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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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(DES)INTEGRAÇÃO

Para especialistas, aproximação com Argentina terá benefício limitado e enfraquece posição do país na Alca

Mercosul pode distanciar Brasil dos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A reaproximação entre Brasil e Argentina para o fortalecimento do Mercosul foi considerada nos EUA como um jato de água fria para o sucesso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A estratégia, no entanto, pode levar os dois países a ""lugar nenhum", segundo a opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
Brasil e Argentina têm hoje o mesmo objetivo: exportar e substituir importações, o que torna difícil uma ampliação significativa do comércio entre os dois maiores países do bloco. Além disso, a avaliação é a de que os EUA terão sucesso em atrair outros países latino-americanos para acordos bilaterais ou em blocos menores, como no caso da América Central, a despeito do rumo que Argentina e Brasil venham tomar.
Potencialmente, o movimento americano poderia ""comer pelas bordas" o Brasil e o Mercosul, enfraquecendo sua posição em uma negociação futura.
""Os EUA estão avaliando o que fazer e devem tomar uma decisão logo depois da eleição argentina [no dia 18". Se a Alca não for do interesse do Mercosul, outros vão querer"", afirma Luis Lauredo, ex-embaixador dos EUA na OEA (Organização dos Estados Americanos) e coordenador da Terceira Cúpula das Américas.""A decisão mais difícil em relação à Alca está agora nas mãos do Brasil. Isso vai ser determinante."
""O plano do Brasil em relação à Argentina chega tarde e é um engano. Ele não traz nenhuma possibilidade de incremento comercial", diz Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia.
Fishlow afirma que os EUA estão ""indo rapidamente para cima" da Colômbia e da América Central. Diz ainda que a estratégia brasileira deveria se concentrar em uma negociação mais direta com os norte-americanos em pontos de interesse, como abertura no mercado agrícola.
""O Brasil corre o risco de perder uma oportunidade. Do jeito em que está, a estratégia brasileira com a Argentina é uma não-estratégia", diz Fishlow.
A relação comercial do Brasil com a Argentina hoje é deficitária. No ano passado, o país vizinho teve um saldo comercial positivo de US$ 2,4 bilhões.
John Weeks, ex-chefe da missão do Canadá que fechou o acordo com os EUA e o México em 1993, diz que a estratégia do Mercosul, ""de uma união de pequenos para negociar com os mais poderosos", é ""compreensível". Mas alerta que ela pode atrasar todo o calendário da Alca e acabar deixando o Brasil em uma posição de isolamento. ""Estou pessimista com a Alca no curto prazo."


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