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LAVOURA MODERNA
Uso de máquina no campo gera onda de desempregados em fazendas de monocultura no Centro-Oeste
Mecanização engorda fileira de sem-terra
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ACREÚNA (GO)
A modernização do agronegócio, principalmente no Centro-Oeste, está gerando uma onda de
desempregados nas fazendas de
monocultura que se juntam em
acampamentos de sem-terra.
Casos já foram localizados em
Goiás e em Mato Grosso pelo
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), pela
CPT (Comissão Pastoral da Terra) e por entidades não ligadas à
reivindicação pela reforma agrária, como a Secretaria da Agricultura do Estado de Goiás e a UDR
(União Democrática Ruralista).
O coordenador nacional do
MST João Pedro Stedile admite
que a dispensa dos agricultores
acaba facilitando o trabalho de
convencimento do movimento.
"O MST não precisa mais fazer
trabalho de base, o agronegócio
está fazendo por nós."
Neste ano, segundo Ernani Lopes Sobrinho, gerente da Agência
Rural de Goiás, órgão da Secretaria da Agricultura, 3.905 famílias
deixaram empregos em fazendas
monocultoras e foram para acampamentos, aumentando de 6.560
para 10.465 as famílias acampadas
no Estado, desde o começo dos
trabalhos da atual safra, em abril.
O aumento é de 59,53%.
"Esse aumento considerável na
quantidade de famílias acampadas é resultado do alto índice de
mecanização das lavouras de cana, soja e algodão", afirmou o superintendente substituto do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Goiás,
Antônio Pereira de Almeida.
O pesquisador Philip Fearnside,
da Coordenação de Pesquisas em
Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), diz que algumas culturas, como a soja, o algodão e a cana, que
têm alto grau de mecanização, geram, em média, apenas um emprego para cada 200 hectares.
Os trabalhadores que faziam a
colheita de algodão manualmente
não tinham vínculos empregatícios com os produtores. Apesar
de morar em áreas das fazendas,
eles recebiam por empreitada,
fosse no preparo dos campos, durante o plantio ou, mais comumente, na época da colheita.
Quando essas pessoas foram
dispensadas, não receberam nenhum tipo de rescisão ou seguro.
Atualmente, alguns agricultores
que estão nos acampamentos
chegam a trabalhar na colheita de
tomates, para alguns fazendeiros
da região. Para cada 15 quilos colhidos, ganham R$ 3. Mas o volume de trabalho não é suficiente
para garantir ocupação a todos.
O presidente da UDR, Luiz Antonio Nabhan Garcia, diz que,
apesar das dispensas de trabalhadores rurais estar ocorrendo, o
agronegócio como um todo é gerador de emprego, pois as atividades que desaparecem no campo
ressurgem nas cidades em funções ligadas ao processamento da
produção. "A cadeia completa do
agronegócio está gerando emprego no Brasil. Gera emprego justamente onde existe desemprego:
nos centros urbanos."
"Mas a situação atual é muito
delicada. Progressivamente, vai
acabar a mão-de-obra no campo", pondera Nabhan Garcia.
O presidente da UDR também
aponta o o rigor do Ministério do
Trabalho pela opção dos produtores pela mecanização.
"Nas fronteiras agrícolas, para
fugir das acusações de trabalho
escravo, os produtores estão partindo para a mecanização. É muito caro manter toda uma estrutura como a cobrada pelo Ministério do Trabalho para pessoas que
trabalham apenas por algumas
semanas durante o ano. Uma acusação de uso do trabalho escravo
desapropria as terras. Para a limpeza do campo, um trator com
um tratorista faz o trabalho de 50
homens em um dia. Você vai dar
emprego e correr o risco de ser
desapropriado? A própria radicalização do ministério causa o desemprego", afirmou.
O Ministério do Trabalho, por
meio da assessoria de imprensa,
declarou que, por não ter dados
recentes sobre o desemprego no
campo -o último censo rural é
de 1996-, não iria comentar o assunto.
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