São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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YOSHIAKI NAKANO

Cortar gastos ou controlar o crédito


É duvidoso que uma ação gradual do BC, de elevar a taxa Selic, consiga reverter a atual aceleração da inflação


A INFLAÇÃO vem se acelerando e deverá ultrapassar o limite superior da meta fixada pelo Banco Central. A aceleração se deve a pressões dos preços de alimentos, petróleo e seus derivados e metais, causadas pelo forte crescimento das economias emergentes e pela redução dos estoques nos últimos cinco anos. É, portanto, um fenômeno sincronizado e global derivado da integração das economias nacionais e, por isso, requer uma ação coordenada dos BCs de todos os países. Cada país deverá evitar que essa inflação contamine os demais preços com repasses generalizados, evitando a temível espiral preço-salário.
Nesse quadro, é duvidoso que uma ação gradual do BC, de elevar a taxa Selic, consiga reverter a atual aceleração da inflação. Sabidamente, o impacto da elevação da Selic sobre a inflação vem da apreciação da taxa de câmbio. Esse canal dá sinais de esgotamento. O risco da atual política é que a inflação, que vem do exterior, persista e a economia entre em estagnação. Será preciso acionar outros instrumentos mais eficazes de política para evitar que a inflação importada se generalize.
Um instrumento óbvio é a política fiscal com redução dos gastos correntes do governo. Estamos vivendo um pequeno boom econômico e, conseqüentemente, um boom de arrecadação tributária, trazido pelo quadro internacional favorável, que deverá ser transitório. Nesse quadro, o lógico seria o governo ter superávit nominal transitório e até um Fundo Soberano de Investimento.
Isso conteria a expansão excessiva da demanda interna e das importações, ajudando a equilibrar as transações correntes. Ainda, a contenção relativa dos gastos correntes aumentaria a taxa de poupança e abriria espaço para a elevação da taxa de investimento, colocando o Brasil numa trajetória prolongada de crescimento. Mas esse tipo de política de comprometimento com a construção do futuro não faz parte do ideário deste governo. Na melhor das hipóteses, está aumentando a carga tributária e o superávit primário para acalmar o mercado financeiro.
Afastado o instrumento ótimo -o ajuste fiscal-, resta utilizar outros instrumentos de política monetária.
Nos últimos anos, as fortes elevações dos juros eram respostas a paradas súbitas no fluxo de capitais e decorrentes da aceleração da inflação, desde a implantação do câmbio flexível. Agora, trata-se de conter as expectativas e a expansão excessiva da demanda interna em alguns setores, particularmente impulsionados pela forte expansão de crédito. Portanto deveríamos conter a expansão do crédito e, para isso, utilizar o tradicional instrumento dos bancos centrais: elevar o depósito compulsório dos bancos, pelo menos na margem, limitando a sua capacidade de ampliar o volume de crédito.
Mesmo com a alta dos juros, a expansão monetária continua em 20% ao ano e o volume de crédito vem se acelerando, chegando nos últimos 12 meses a 36,1%. Em vez de o BC propor a alta da TJLP -que incide sobre investimentos, que ampliam a capacidade produtiva e, portanto, contêm a inflação-, deveria refrear a expansão excessiva dos agregados monetários e de crédito, pois, para isso, possui instrumentos convencionais e de comprovada eficácia.


YOSHIAKI NAKANO, 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).



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