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Queda de alimentos tem limite, diz analista
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A queda nos preços dos alimentos, apontada atualmente
pelos índices de inflação, tem
limites. Mesmo com esses recuos, o consumidor vai continuar sentindo no bolso a forte
pressão dos preços dos alimentos, que continuam em patamares elevados. Além disso, alguns produtos básicos, como
arroz e feijão, após recuo no início deste semestre, retomaram
o caminho de alta nas últimas
semanas no campo, tendência
que os índices de inflação devem mostrar em breve.
O cenário econômico que se
desenhou nesta semana também pode ser um freio à queda
interna de alguns alimentos,
que têm como base de negociação o dólar, agora mais valorizado diante do real. São os casos do óleo de soja e do trigo.
A indefinição quanto à produção e aos estoques mundiais
de grãos, devido ao andamento
da safra nos EUA, também traz
incertezas sobre os preços.
"A fase de queda de preços
dos alimentos já está perdendo
fôlego e não há uma tendência
dessa continuidade", na avaliação de Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao
Consumidor Semanal da cidade de São Paulo, da Fundação
Getulio Vargas. Os alimentos
tiveram mudança de preço relativo, e ficaram mais caros,
mas o lado positivo foi o aumento da oferta, diz Picchetti.
Cada produto deve ter uma
reação diferente. Estudo feito
pelo economista mostra que a
alta dos alimentos ocorrida a
partir de 2007 foi, na verdade,
uma recomposição dos baixos
preços ocorridos em 2005 e em
2006, quando os consumidores
foram beneficiados.
Os aumentos dos preços no
atacado nesse período foram
bem mais fortes do que os do
varejo, mas a chegada da pressão no bolso dos consumidores
ocorreu de forma muito mais
acentuada em alguns produtos
do que em outros.
O estudo de Picchetti tomou
como base produtos que representam 30% do peso dos alimentos no IPC.
Essa volta do aumento dos
preços do arroz no campo, que
será refletida pelo atacado, pode demorar até seis meses para
chegar à mesa do consumidor.
E apenas 58% dos reajustes do
atacado serão repassados para
o varejo.
Pressão maior
Já os aumentos nos preços
do feijão no atacado vão demorar apenas um mês para chegar
aos consumidores, mas nesse
caso a pressão é bem maior:
89% da alta do atacado vai para
a mesa do consumidor.
O maior repasse ocorre no
setor de carne bovina. Um mês
após a alta dos preços no atacado, o consumidor recebe 91%
desse aumento. Já o trigo tem
um dos menores repasses. Apenas 18% do aumento do cereal é
repassado para o pãozinho.
O analista Carlos Cogo diz
que "o arroz terá uma gradual e
lenta recuperação" e os preços,
que haviam caído após o pico de
maio, podem voltar aos patamares daquele mês. Não há risco de desabastecimento e o país
termina o ano com estoques suficientes para 30 dias, mas há
demanda, segundo ele.
Um dos sinais dessa demanda é que todo o arroz colocado
em leilão pelo governo tem sido
arrematado.
Outro produto que chegará
mais caro à mesa dos consumidores nas próximas semanas é
o feijão, segundo o analista Vlamir Brandalizze. "A grande safra, que começa a ser plantada,
depende de chuvas, mas há seca
em algumas regiões." Com isso,
os preços no campo já atingem
R$ 190 por saca para o feijão carioquinha.
Brandalizze não vê muita folga também nos preços da soja e,
conseqüentemente, nos do
óleo de soja. O Brasil está na entressafra e o dólar ficou mais
valorizado. Sobre o milho, o
analista não acredita em novas
quedas. O produto chegou nos
mesmos patamares dos de exportação. Derivados de soja e
de milho são importantes fatores de custos na produção de
carnes, que também pararam
de cair nas últimas semanas.
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