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País preenche critérios para clube de elite
Brasil é uma democracia e adota economia de mercado, os dois itens principais que dão passaporte para integrar o G8
Presidente francês defende inclusão da China e da Índia no grupo que se reúne para "solucionar os grandes assuntos do mundo"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Lula queixa-se
da maneira como são governadas as Olimpíadas e, por extensão, do colégio eleitoral que escolhe a cidade-sede.
"A Itália sozinha tem cinco
votos; a América do Sul inteira,
apenas quatro", disse Lula na
quarta-feira, em Hokkaido,
após participar das cúpulas do
G5 (Brasil, China, Índia, África
do Sul e México) e do encontro
deste com o G8, o clubão que
reúne as sete grandes economias do mundo mais a Rússia.
A crítica poderia ser estendida, até com mais razão, à governança global, dominada por
apenas oito países, justamente
o G8 (Estados Unidos, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Rússia),
embora haja 192 países representados nas Nações Unidas.
Lula não se queixou do G8
nas suas reuniões no Japão
com os líderes desses países
(quase todos eles mantiveram
encontros bilaterais com o governante brasileiro). Talvez tenha perdido a penúltima chance de fazê-lo. A última será,
eventualmente, em 2009, na
próxima cúpula do G8 (na Sardenha, Itália), quando o G5
continuará na "segunda divisão", chamado apenas no último dia para discutir com o G8.
Acontece que essa forma de
diretoria do planeta, como o G8
chegou a ser chamado em outros tempos, esgotou seu prazo
de validade até na opinião de
governantes que a integram.
"Não é razoável continuar
reunindo apenas os oito para
solucionar os grandes assuntos
do mundo, esquecendo a China, com 1,3 bilhão de pessoas, e
sem convidar a Índia, com 1,1
bilhão de habitantes, ou sem
ter nenhum país árabe, africano ou da América Latina", disse, por exemplo, o presidente
francês Nicolas Sarkozy.
Reforça editorial de quinta-feira do jornal britânico "Financial Times":
"A noção de que um clube de
oito nações poderia conduzir o
mundo -jamais plausível- está agora tão desacreditada que
põe em questão o valor de todas
as suas declarações".
Uma maneira longa de dizer
que, no formato atual, o G8 tornou-se irrelevante. Se for ampliado, tese que certamente
ressurgirá no percurso entre as
cúpulas do Japão e da Itália, ficará claro que, ao contrário do
que acontece na escolha da cidade olímpica, em que pesa o
número de medalhas que cada
país-candidato obteve, o Brasil
atingiu pontos suficientes, no
jogo global de poder, para ser
promovido à primeira divisão.
Dois pontos
A rigor, são dois os critérios
para fazer parte do G8: ser uma
democracia e adotar a economia de mercado. O Brasil já tem
23 anos de uma democracia sólida. E, a partir do momento em
que controlou a inflação, tornou-se suficientemente sério
para ser respeitado. Mais ainda
depois que um presidente com
origem na esquerda, como Lula, adotou uma linha francamente pró-mercado, um critério não explicitado, mas muito
considerado pelos países do G8.
O problema para o Brasil não
é o país em si, mas um de seus
companheiros de viagem, a
China. Não está na agenda de
ninguém transformar o G8 em
G9, com a inclusão apenas do
Brasil. Os muitos números que
aparecem para acompanhar o
G, na mídia e na academia, incluem sempre a China.
Há até quem sugira o extremo de um G2, composto por
EUA e China. É o caso de Fred
Bergsten, economista especializado em comércio internacional que, em artigo para a revista
"Foreign Affairs", diz que essa
parceria seria "muito mais eficiente", além de o novo papel
de relevância ajudar "Pequim a
atuar mais responsavelmente".
Não é um palpite isolado. Na
sexta-feira, Howard French, o
colunista de assuntos chineses
do jornal "The International
Herald Tribune", escreveu que
"há uma crescente sensação de
que os Estados Unidos encontraram o seu Nadal". É uma
alusão ao fato de que o tenista
espanhol Rafael Nadal bateu,
na final do mitológico torneio
de Wimbledon, o suíço Roger
Federer, até então tido como
praticamente invencível.
A idéia do G2, com uma China mais forte que os Estados
Unidos, pode ser uma sensação
acadêmica, mas não passa no
teste da realidade.
Primeiro, porque o colossal
crescimento da China nos últimos 20 anos não foi suficiente
para chegar perto dos EUA em
renda per capita, que, afinal, é o
que de fato conta. Cada americana tem US$ 46.820 de renda,
16 vezes mais que os magros
US$ 2.798 dos chineses. Aliás,
os chineses perdem longe para
todos os países do G8 e até para
o Brasil (US$ 7.557), conforme
as previsões para 2008 do Fundo Monetário Internacional.
Segundo, porque, no Japão,
quando se falou em ampliar o
G8, os japoneses lembraram
que o cimento dele era dado
por "valores". Maneira indireta
de se referir à democracia, que
a China não pratica. A Rússia
tampouco é campeã de liberdades públicas, mas o G8 acha que
o teor da democracia russa é
suficiente, apesar de ser apenas
a décima economia do planeta,
atrás de seus pares no G8, da
China e da Espanha.
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