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COMÉRCIO EXTERIOR
Missão brasileira quer aumentar comércio entre os dois países, atualmente restrito a poucos produtos
Conquista de "baleias" começa pela Rússia
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Uma comitiva de 34 empresas
brasileiras, chefiada pelo ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior), chega dia 18 à Rússia,
no que será a primeira incursão
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva em busca do mercado das
chamadas "baleias".
Essa é a designação, no jargão
dos especialistas em assuntos internacionais, para países de grande porte, como o próprio Brasil,
mas que não fazem parte de blocos comerciais relevantes.
A designação serve para Índia,
África do Sul, Rússia e China, que,
aliás, seria o primeiro alvo do ministro Furlan. Mas a missão brasileira que iria ao país teve que ser
adiada por culpa da Sars, a pneumonia atípica cujo epicentro é
exatamente a China.
A aproximação com as "baleias", originalmente, era de cunho político e sempre esteve nas
formulações teóricas do PT. Mas
a missão chefiada por Furlan é essencialmente prática.
"Comigo não tem retórica. O
presidente cobra sempre resultados, o que me deixa convencido
de que nunca como agora o comércio exterior foi prioridade para um governo brasileiro", festeja
o ministro Furlan, ele próprio um
grande exportador enquanto esteve na iniciativa privada (presidente da Sadia).
A missão inclui, além de entidades de classe e de apoio institucional (como o do Banco do Brasil),
34 empresários de setores pouco
convencionais no comércio com a
Rússia.
Negociações
Entraram na pauta chocolate,
caramelos, sucos de frutas, equipamentos hospitalares, cosméticos, calçados, têxteis, farmoquímicos, revestimento cerâmico,
até software (programas de computadores).
Alguns deles são tradicionais na
pauta de exportação, mas não para a Rússia.
A corrente comercial (exportações mais importações) entre os
dois países foi de US$ 1,7 bilhão
no ano passado, valor extremamente concentrado em apenas
duas linhas de produtos.
Oitenta por cento do que o Brasil exporta é carne e açúcar. E a
Rússia vende adubos/fertilizantes
e níquel e derivados (82% das exportações para o Brasil).
A missão não vai no vazio, para
especular. Foi precedida de uma
equipe avançada, que fez estudos
para identificar os nichos em que,
potencialmente, o Brasil poderia
ingressar.
"Não vamos entrar atirando
com metralhadora, mas com um
rifle de precisão", diz o ministro.
Furlan evita fazer previsões sobre quanto pode aumentar a corrente de comércio a partir da incursão da semana que vem a
Moscou.
Mas especula com o médio prazo: "O tamanho das duas economias permite que cheguemos a
US$ 5 bilhões com grande rapidez", afirma.
O otimismo está amparado pelos números mais recentes: entre
2000 e 2002, o comércio entre Brasil e Rússia saltou de US$ 1 bilhão
para US$ 1,7 bilhão, um crescimento, portanto, de 70%.
Nos quatro primeiros meses
deste ano houve um novo salto,
agora de 40%.
Participação reduzida
Além disso, há o fato de que a
participação russa no mercado
brasileiro e vice-versa é muito reduzida. O Brasil é o destino de
magro 0,4% das exportações da
Rússia, ao passo que a Rússia é
apenas o 12º mercado para as vendas externas brasileiras.
A China, ao contrário, passou
para o segundo lugar, em abril,
embora Furlan considere que se
trata de uma posição circunstancial. De todo modo, os chineses
consolidaram desde o ano passado o quarto lugar entre os mercados para produtos brasileiros, o
que só reforça a importância prática, e não teórica, das "baleias".
Múltis brasileiras
Além de iniciar o processo de
aproximação com as "baleias", a
missão a Moscou tem um segundo objetivo estratégico: explorar a
possibilidade de fixar marcas brasileiras no mercado russo.
Furlan trabalha com o fato de
que a troca, relativamente recente, do comunismo pelo capitalismo significa que, primeiro, não
há marcas da própria Rússia plenamente consolidadas.
Segundo, mesmo as grandes
multinacionais ainda não tiveram
tempo de fixar totalmente seus logotipos no mercado russo. Afinal,
elas pouco entravam durante o
comunismo que só terminou definitivamente há 12 anos, depois
de 70 anos de estatismo total.
Também no caso das marcas,
Furlan está seguindo a orientação
de Lula. "O presidente diz sempre
que um dos grandes desafios do
Brasil é ter 12 ou 15 multinacionais", conta o ministro.
O segundo passo no contato
com as "baleias" se dará no segundo semestre, quando o próprio Lula deverá encabeçar uma
delegação brasileira a países africanos, entre eles a África do Sul.
No final de outubro, será a vez
do Oriente Médio, também, em
princípio, com a presença de Lula.
No Oriente Médio, aliás, a missão brasileira já vai encontrar um
portentoso obstáculo: os Estados
Unidos preparam-se para oferecer um acordo de livre comércio a
diferentes países da região, como
a Arábia Saudita.
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