|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAPITALISMO VERMELHO
Geração de eletricidade não acompanha demanda industrial e começa a restringir a produção
Crise de energia ameaça expansão chinesa
Goh Chai Hin/France Press
|
Grupo de trabalhadores chineses migrantes que têm como ocupação a construção civil descansa na hora do almoço em Pequim |
JAMES KYNGE
ALEXANDRA HARVEY
DO "FINANCIAL TIMES"
As fábricas estão funcionando
apenas de noite ou decretando feriados forçados. As famílias em
algumas cidades vêm sendo alvo
de campanhas para que não liguem seus aquecedores. Em
Hangzhou, uma cidade de rápido
crescimento perto de Xangai, até
mesmo os sinais de trânsito foram desligados por algum tempo,
causando caos no tráfego.
A escassez de eletricidade na
China, causada pela incapacidade
dos fornecedores para acompanhar o ritmo de crescimento espantoso na demanda industrial,
começa a ter efeito palpável sobre
a vida cotidiana do país. Agora,
surgiram sugestões de que é possível que a escassez também afete
negativamente o crescimento
econômico.
A Rede Estatal de Informações
de Energia, uma organização governamental, previu uma escassez ainda mais séria e um racionamento de energia mais severo para o próximo ano.
É difícil obter dados seguros sobre a extensão da escassez.
As estatísticas oficiais são esparsas, e a demanda reprimida é difícil de avaliar, mas indícios circunstanciais sugerem que o racionamento de eletricidade passou
por um severo aperto recentemente, com um aumento no número de blecautes e o governo demonstrando preocupação.
Mesmo que o país esteja ampliando sua capacidade de geração de energia em ritmo notável,
demorará algum tempo para que
a oferta se equipare à demanda
-as estimativas variam de um a
dois anos.
Michael Komesaroff, diretor-executivo da Urandaline, uma
consultoria especializada em projetos que requerem uso intensivo
de capital na China, disse que "a
escassez é séria. Do total de 32
Províncias e regiões, 21 estão experimentando alguma forma de
restrição ao consumo de energia".
As mais prejudicadas são as regiões de rápido crescimento da
China, especialmente o delta do
rio Yangtzé, que inclui as Províncias de Zhejiang e Jiangsu e a cidade de Xangai, que, somadas, responderam por 23% do PIB (Produto Interno Bruto) chinês no
ano passado.
Racionamento
Algumas cidades em Guangdong, a Província meridional que
fornece a maior parte das exportações industriais chinesas, também foram forçadas a adotar o racionamento. Huan Huahua, o governador da Província, disse que
"esse é um dos principais gargalos
que precisamos enfrentar para o
nosso desenvolvimento".
Em Dongguan, um centro industrial que abriga mais de 25 mil
fábricas no delta do rio Pérola, em
Guangdong, algumas indústrias
foram "convidadas" a suspender
sua produção durante um dia por
semana -ou a trabalhar de noite.
Os investidores estrangeiros
nos setores que requerem uso intensivo de energia estão "preocupados" com a situação, disse um
executivo que pediu que seu nome não fosse divulgado.
"Nos próximos quatro a cinco
anos, teremos problemas [de escassez]", declarou.
A oferta não consegue acompanhar a procura em uma Província
na qual o consumo total de eletricidade nos dez meses até outubro
foi 19,2% superior ao do mesmo
período em 2002.
No delta do rio Yangtzé, a situação é semelhante. A escassez de
eletricidade em Zhejiang, Jiangsu
e Xangai foi estimada entre 1,09
milhão e 5,24 milhões de kilowatts/hora, segundo a corporação
estatal de distribuição de eletricidade, o equivalente a cerca de 10%
a 15% do consumo.
Em Hangzhou, uma cidade têxtil florescente na Província de
Zhejiang, as autoridades estão
cortando a luz nos bairros em rodízio e solicitando que as pessoas
não empreguem aquecedores.
Em Chansha, a capital da Província de Hunan, no centro do
país, a situação é ainda pior. O governo municipal instituiu na semana passada um sistema de três
dias de trabalho e um dia de folga
para as fábricas e, em breve, pode
alterar o sistema para dois dias de
trabalho e um dia de folga, de
acordo com Zhao Yuesi, um funcionário da prefeitura.
Os responsáveis por diversas cidades chinesas informam que a
escassez já vem exercendo efeito
sobre seu crescimento econômico, mas não estava claro até que
ponto esse problema se tornaria
sério para o país como um todo. O
PIB chinês cresceu, oficialmente,
8,5% nos primeiros nove meses
do ano, mas os analistas independentes estimam um número ainda maior, entre 10% e 11%.
Consequências
Mesmo assim, alguns analistas
dizem que as preocupações com o
abastecimento de energia na China também podem ter sido um fator na desaceleração constatada
nos investimentos estrangeiros
diretos durante o quadrimestre
de julho a outubro, ante igual período em 2002.
O índice geral de investimento
estrangeiro direto continua positivo, com alta de 5,8% no período
de janeiro a outubro, para US$
43,56 bilhões.
Komesaroff e outros dizem que
o investimento -o principal propulsor do crescimento do PIB-
está começando a desaquecer em
certas regiões famintas de energia, devido à preocupação quanto
a uma possível perda de confiança
no abastecimento de eletricidade.
Em casos extremos, a falta de
energia pode causar até desastres
comerciais.
Um executivo de uma empresa
que produz zinco em pó na Província de Hunan disse que "nossa
eletricidade foi cortada quatro vezes. Nossas fornalhas precisam de
energia contínua ou podem quebrar. Por isso compramos um gerador a diesel".
"Mas conseguir diesel está se
tornando difícil. Nós ampliamos
nossa capacidade, para aumentar
a produção a partir de fevereiro,
mas ainda não sabemos se poderemos usar as novas instalações."
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Frase Índice
|