|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Produtividade maior explica alta do PIB, diz Werlang
Para ex-BC, país "não é ilha" e vai sentir queda nas commodities
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o ex-diretor do BC Sérgio Werlang, hoje vice-presidente-executivo do Itaú, o país
teve ganhos de produtividade e
de eficiência que explicam um
crescimento mais vigoroso da
economia, sem criar pressão
demasiada na inflação. Apesar
disso, o economista acredita
que o BC deve manter o ritmo
maior de aperto nos juros por
algum tempo (a entrevista foi
feita antes da decisão de ontem
do Copom, que, dividido, elevou os juros em 0,75 ponto).
Werlang diz que o "país não é
uma ilha" e que deverá sentir a
queda no preço das commodities ainda neste ano. Mas o dólar próximo a R$ 1,80 deve mitigar o efeito ruim da queda nos
preços das exportações.
FOLHA - O que explica esse crescimento do PIB?
SÉRGIO WERLANG - No caso do
Brasil, estamos vendo uma mudança na tendência de crescimento do PIB de longo prazo. A
economia está ficando mais eficiente por uma série de motivos. Um é a estabilidade, em
que as pessoas se sentem mais
confortáveis para ter dívida no
longo prazo. O segundo foi a Lei
de Falências, que permitiu aumentar bastante -e de forma
segura- o volume de empréstimo para pessoas jurídicas, e isso tem impacto grande de aumento de produtividade.
FOLHA - Os investimentos estão se
transformando em oferta a tempo
de evitar uma pressão inflacionária?
WERLANG - Como a utilização
da capacidade instalada ainda
está elevada, diria que o investimento está se transformando
em produção. A capacidade instalada está em nível elevado,
mas não está subindo com a velocidade de antes. Os investimentos estão respondendo
bem em termos de formação de
capacidade instalada.
FOLHA - Esse crescimento pressiona o BC a ser mais duro com os juros?
WERLANG - Esse número de
6,1% [do PIB] é mais um sinal
de que o BC, provavelmente,
vai manter o ritmo de [alta de]
0,75 ponto por algum tempo.
FOLHA - Por que a política monetária ainda não teve efeito?
WERLANG - A política monetária sempre atua com uma certa
defasagem. Se, por um lado, temos ganhos de produtividade
grandes, que mexem com o
produto potencial, é possível
que tenha esses efeitos. [O resultado do PIB] Indica que é
necessário manter essa taxa de
juros elevada, aumentá-la mais
e mantê-la alta por um tempo
maior do que se imaginava.
FOLHA - O resultado do PIB mostra
que o Brasil é uma ilha, que não se
contamina pela crise externa?
WERLANG - O preço das commodities cai em relação ao pico,
mas, ante a média do ano passado, a gente não vai ver uma queda importante de preços -se é
que vai haver uma queda. Pode
cair uns 10%. O Brasil é uma
ilha? Não. Se a China passar a
crescer 5% ao ano -algo impensável-, vai ter um impacto.
Mas, tendo em vista a demanda
mundial, os produtos do Brasil
têm grande demanda.
FOLHA - Mas a desaceleração não
deveria já ter aparecido no PIB?
WERLANG - Alguma acomodação vai ter de surgir por causa
dos preços das commodities e
da própria quantidade [exportada]. A única observação é que
o câmbio pode dar uma contribuição. Se se mantiver próximo
a R$ 1,80, certamente vai compensar a perda de valor dos
produtos exportados.
FOLHA - Por que a Bolsa não reage?
WERLANG - As Bolsas refletem a
visão para a frente. Não vamos
esquecer que os estrangeiros
são importantes na nossa Bolsa
e que têm dificuldades em seus
países. A meu ver, o preço/lucro das empresas brasileiras
hoje está mais atraente em relação a outros países, principalmente os desenvolvidos. Mas
não é garantia de reversão.
Texto Anterior: Desaceleração da inflação perde força neste mês Próximo Texto: Vaivém das commodities Índice
|