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LUÍS NASSIF
O playboy empreendedor
No universo dos biografáveis brasileiros, dificilmente
se encontrará personagem mais
instigante que Baby Pignatari.
Hoje em dia, pouco se fala nele.
Nos anos 50 e 60 era personagem
mundial, um playboy que cortejava todas as atrizes de Hollywood, um empreendedor fantástico, uma lenda em vida, um mistério depois de morto.
Lá pelos idos de 1960, o romancista Harold Robbins escreveu
uma semificção sobre a vida do
bilionário norte-americano Howard Hughes. Pois Baby era o
nosso Hughes. Era Pignatari e era
Matarazzo, filho de uma prima
do conde Francisco Matarazzo.
Empreendedor nato, tinha fábricas de purpurina, minas de cobre
no sul do país e uma fábrica de
aviões de aeroclube, os Paulistinhas, ainda hoje bastante conhecidos.
Quando Assis Chateaubriand
lançou a campanha nacional para a criação de aeroclubes, impulsionou extraordinariamente a
produção dos Paulistinhas. Em
troca, Baby o presenteou com um
Rolls Royce.
Nasceu em 1916, morreu em
1977. Pelo tanto que fez, parecia
ter vivido muito mais que seus 60
anos. Em fins dos anos 40 construiu uma mansão, onde hoje em
dia é o parque Burle Marx, adquirido pela Bunge & Born. Era
uma chácara em plena São Paulo, de 138 mil metros quadrados,
com os jardins desenhados por
Burle Marx, a casa projetada por
Oscar Niemeyer.
Quando eu era moleque, nos
anos 60, Baby já era uma lenda
viva. Namorara as mais belas
atrizes do cinema norte-americana de Zsa Zsa Gabor e Linda
Christian.
No mundo, fazia parte do primeiro time dos playboys internacionais, ao lado de Porfírio Rubirosa, Ali Khan, Aristóteles Onassis e Hughes. No Brasil, foi um dos
membros mais ilustres do "Clube
dos Cafajestes", que juntava a fina flor dos conquistadores brasileiros nos anos 50, gente como Jorginho Guinle, Mariozinho de Oliveira, Sérgio Porto, Heleno de
Freitas. Além da lábia e do dinheiro, era um deus peninsular,
um galã à altura de Marcelo Mastroiani e um esportista nato, que
chegou a disputar as corridas de
Le Mans e Silverstone com uma
BMW 2800 CS. Seu avião particular era um Electra, o mesmo
avião que operava a ponte Rio-São Paulo.
Era inacreditável que, namorando tantas, aprontando tantas
e bebendo todas, ainda tivesse
tempo para exercitar um empreendedorismo quase inédito
para o país daqueles anos.
Depois de namorar todas as
atrizes de Hollywood, nos anos 60
apaixonou-se pela princesa Ira de
Furstenberg, 24 anos mais nova
que ele. Seqüestrou a princesa de
seu marido e a trouxe para o país,
para glória geral dos machões
brasileiros. Não era uma princesa
qualquer. Ira era descendente do
bispo de Strassburgo, que provocou uma guerra entre a França e
os principados alemães. Era relações-públicas do figurinista Valentino e sua mãe era uma autêntica Agnelli, da Fiat.
A princesa havia se casado com
15 anos e as bodas duraram 16
dias. Cinco anos depois, no esplendor dos 20 anos, largou tudo
e fugiu com Baby. Casaram-se em
1961, separaram-se em 1964, mas
a paixão persistiu por muitos e
muitos anos, gerando um número
infindável de reportagens e seqüestros apaixonados.
No final da vida, Baby cismou
em explorar uma mina de cobre
na Bahia, a Caraíba Metais. Durante alguns anos, já no final do
empreendimento, seu principal
executivo foi Justo Pinheiro da
Fonseca, pai dos Gianetti da Fonseca. Enterrou-se ali, nas enormes
dificuldades de exploração da mina.
Casou-se novamente, faleceu
pouco depois. E a aventura prosseguiu depois de morto. Tinha
um filho dependente de drogas.
Advogados espertos conseguiram
desinterditar o rapaz. Ganhou
um preceptor e, em pouco tempo,
a fortuna de Baby virou pó. Do
dinheiro que a Bunge pagou pela
Panamby, o que chegou aos bolsos dos herdeiros não dava para
comprar um Opala.
Na seqüência, houve uma série
de mortes de herdeiros, o filho, a
viúva, pessoas do meio. Provavelmente, apenas coincidência. Mas
sua biografia está à espera de um
Harold Robbins brasileiro, com
disposição para desvendar seus
mistérios.
E-mail: Luisnassif@uol.com.br
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