São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Pressão menor de alimentos reduz inflação

IPCA fecha julho em 0,53%, contra 0,74% no mês anterior, mas analistas ainda não vêem mudança na política de juros

Alta do grupo alimentação cai de 2,11% em junho para 1,05% no mês passado, embora preço da carne siga em forte alta, de 4,35%

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A inflação medida pelo IPCA recuou para 0,53% em julho em razão da menor pressão dos alimentos. Em junho, o indicador teve alta de 0,74%. Apesar do alívio na alta de preços, o IBGE, assim como o Banco Central, diz que ainda é cedo para dizer se o resultado configura uma tendência de desaceleração.
Assim como o IPCA, que baliza a meta de inflação do BC, outros índices de preços estão desacelerando. Mas a maioria dos economistas ouvidos pela Folha diz que o menor fôlego da inflação não altera, por enquanto, a política de juros do BC, que está preocupado com efeitos da demanda aquecida.
O grupo alimentação e bebidas passou de 2,11% de alta em junho para 1,05% em julho no IPCA. Mesmo com uma alta mais moderada, os alimentos tiveram contribuição de 0,24 ponto e representaram quase metade da inflação de julho.
Produtos importantes no consumo das famílias tiveram queda, como arroz (de 9,90% em junho para -0,51%) e farinha de trigo (de 2,37% para -1,75%). Já as carnes seguem em alta, de 4,35%, menor, no entanto que os 6,91% de junho.
No ano, os alimentos já acumulam alta de 9,78%, quase o mesmo patamar registrado de janeiro a dezembro do ano passado, de 10,79%. Nos sete primeiros meses do ano, a refeição fora de casa representou a principal contribuição para a alta da inflação, com alta de 9,84%.
"Ainda é precipitado tirar conclusões sobre esse movimento, que aconteceu de um mês para o outro. Algumas medidas ajudaram, como a retirada do imposto sobre o trigo. E o anúncio da safra agrícola também podem ter tido alguma repercussão", afirma Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Os analistas afirmam que a tendência de inflação mais comportada deve se manter nos próximos meses, mas que ainda há risco de a inflação fechar o ano acima da meta, de 4,5% com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Em abril, o BC iniciou um processo de aumento dos juros para tentar manter a inflação dentro dos parâmetros definidos para este ano. A taxa básica está hoje em 13% ao ano.
"O resultado foi um pouco melhor, mas temos reajustes de preços administrados previstos para o segundo semestre e perspectiva de alta dos combustíveis. Esperamos fechar o ano com 6,8%. Já existem sinais de que a atividade está se desacelerando, mas isso só deverá ficar mais claro no fim do ano", diz Fábio Romão, da LCA.
Os dados do IBGE mostram que a inflação no ano chega a 4,19%. Nos últimos 12 meses, acumula alta de 6,37%. "A notícia foi boa, mas o BC está de olho nos dados de demanda, como vendas de automóveis. De qualquer forma, ajuda a estabilizar as expectativas inflacionárias", afirma Alexandre Lintz, estrategista do BNP Paribas.
Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora, se o cenário de inflação se mantiver em desaceleração até a próxima reunião do Copom, em 9 e 10 de setembro, o Banco Central poderá fazer aumentos mais suaves dos juros. "O crescimento da demanda será cada vez menor na margem, a inflação pode ainda fechar dentro da meta", disse.
Anteontem, Mário Mesquita, diretor de Política Monetária do BC, foi cauteloso: "É bom que a gente não tenha sempre surpresas negativas com a inflação, mas pode ser prematuro dizer que os últimos números estabelecem uma tendência".
Para o resultado de agosto estão previstas pressões com o aumento de água e esgoto no Rio, de 12,8%, resíduos do aumento do telefone fixo (3%) e da energia elétrica em São Paulo (8,63%), além da alta de 7,5% nos serviços dos Correios.


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