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RETOMADA
Para economistas, trabalhadores recuperam renda no ano que vem
Recordes de vendas devem ser alcançados só em 2005
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria de bens de consumo deve voltar a bater recordes de
vendas, como aconteceu no período pós-Real, assim que o trabalhador recuperar o poder aquisitivo perdido nos últimos anos. Na
estimativa de economistas, isso
deve ocorrer em 2005.
"A massa salarial deve se recuperar a partir de meados de 2005",
diz Francisco Pessoa Faria, economista da LCA. "Se persistir esse
quadro de otimismo, a partir do
próximo ano poderemos atingir
picos de produção como os que
ocorreram no início do Plano
Real ", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MS Consult.
José Marcio Camargo, professor
da PUC do Rio, acredita que a
economia vai chegar a níveis de
1996 em um prazo de, no máximo, dois a três trimestres.
"O Brasil está menos vulnerável,
os investimentos estão voltando e
o mercado interno vive um momento de dinamismo. Os salários
estão se recuperando, e o emprego voltou a crescer", afirma.
A indústria de alimentos já produz mais do que em 2000 e do que
em 1996, principalmente devido
ao aumento das exportações.
De janeiro a julho, a produção
de alimentos subiu 12% sobre
2000 e 24% sobre 1996. As vendas
reais aumentaram 17% e 32%,
respectivamente, no período, informa a Abia, associação dos fabricantes de alimentos.
As vendas de iogurte, um dos
produtos símbolo do Real, cresceram cerca de 36% nos últimos dez
anos, segundo dados da Nielsen.
"O consumo médio por habitante
passou de 2,4 quilos em 1996 para
4 quilos neste ano. Nossa previsão
é vender neste ano 3,5% mais do
que no ano passado", diz Alberto
Bendicho, gerente de serviços de
marketing da Danone.
O Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia) da FGV confirma o
aumento nas vendas de alimentos. Em julho deste ano, a indústria alimentícia trabalhou com
88,5% da sua capacidade. Em julho de 2000, operava com 81,8% e,
em julho de 96, com 79%.
O crescimento da produção de
alimentos neste ano está fortemente atrelado às exportações.
De janeiro a julho, o setor apresentou expansão de 4,8% sobre
igual período de 2003, informa a
Abia. "As exportações contribuíram com aproximadamente 25%
a 30% desse percentual de crescimento", diz Ribeiro.
A expansão das vendas externas
também está puxando a produção das indústrias de celulose, papel e papelão e metalúrgicas. Esses setores utilizavam, em julho,
mais de 90% da sua capacidade
produtiva, segundo o Ibre.
"A demanda interna começou a
se recuperar com a melhora da
renda do trabalhador a partir de
maio", afirma Jorge Ferreira Braga, coordenador técnico da Sondagem Industrial da FGV.
Isso pode ser notado no ritmo
de produção da indústria de material elétrico, segundo Braga. Em
abril, essa indústria operava com
75,3 % da sua capacidade. Em julho, esse percentual subiu para
79,1% e está mais próximo dos
80% verificados em julho de 1996.
"Houve mudanças estruturais
relevantes na indústria nos últimos anos. Apesar de alguns setores estarem produzindo menos
do que no passado, outros estão
produzindo mais. A economia
brasileira sofreu forte impacto da
tecnologia da comunicação e da
informação", diz Julio Gomes de
Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Segundo o IBGE, a produção da
indústria em geral de janeiro a julho deste ano já é maior do que a
de igual período de 96 e de 2000. A
produção industrial subiu 21,2%
sobre 1996 e 11,6% sobre 2000. O
setor de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis é o único
que apresenta queda na produção
no período -de 0,9% sobre 1996.
Sobre 2000, cresce 0,7%.
A ameaça do governo de elevar
os juros, caso inflação suba, e a
falta de investimentos para resolver os gargalos da produção podem, na avaliação de economistas
e empresários, atrapalhar o crescimento da economia.
"O país ainda está se recuperando. A economia reage impulsionada pelo agronegócio e pelo crédito disponível. A possível elevação de juros pode atrapalhar o
bom clima deste ano", diz Alberto
Serrentino, consultor de varejo.
(FÁTIMA FERNANDES E CLAUDIA ROLLI)
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