitar grandes oscilações de preços e perdas para os produtores
rurais caso sua cultura apresente um momento de desestímulo nos preços.
A Folha apurou que a iniciativa também visa reduzir as especulações em negociações de
contratos futuros. Isso porque
a maioria dos investidores utiliza os baixos estoques para puxar as cotações para cima.
Esse aumento possui dois reflexos imediatos. Por um lado,
estimula a plantação de algumas culturas, mas, por outro,
torna o mercado volátil e dificulta ações do governo, porque
há reajustes de preços para o
consumidor, provocando impacto nos índices de inflação.
Por determinação de Lula, as
medidas estão sendo estudadas
pela equipe do ministro Reinhold Stephanes (Agricultura).
Elas serão implementadas pela
Conab neste e no próximo mês
e, depois de fevereiro de 2009,
por conta de previsões de colheita.
Superávit
Quanto às propostas de elevar ainda mais o superávit primário e segurar o crédito, sugeridas por economistas de fora
do governo, Mantega disse que,
por enquanto, não há motivos
para aprofundá-las. Segundo
ele, essa é a posição do presidente sobre o assunto no momento, o que "não significa que
estamos parados".
Ele lembrou que as medidas
já adotadas -como o aumento
do superávit de 3,8% para 4,3%
do PIB- "não fazem efeito
imediato". Destacou, contudo,
que já começam a surtir efeito,
porque "a inflação e a demanda
já diminuíram um pouco".
O ministro da Fazenda afirmou ainda que a ordem de Lula
é para "usar do remédio na sua
dose adequada, para curar o paciente, e não matá-lo". Acrescentou que o "momento requer
habilidade do gestor econômico para agir na medida certa".
Lula teme exagerar na dose
das medidas e derrubar o crescimento da economia no próximo ano, como ocorreu entre
2004 e 2005. A expectativa do
presidente é que o país registre
crescimento de 4,5% a 5% neste ano e, no próximo, atinja a
casa de 4,5%.
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