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(DES)INTEGRAÇÃO
Para especialistas, aproximação com Argentina terá benefício limitado e enfraquece posição do país na Alca
Mercosul pode distanciar Brasil dos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A reaproximação entre Brasil e
Argentina para o fortalecimento
do Mercosul foi considerada nos
EUA como um jato de água fria
para o sucesso da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas). A
estratégia, no entanto, pode levar
os dois países a ""lugar nenhum",
segundo a opinião de especialistas
ouvidos pela Folha.
Brasil e Argentina têm hoje o
mesmo objetivo: exportar e substituir importações, o que torna difícil uma ampliação significativa
do comércio entre os dois maiores países do bloco. Além disso, a
avaliação é a de que os EUA terão
sucesso em atrair outros países latino-americanos para acordos bilaterais ou em blocos menores,
como no caso da América Central, a despeito do rumo que Argentina e Brasil venham tomar.
Potencialmente, o movimento
americano poderia ""comer pelas
bordas" o Brasil e o Mercosul, enfraquecendo sua posição em uma
negociação futura.
""Os EUA estão avaliando o que
fazer e devem tomar uma decisão
logo depois da eleição argentina
[no dia 18". Se a Alca não for do
interesse do Mercosul, outros vão
querer"", afirma Luis Lauredo, ex-embaixador dos EUA na OEA
(Organização dos Estados Americanos) e coordenador da Terceira
Cúpula das Américas.""A decisão
mais difícil em relação à Alca está
agora nas mãos do Brasil. Isso vai
ser determinante."
""O plano do Brasil em relação à
Argentina chega tarde e é um engano. Ele não traz nenhuma possibilidade de incremento comercial", diz Albert Fishlow, diretor
do Centro de Estudos Brasileiros
da Universidade Columbia.
Fishlow afirma que os EUA estão ""indo rapidamente para cima" da Colômbia e da América
Central. Diz ainda que a estratégia
brasileira deveria se concentrar
em uma negociação mais direta
com os norte-americanos em
pontos de interesse, como abertura no mercado agrícola.
""O Brasil corre o risco de perder
uma oportunidade. Do jeito em
que está, a estratégia brasileira
com a Argentina é uma não-estratégia", diz Fishlow.
A relação comercial do Brasil
com a Argentina hoje é deficitária.
No ano passado, o país vizinho teve um saldo comercial positivo de
US$ 2,4 bilhões.
John Weeks, ex-chefe da missão
do Canadá que fechou o acordo
com os EUA e o México em 1993,
diz que a estratégia do Mercosul,
""de uma união de pequenos para
negociar com os mais poderosos", é ""compreensível". Mas
alerta que ela pode atrasar todo o
calendário da Alca e acabar deixando o Brasil em uma posição de
isolamento. ""Estou pessimista
com a Alca no curto prazo."
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