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Lula quer que o BC suavize alta dos juros
Para presidente, ideal é que Copom reduza ritmo de elevação da taxa para 0,5 ponto percentual nas três reuniões restantes do ano
Lula não discorda da
necessidade de elevar juros
para combater a inflação,
mas teme que a dosagem
do BC possa ser exagerada
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se o Banco Central elevar a
taxa básica de juros em 0,75
ponto percentual na próxima
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), haverá
tensão com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Segundo
apurou a Folha, Lula deseja
que o BC suavize o ritmo de subida da Selic nas três últimas
reuniões do Copom neste ano.
O próximo encontro do Copom, órgão do BC que fixa a taxa básica de juros a cada 45
dias, acontecerá nos dias 9 e 10
de setembro. As outras duas
reuniões estão marcadas para
28 e 29 de outubro e para 9 e 10
de dezembro.
Por tensão com Lula, leia-se:
pressão do presidente da República sobre o presidente do BC,
Henrique Meirelles. Lula não
discorda da necessidade de elevar os juros para combater a alta da inflação no primeiro semestre deste ano, mas teme
que a dosagem do BC possa ser
exagerada, sacrificando mais
do que o petista deseja o crescimento da economia nos dois
últimos anos de governo (2009
e 2010).
A elevação da Selic em 0,75
ponto na última reunião do Copom (22 e 23 de julho) foi digerida a contragosto por Lula e
por auxiliares próximos que
têm visão crítica do BC.
O Palácio do Planalto preferia a manutenção do ritmo de
0,5 ponto percentual por reunião que o Copom adotou a
partir de abril, quando retomou o processo de alta dos juros. Em abril, a Selic passou de
11,25% para 11,75% ao ano. No
início de junho, a taxa subiu para 12,25%. No final do mês passado, o Banco Central cravou
os atuais 13% ao ano.
Na avaliação do presidente, o
ideal seria o BC reduzir o ritmo
de subida dos juros, aguardando os efeitos na economia real
das altas já implementadas.
A divulgação, na sexta-feira,
de que houve em julho desaceleração do IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo),
a taxa oficial da meta de inflação, deverá dar argumento a
Lula e aos críticos do BC contra
uma nova alta de 0,75 ponto
percentual da Selic.
Dosagem errada
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que o
Banco Central poderá errar na
dosagem, como teria feito, em
sua opinião, no primeiro mandato de Lula (2003/2006). Ou
seja, elevar demais a Selic.
Em conversas reservadas,
Mantega cita 2006 como exemplo de erro de dosagem. Naquele ano, a inflação ficou em
3,14% pelo IPCA. Como o centro da meta de inflação é de
4,5% ao ano, a Fazenda avalia
que a taxa de 2006 refletiu um
erro do Banco Central, que teria subido muito os juros na virada de 2004 para 2005 e demorado depois a baixar a taxa
num cenário internacional favorável.
Resumindo: Lula dá autonomia prática ao BC. No entanto
faz pressões nos bastidores
quando acha que Meirelles e
cia. estariam exagerando. As
pressões são feitas em cobranças reservadas a Meirelles.
Na virada de março para abril
deste ano, o presidente do BC
quase caiu. Lula chegou a decidir por sua demissão. Enquanto buscava um substituto, houve recrudescimento da inflação, e Meirelles se salvou.
Desde o primeiro mandato,
Meirelles e diretores do BC argumentam que a tentativa de
Lula e de Mantega de influenciar o Copom acaba resultando
em mais juros. O BC se veria
obrigado a mostrar ao mercado
que é real a independência operacional. Para tanto, aumenta a
taxa. Por isso, Lula evita críticas públicas ao Banco Central.
Nos bastidores, porém, há um
debate no governo.
Meirelles tem dito que sua
intenção é trazer a inflação para o centro da meta em 2009, já
que as previsões para a taxa
neste ano estão no teto da meta
(6,5%). O sistema de metas de
inflação prevê um centro de
4,5% ao ano. Mas há um intervalo de dois pontos percentuais
para cima ou para baixo, a fim
de acomodar choques.
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