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RETOMADA
Indústria de carros, televisores, geladeiras, roupas e calçados não atingiu picos de vendas alcançados no Plano Real
Brasileiro ainda consome menos que em 96
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira voltou a
crescer, como revelam diversos
indicadores -de janeiro a julho,
a produção industrial subiu 7,8%
sobre igual período do ano passado. Ainda assim, as fábricas estão
vendendo menos carros, geladeiras, TVs, roupas, sapatos e móveis
do que em dois dos melhores
anos do país: 2000 e/ou 1996.
A queda do poder aquisitivo do
brasileiro a partir de 97 é o principal entrave para a recuperação
das vendas. A melhora gradual da
renda do trabalhador, desde maio
deste ano, deu fôlego ao setor de
bens de consumo, mas ainda não
foi suficiente para levar as fábricas
a superar os resultados do passado. A retomada se deu mais pelo
aumento das exportações do que
pelo consumo interno.
De 1996 para 2004, a população
brasileira cresceu 15,6%, segundo
o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Só que a
renda real do trabalhador encolheu cerca de 12% no período. Resultado: as vendas de bens duráveis (carros e eletrodomésticos) e
semiduráveis (roupas e calçados)
não acompanharam nem de longe a expansão demográfica.
As vendas de produtos eletroeletrônicos ainda são 28% menores do que as de 96 e 5,7% menores do que as de 2000, relata a Eletros, associação dos fabricantes.
"Vendemos 46 milhões de unidades em 1996 e 35 milhões em 2000.
Neste ano, devemos vender 33
milhões de unidades, que é 10%
mais do que em 2003", diz Paulo
Saab, presidente da Eletros.
Dois dos produtos mais importantes da indústria eletroeletrônica -televisores e geladeiras-
são menos procurados hoje do
que em 1996. No primeiro trimestre deste ano, as vendas de TVs foram 13,8% menores do que as de
igual período de 96. No caso dos
refrigeradores, 5,58% menores.
As montadoras de carros também já viveram dias melhores. De
janeiro a agosto, o mercado interno absorveu 922,1 mil veículos,
13,75% menos do que em igual
período de 96 e 28,6% menos que
os oito meses iniciais de 97, melhor ano do setor, segundo a Anfavea, associação dos fabricantes.
A indústria têxtil é outra que
não acompanhou o ritmo de crescimento da população. No primeiro semestre de 2004, a produção média dos fabricantes de produtos têxteis foi 8,2% menor do
que a de igual período de 1996 e
4% menor do que a de 2000, segundo cálculo da MS Consult
com base em dados do IBGE.
"Se boa parte da população não
tem dinheiro nem para comer,
como vai comprar roupas?", pergunta Roberto Chadad, presidente da Abravest, associação que
reúne a indústria de confecção.
A renda média real do trabalhador brasileiro é 10% menor do
que a de 2000 e 12,4% menor do
que a de 1996, segundo cálculo de
Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores.
"As vendas de vestuário reagiram. Cresceram 5% no primeiro
semestre de 2004 sobre igual período de 2003. Mas as confecções
produzem menos do que em 2000
e do que em 1996", diz Chadad.
Um sinal de que o consumidor
continua sem fôlego para gastar
com produtos básicos é que a produção do setor de bens semiduráveis (roupas) e não-duráveis (alimentos) caiu 1% em julho sobre
junho, segundo o IBGE.
Os supermercados confirmam
que as vendas não deslancharam.
"O consumo reagiu neste ano,
mas as vendas das empresas ainda não alcançaram os níveis de 95,
o melhor ano para o setor", afirma João Carlos de Oliveira, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
De quatro setores industriais
analisados pelo Ibre (Instituto
Brasileiro de Economia) da FGV,
três, em julho, utilizaram menos a
capacidade instalada na comparação com 1996 e/ou 2000. Há oito
anos, o setor de bens de consumo
(duráveis, semiduráveis e não-duráveis) ocupava 84% dos equipamentos das fábricas. Em 2000,
esse percentual foi de 77,1%. E,
neste ano, de 80,4%.
"A indústria de bens de consumo está produzindo menos hoje
do que em 1996 porque foi uma
das mais beneficiadas com o Plano Real, que possibilitou uma melhora do poder aquisitivo com a
queda da inflação", afirma Jorge
Braga, coordenador técnico da
Sondagem Industrial da FGV.
A diminuição nas vendas de
bens duráveis também é explicada pelo fato de esses produtos terem vida útil superior a oito anos.
"Ninguém troca de geladeira todos os anos", diz Faria, da LCA.
A retração no consumo de bens
duráveis também é conseqüência
dos aumentos dos gastos com
saúde, educação e tarifas administradas, como energia elétrica.
Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o
custo de energia elétrica subiu
65% de 2001 a 2004; da linha de telefone celular, 39,7% e dos serviços de TV a cabo, 43%. A inflação
no período foi de 31,6%.
"Estamos longe de recordes históricos de vendas. Houve ainda
mudança nos hábitos de consumo. Novos produtos passaram a
ocupar espaço de linhas tradicionais", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
"Estamos longe de um conto de
fadas. Vivemos um sopro de crescimento. Estamos em fase de repor a capacidade ociosa das fábricas para voltar a patamares de 95 e
96", diz Alberto Serrentino, sócio-diretor da Gouvêa de Souza.
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