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Classe média cresce, mas consome menos
Quantidade de itens adquiridos diminuiu no primeiro semestre sob impacto da alta da inflação, aponta pesquisa da Nielsen
Retração é maior nas faixas
de renda mais altas; famílias
reduzem consumo de
produtos supérfluos para compensar alta de preços
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Ao mesmo tempo em que o
número de famílias tidas como
de classe média cresceu nos
primeiros meses deste ano, o
consumo desses domicílios se
retraiu sob o impacto do recrudescimento da inflação, centrada especialmente na alta dos
alimentos. É o que revela pesquisa da Nielsen, obtida pela
Folha.
De janeiro a junho, a quantidade de produtos alimentícios
e de higiene e limpeza adquiridos caiu 3,2% para todas as
classes sociais na comparação
com o mesmo período de 2007.
Essa queda foi acompanha de
um aumento de 3,8% nos gastos, o que comprova o efeito negativo da inflação sobre o consumo, de acordo com os dados
da Nielsen.
E a retração foi maior nas faixas de renda mais altas. Na A e
B, juntas, o consumo, em volume, caiu 6,9%. Na C, a redução
ficou em 3,5%. Somente as classes D e E registraram expansão
na quantidade adquirida de
produtos: 1,1%.
"O aumento dos preços teve
impacto negativo sobre o consumo. As famílias gastaram
mais, mas levaram menos produtos para casa devido à alta da
inflação", diz Patrícia Moraes,
coordenadora de marketing da
Nielsen, empresa multinacional especializada em pesquisas
de mercado.
Nos seis primeiros meses
deste ano, o IPCA subiu 3,63%,
acima dos 2,08% registrados no
mesmo período de 2007. Os
itens pesquisados pela Nielsen
aumentaram em proporção
maior do que a inflação média.
Os alimentos avançaram
8,64% -mais do que os 3,93%
do primeiro semestre de 2007.
Os artigos de limpeza, por sua
vez, tiveram alta de 5,15%, ante
2,76% de janeiro a junho do ano
passado. O mesmo ocorreu
com os de higiene pessoal, cuja
variação passou de 1,61% nos
seis primeiros meses de 2007
para 4,56% em igual período
deste ano.
Corte do consumo
Diante desses aumentos, a
saída foi cortar o consumo.
"Certamente a queda do consumo é efeito da inflação. Neste
momento recente em que a inflação dos principais produtos
alimentícios subiu, não houve
muita escapatória: as pessoas
tiveram de diminuir o consumo
de parte de outros produtos,
como bebidas", diz Sérgio Vale,
economista da MB Associados.
Um dos problemas, diz Vale,
é que os reajustes ficaram concentrados no "núcleo da alimentação do brasileiro" e atingiram produtos como feijão, arroz, carne e derivados de trigo.
Pelos dados da Nielsen, as famílias reduziram o consumo de
produtos supérfluos. Na classe
A e B, as famílias deixaram de
comprar molho para salada, sabão líquido e suco pronto, entre
outros. "São produtos de altíssimo valor agregado e dispensáveis", afirma Moraes.
Na classe C, foram afetados
petit suisse, pós-xampu, iogurte e leite condensado -também igualmente supérfluos, de
acordo com a coordenadora da
Nielsen. Nas classes D e E, apesar de as quantidades adquiridas não terem caído na média,
houve corte de itens como
xampu, purê de tomate e leite
condensado.
Salário mínimo
De acordo com a Nielsen, os
gastos da classe C subiram 2,7%
no primeiro semestre. Nas classes D e E, por sua vez, o reajuste
real do salário mínimo permitiu aumento de 9,9% nas despesas. A faixa A e B foi a única
classe que registrou queda no
gasto -0,3%.
Para Vale, a retração do consumo na classe C não contradiz
a expansão da classe média, demonstrada na semana passada
por pesquisa da FGV -32% das
famílias aumentaram sua renda e mudaram de classe social
nos quatro primeiros meses
deste ano.
"Não diria que é contraditório com o estudo da FGV. A
classe média cresceu em renda
e emprego e passou a consumir
mais diversos produtos. Só que
essas classes também consomem produtos caros, como automóveis e imóveis, cujo risco
de perda por conta de não-pagamento é grande. Fica mais difícil deixar de pagar esses produtos", diz.
Inadimplência
Desse modo, segundo ele, a
opção foi diminuir o consumo
de não-duráveis para não cair
na inadimplência. "Mas, de
qualquer maneira, para todas
as classes de renda e produto,
devemos começar a ver uma
desaceleração de crescimento
de consumo, principalmente
em 2009."
Um alternativa encontrada
pelas faixas de menor poder
aquisitivo para driblar a alta da
inflação foi comprar mais no
atacado, que tem preços mais
baixos. De acordo com a Nielsen, o gasto médio das famílias
de menor renda (classes D e E)
no atacado subiu 41,9% no primeiro semestre, embora esse
canal de vendas são seja o mais
importante.
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