|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rápida expansão do agronegócio agrava escassez do crédito público
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A rápida expansão da agricultura provocou uma escassez de crédito para o setor, segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin. Com a precária infra-estrutura, a falta de financiamento a
juros competitivos se tornou um
dos empecilhos para o desenvolvimento do agronegócio.
Tabela elaborada pelo próprio
Ministério da Agricultura revela a
magnitude do problema. Na safra
1994/1995, para cada tonelada de
grão produzida, o SNCR (Sistema
Nacional de Crédito Rural) emprestou US$ 128,16. Na última safra (2002/2003), para cada tonelada, o sistema concedeu US$ 68,55.
Para a safra deste ano, a estimativa da agricultura é de chegar
US$ 85,48 por tonelada, melhor
do que na safra anterior, mas pior
do que a média das últimas nove
safras (US$ 92,69)
"O sistema atual é insuficiente
para financiar a agricultura", disse Wedekin, em entrevista à Folha. Atualmente, o SNCR consegue atender a 30% da demanda.
Para satisfazer o restante da necessidade de financiamentos, o
produtor é obrigado a recorrer a
tradings (empresas que negociam
produtos agrícolas), a financiamentos bancários com juros de
mercado ou a recursos próprios.
Enquanto no SNCR a maior
parte das taxas de juros dos financiamentos para custeio da produção é de 8,75% ao ano, fora do sistema os juros variam de 20% a
25% ao ano. As elevadas taxas em
70% dos financiamentos disponíveis para os agricultores encarecem o produto brasileiro.
"Os produtores na Europa, na
Austrália e nos EUA não têm problemas de financiamento", afirma Wedekin. Segundo ele, a saída
no Brasil para falta de crédito a
um custo competitivo foi racionar
a distribuição dos recursos existentes no SNCR. "Não é o ideal",
pondera o secretário. Para cada
uma das culturas, a Agricultura
estabeleceu um limite máximo
que um agricultor pode pegar
emprestado no SNCR. A principal
deficiência do sistema é a própria
forma como ele foi desenhado. O
SNCR foi criado em meados dos
anos 60 e sempre teve como principal fonte de recursos os depósitos à vista nos bancos.
A legislação obriga as instituições financeiras a emprestar para
o setor agrícola 25% dos depósitos à vista, a uma taxa de 8,75% ao
ano. "Esses depósitos não evoluíram com a produção", diz.
Entre julho de 2002 e janeiro de
2003, os recursos provenientes
dos depósitos à vista aplicados na
agricultura foram de R$ 9 bilhões.
No mesmo período da atual safra,
esse volume caiu para R$ 7,95 bilhões, 11,67% a menos.
O volume de recursos do SNCR
programados para safra 2003/
2004 é de R$ 32,55 bilhões, um
crescimento de 16,9% em relação
ao gasto com a última colheita.
O aumento de recursos se deve,
sobretudo, a um crescimento nas
linhas de financiamento para investimentos, como o Moderfrota
e Finame Especial (compra de
máquinas agrícolas) e Proazem
(construção de armazenagem),
cujo o total de dinheiro emprestado entre julho de 2003 e janeiro de
2004 cresceu 27% com relação ao
mesmo período do ano passado.
Na linhas para custeio, as que
somam os maiores recursos, o incremento de verba foi de apenas
7% naquele período. Entre julho
de 2003 e janeiro deste ano, a inflação foi 3,3% (IPCA). Ao mesmo tempo, última estimativa de
colheita para atual safra é de 130,8
milhões de toneladas, 6,2% a mais
que na safra anterior. Esse número deverá ser menor, devido ao
impacto das enchentes no Norte e
no Nordeste na agricultura.
"O desafio da agricultura é passar a integrar o mercado de capitais", afirma Wedekin.
Mas, para os planos do ministério darem certo, os juros precisam
cair. Com a atual remuneração
dos títulos públicos, os investidores têm pouco estímulo para diversificar suas aplicações.
Texto Anterior: Medidas devem aumentar liqüidez da CPR Próximo Texto: Frases Índice
|