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DOIS MUNDOS
Taxa de investimento no país caiu de 20,5% para 18% desde 95; empresas ainda hesitam antes de tirar projetos do papel
"Estamos condenados a investir", diz Fiesp
DA REPORTAGEM LOCAL
"Estamos condenados ao investimento produtivo." A frase, do
presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Horacio Lafer Piva, ilustra
o sentimento do empresariado
quando o assunto é o retorno do
capital no Brasil. O custo elevado
do dinheiro e a crescente carga
tributária fazem com que investir
em produção ou em serviços no
país seja, em grande parte, mera
questão de sobrevivência.
Não é à toa que a taxa de investimento caiu ao longo dos últimos
anos no país: de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2002, último dado anual disponível, a formação bruta de capital fixo das
empresas não-financeiras representou 23,63% do valor adicionado (tudo o que foi produzido menos despesas). Em 1995, essa taxa
havia sido 27,18 %.
A taxa geral de investimento
(que inclui também outros setores da economia) caiu de 20,54%
do PIB (Produto Interno Bruto)
em 1995 para 18% em 2003.
"A aprovação de um projeto novo é difícil. Precisa ser absolutamente lucrativo para sair do papel", afirma o diretor-presidente
da Votorantim Celulose e Papel,
José Luciano Penido.
É o mesmo tom adotado por
Murillo Mendes Júnior, presidente da construtora Mendes Júnior.
"Há muito tempo somos uma
empresa passando por crises, e tivemos de nos adaptar à realidade.
Não se pode formular nenhum
projeto que acarrete endividamento para a empresa. Os passos
têm que ser dados na segurança",
afirma. A empresa é uma das quatro de capital aberto que, em 2003,
apresentaram receita financeira
superior à operacional. No caso
da Mendes Júnior, diz o executivo, isso é o resultado de juros recebidos com dívidas de terceiros
com a companhia.
Para algumas empresas, no entanto, a rentabilidade com aplicações financeiras acaba representando uma saída para escapar de
resultados operacionais baixos.
"O mercado financeiro é absolutamente atrativo, e, por isso,
muita gente se rende a ele, inclusive algumas empresas. Mas, a médio e a longo prazo, não há como
fugir de investir, senão a empresa
deixa de existir como empresa,
não sobrevive", afirma Piva.
Os juros elevados fizeram com
que as grandes empresas implementassem sofisticados departamentos financeiros para administrar seus caixas. O resultado disso
é que, nos últimos anos, a maior
parte delas faz com que seus ganhos com aplicações financeiras
superem suas despesas com juros.
Isso não quer dizer que essas
despesas não pesem nos caixas
das companhias. Levantamento
feito pela ABM Consulting a pedido da Folha revela que a relação
entre gastos financeiros e receitas
líquidas de dez grandes empresas
varia de 5% a 55,3 %.
(MAELI PRADO E ÉRICA FRAGA)
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