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Emergentes vão impedir recessão, diz "pai" do Bric
Para O'Neill, do Goldman Sachs, socorro deve impedir "recessão forte" nos EUA
Economista elogia BC do Brasil e diz que queda da Bovespa, muito dependente das commodities, não deveria causar surpresa
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Jim O'Neill, economista-chefe do banco Goldman Sachs
e criador da expressão Bric (em
referência a Brasil, Rússia, Índia e China), afirma que o plano
de resgate do Tesouro norte-americano para o setor imobiliário deve livrar os EUA de
uma "recessão severa".
Já o mundo como um todo,
na sua opinião, não entrará em
recessão, mesmo que as economias avançadas o façam, unicamente por causa do desempenho dos emergentes, em especial dos Brics. "Nunca tivemos
uma situação como essa na história moderna", afirma.
Leia a entrevista à Folha:
FOLHA - Como o mercado reagirá
nos próximos dias ao pacote bilionário para o setor imobiliário dos EUA?
JIM O'NEILL - É de se esperar
uma reação positiva. Diante do
temor maior de que haja uma
piora no cenário geral, com um
recessão global mais profunda,
o anúncio é uma grande notícia. Reduz muito o risco de uma
recessão forte nos EUA e pode
levar as pessoas a começarem a
enxergar alguma luz no final do
túnel da crise imobiliária.
FOLHA - O sr. crê que os Brics continuarão se saindo bem?
O'NEILL - São ridículas algumas
análises que começam a afirmar que a festa acabou para
eles. A China se desacelerou de
um longo período de crescimento entre 10% e 12% para algo entre 8% e 10%, as exportações estão se reduzindo de maneira significativa, e os níveis
de investimentos amenizaram.
Mas o mais importante para o
resto do mundo é que o consumo interno da China está crescendo, mesmo que devagar. O
que temos na China hoje é um
"desaquecimento feliz". Outra
notícia importante é que a inflação chinesa está cedendo, de
mais de 8% em abril para algo
como 5,5%.
A Índia está esfriando um
pouco, com os preços altos do
petróleo tendo causado alguns
problemas no país. Mas a recente queda nesses preços também é boa notícia para a Índia.
A economia russa também vem
se desacelerando, mas pouco.
FOLHA - No caso do Brasil, alguns
indicadores já mostram uma fase de
acomodação. Mesmo assim, há uma
expectativa de que o Banco Central
volte a aumentar os juros nesta semana. Não é exagero?
O'NEILL - O que mais me impressiona em relação ao Brasil
é que o Banco Central está se
tornando um dos mais respeitáveis do mundo. Se ele tem
uma meta de inflação a seguir,
não pode ignorá-la. É muito
importante que as autoridades
segurem neste momento as expectativas de inflação. Até aqui,
apesar dos pesares, o Brasil tem
se comportado muito bem.
Por outro lado, muita gente
está preocupada com o desempenho da Bolsa brasileira. Mas
é preciso ter em conta que ela é
muito dependente do setor de
commodities [mais de 40% do
Ibovespa é vinculado ao setor
de produtos básicos].
FOLHA - Quais são as perspectivas
para as economias mais maduras
agora que a Europa apresenta crescimento negativo e os EUA continuam indefinidos?
O'NEILL - O mundo hoje é um
lugar muito peculiar. Se olharmos para as economias avançadas, para o G7 [EUA, Reino
Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão], estão todas
praticamente em recessão. A
despeito disso, a economia
mundial cresce em um ritmo
superior a 3,5%.
Nunca tivemos uma situação
como essa na história moderna.
A última vez que o G7 estava assim foi em 2001, e o mundo estava muito próximo de uma recessão.
Por a China e os outros Brics
serem hoje tão importantes, a
situação não está tão ruim como muita gente vem pintando.
Na minha opinião, a China é
o principal país a prestarmos
muita atenção daqui em diante.
Se as vendas do comércio chinês continuarem a subir, como
vêm subindo -e no mês passado aumentaram 23%, um recorde em dez anos-, não há nenhuma chance de o mundo entrar em recessão. Nenhuma
chance mesmo.
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