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Jorge Arbache, da Universidade de Brasília, diz
que concorrência externa levou país a qualificar mão-de-obra
Educação é arma para a competição global, diz professor
DA REPORTAGEM LOCAL
Competição com países que
têm mão-de-obra abundante e
mais barata que a brasileira, como
China e Índia, e acesso a novas
tecnologias fizeram com que a
abertura comercial do Brasil acabasse favorecendo os trabalhadores mais qualificados.
Essa é a opinião do professor e
economista Jorge Saba Arbache,
da Universidade de Brasília, especialistas no assunto. A seguir, trechos da entrevista.
(EF)
Folha - Quais são as principais
conclusões do seu estudo em relação ao efeito da abertura comercial
sobre o mercado de trabalho?
Jorge Arbache - Acho que o principal efeito da abertura no mercado de trabalho foi uma mudança
da estrutura de demanda pelo trabalho das pessoas mais qualificados. Isso aconteceu porque, de
um lado, houve queda dos preços
de máquinas, equipamentos e
tecnologias por conta da remoção
das barreiras tarifárias e não-tarifárias, favorecendo a aquisição
dessas máquinas pelas empresas
brasileiras. De outro lado, houve o
aumento da competição no mercado interno e, ao mesmo tempo,
da concorrência nos mercados internacionais de bens e serviços,
incluindo aí aqueles que o Brasil
potencialmente exporta. Ambos
os fatores forçaram o Brasil a ter
de melhorar a qualidade dos produtos e a reduzir os preços de produção, o que levou o país, uma vez
mais, a ter de produzir melhores
produtos, com menores custos, o
que implica utilizar tecnologias
mais avançadas.
Folha - A teoria tradicional de comércio defendia que a demanda
por trabalhadores poucos qualificados aumentaria no Brasil depois
da abertura comercial...
Arbache - Na verdade, isso não
parece ter acontecido, e acho que
há algumas razões para tanto.
Uma delas é que o Brasil não é um
tradicional país em desenvolvimento. É o que chamamos de
"país de renda média", que tem
um certo parque industrial, que é
relativamente desenvolvido e integrado e exporta mais de 50% na
forma de bens manufaturados.
De outro lado, houve um processo de abertura simultâneo em vários países em desenvolvimento
que são potenciais competidores
do Brasil. Alguns deles, notadamente China, Paquistão e Índia
-que têm mão-de-obra ainda
mais barata do que a brasileira-,
entraram de forma bastante forte
nos mercados internacionais de
bens de baixo valor agregado, expulsando o Brasil de alguns mercados de bens mais básicos. Isso
forçou o país a ter de buscar um
perfil de produção um passo à
frente no que tange a tecnologias.
Folha - A baixa qualidade do ensino básico contribui para isso?
Arbache - Sim. Essa explosão de
demanda por trabalhadores de
segundo grau completo para cima
pode, em parte, refletir o efeito da
baixa escolaridade na capacidade
ou na acumulação de conhecimento por parte dos trabalhadores. Se a escola funciona mal, se
ela treina ou ensina mal as pessoas, se ela desenvolve mal o conhecimento cognitivo dos trabalhadores, eles vão ter de passar
mais anos na escola para atingir
um determinado nível de conhecimento e qualificação.
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