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Para analistas, inflação começa a se desacelerar
Recuo de commodities e expectativa de menor expansão mundial ajudam a conter preços
No entanto, economistas dizem que ainda é preciso esperar alguns meses para comprovar se a tendência
no Brasil será mantida
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao examinarem os últimos
números divulgados sobre a inflação, muitos especialistas estão detectando sinais de arrefecimento da ameaça inflacionária que assustou o país neste
ano. No entanto, segundo eles,
deve demorar um pouco para
que o Banco Central diminua o
ritmo da elevação dos juros,
pois é preciso verificar se a tendência é sólida.
"No acumulado em 12 meses,
o pico [da inflação] ainda está
por vir e deve se dar em outubro. Porém, falando das taxas
mensais, houve uma descompressão importante", afirma
Fábio Romão, economista da
LCA Consultores.
O analista se refere aos preços dos alimentos, que dispararam nos últimos meses, impulsionando os indicadores de inflação, e agora estão mais brandos, conforme observado no
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), nos IGPs (Índices Gerais de Preços, medidos pela FGV) e no IPC da Fipe
(Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas, que diz
respeito à cidade de São Paulo).
"Carne e feijão, que aumentaram bastante, mostram um
certo alívio, embora ainda estejam forçando os indicadores",
comenta Romão.
Isso se deve principalmente à
queda nos preços das commodities no mercado internacionais, depois de atingirem recorde histórico, e à regularização
de safras que tiveram quebras.
As cotações continuam em
nível elevado. Entretanto, não
devem ter espaço para subir
mais, porque a atividade de
grandes economias, como a dos
Estados Unidos e as européias,
está perdendo fôlego, o que desencoraja os produtores a promover reajustes.
"Aconteceu uma situação de
desequilíbrio mundial em determinados bens [alimentos].
No entanto, não existem mecanismos -como indexações-
que vão perpetuar as pressões e
transformá-las em um processo inflacionário. Tampouco temos no país um cenário de pleno emprego", ressalta a professora Leda Maria Paulani, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo.
Por isso, na sua opinião, "evidentemente" o BC nem sequer
deveria ter começado a elevar a
Selic. "A retomada da economia mal começou. Os próprios
organismos oficiais prevêem
que o crescimento em 2009 será menor. Então, é o caso de
perguntar para as nossas autoridades: cadê o tal do crescimento sustentável?"
Consumo
Os economistas do mercado
financeiro apostam em pelo
menos mais uma alta de 0,75
ponto percentual da Selic, na
próxima reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária
do BC), em setembro. "Apesar
das indicações positivas que estão aparecendo, são apenas as
primeiras", diz Romão. "A autoridade monetária quer evitar
que as pressões existentes sejam repassadas [aos preços]."
"Um banco central conquista
credibilidade no longo prazo. O
brasileiro precisa ficar vigilante
para assegurar o cumprimento
da meta no ano que vem", diz
André Delben Silva, sócio-diretor da Advisor Asset Management. "Também tem de administrar as expectativas. Assim,
é mais provável que o BC mantenha a agressividade para
mostrar ao mercado que seguirá fazendo o que for necessário
para manter os preços sob controle. Não pode se precipitar e
dar um passo em falso."
João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), explica que o
BC não tinha a intenção de
combater a inflação dos alimentos com os juros. "O objetivo era atuar sobre os demais
preços para que o IPCA convergisse de forma mais rápida para
a meta. A desaceleração dos alimentos era esperada, pois os
preços se encontravam demasiado altos." Para ele, "não está
configurada uma trajetória
descendente da inflação". "Mas
precisamos esperar um ou dois
meses para ter a confirmação."
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