São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Produtividade maior explica alta do PIB, diz Werlang

Para ex-BC, país "não é ilha" e vai sentir queda nas commodities

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o ex-diretor do BC Sérgio Werlang, hoje vice-presidente-executivo do Itaú, o país teve ganhos de produtividade e de eficiência que explicam um crescimento mais vigoroso da economia, sem criar pressão demasiada na inflação. Apesar disso, o economista acredita que o BC deve manter o ritmo maior de aperto nos juros por algum tempo (a entrevista foi feita antes da decisão de ontem do Copom, que, dividido, elevou os juros em 0,75 ponto). Werlang diz que o "país não é uma ilha" e que deverá sentir a queda no preço das commodities ainda neste ano. Mas o dólar próximo a R$ 1,80 deve mitigar o efeito ruim da queda nos preços das exportações.

 

FOLHA - O que explica esse crescimento do PIB?
SÉRGIO WERLANG
- No caso do Brasil, estamos vendo uma mudança na tendência de crescimento do PIB de longo prazo. A economia está ficando mais eficiente por uma série de motivos. Um é a estabilidade, em que as pessoas se sentem mais confortáveis para ter dívida no longo prazo. O segundo foi a Lei de Falências, que permitiu aumentar bastante -e de forma segura- o volume de empréstimo para pessoas jurídicas, e isso tem impacto grande de aumento de produtividade.

FOLHA - Os investimentos estão se transformando em oferta a tempo de evitar uma pressão inflacionária?
WERLANG
- Como a utilização da capacidade instalada ainda está elevada, diria que o investimento está se transformando em produção. A capacidade instalada está em nível elevado, mas não está subindo com a velocidade de antes. Os investimentos estão respondendo bem em termos de formação de capacidade instalada.

FOLHA - Esse crescimento pressiona o BC a ser mais duro com os juros?
WERLANG
- Esse número de 6,1% [do PIB] é mais um sinal de que o BC, provavelmente, vai manter o ritmo de [alta de] 0,75 ponto por algum tempo.

FOLHA - Por que a política monetária ainda não teve efeito?
WERLANG
- A política monetária sempre atua com uma certa defasagem. Se, por um lado, temos ganhos de produtividade grandes, que mexem com o produto potencial, é possível que tenha esses efeitos. [O resultado do PIB] Indica que é necessário manter essa taxa de juros elevada, aumentá-la mais e mantê-la alta por um tempo maior do que se imaginava.

FOLHA - O resultado do PIB mostra que o Brasil é uma ilha, que não se contamina pela crise externa?
WERLANG
- O preço das commodities cai em relação ao pico, mas, ante a média do ano passado, a gente não vai ver uma queda importante de preços -se é que vai haver uma queda. Pode cair uns 10%. O Brasil é uma ilha? Não. Se a China passar a crescer 5% ao ano -algo impensável-, vai ter um impacto.
Mas, tendo em vista a demanda mundial, os produtos do Brasil têm grande demanda.

FOLHA - Mas a desaceleração não deveria já ter aparecido no PIB?
WERLANG
- Alguma acomodação vai ter de surgir por causa dos preços das commodities e da própria quantidade [exportada]. A única observação é que o câmbio pode dar uma contribuição. Se se mantiver próximo a R$ 1,80, certamente vai compensar a perda de valor dos produtos exportados.

FOLHA - Por que a Bolsa não reage?
WERLANG
- As Bolsas refletem a visão para a frente. Não vamos esquecer que os estrangeiros são importantes na nossa Bolsa e que têm dificuldades em seus países. A meu ver, o preço/lucro das empresas brasileiras hoje está mais atraente em relação a outros países, principalmente os desenvolvidos. Mas não é garantia de reversão.


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